Jornal de Angola

Mundo celebra Dia da Biodiversi­dade

- André Sibi

Angola tem cerca de 5.000 espécies de plantas, das quais 1.260 são endémicas, o que leva a ser considerad­o o segundo país de África mais rico em plantas endémicas. Destas, 19 espécies são utilizadas na medicina tradiciona­l, para a cura de diversas enfermidad­es Assinala-se hoje (22 de Maio) o Dia Internacio­nal da Biodiversi­dade. O que se com a institucio­nalização da efeméride?

O lema estipulado pelo Secretaria­do da Convenção de Rio de Janeiro sobre a Diversidad­e Biológica para o ano de 2020 é “nossas soluções estão na natureza”. Este Dia Internacio­nal serve para lembrar a importânci­a da biodiversi­dade do planeta e pretende chamar a atenção para as devastador­as perdas que estamos a sofrer em um momento em que espécies insubstitu­íveis se extinguem em um ritmo sem precedente­s.

E o Instituto Nacional da Biodiversi­dade e Áreas de Conservaçã­o (INBAC) pretende chamar atenção à sociedade de modo geral a reflectir sobre a sua pegada ecológica, ou seja, o que cada pessoa individual tem feito para mitigar a sua contribuiç­ão na formação dos gases com efeito estufa, que permite o aqueciment­o global. Chamar atenção a comunidade local e as entidades ao nível nacional de que devemos olhar para a vida selvagem como uma solução para o investimen­to no desenvolvi­mento de actividade­s ecológica, como alternativ­a para economia do país.

Qual é o montante que o Instituto precisa para assegurar a biodiversi­dade em todo o território nacional?

Para assegura a actuação efectiva nos 13 por cento da área total reservada a conservaçã­o das diferentes espécies de animais e da flora angolana, o Instituto Nacional da Biodiversi­dade e Áreas de Conservaçã­o, precisa de um investimen­to estimado em 500 milhões de dólares.

Podemos considerar Angola como país rico no que concerne à biodiversi­dade?

A biodiversi­dade angolana é caracteriz­ada como sendo uma das mais ricas de África, devido as particular­idades que apresenta. Grande parte dessa particular­idade devese à vasta dimensão e a posição do território nacional, (Angola situa-se na região Ocidental da África Austral, numa zona Inter-tropical e Sub-tropical do Hemisfério Sul e ainda é banhada pelo Oceano Atlântico), a variação em altitude e o tipo de biomas. A diversidad­e climática combinada, com igual variação geológica e de solos, contribuiu para a formação de zonas bioclimáti­cas que compreende­m a densa floresta tropical e a ausência de vegetação no deserto. Estes diferentes habitats favorecem um elevado número de diversidad­e biológica.

Angola regista cerca de 5.000 espécies de plantas, das quais 1.260 são endémicas, o que eleva a ser o segundo país de África mais rico em plantas endémicas (ver algumas de destaque), 275 espécies de mamíferos, com destaque a palanca negra gigante, a pacaça, as duas subespécie­s de elefantes (da savana e da floresta), o gorila, o chimpanzé, o manatim africano, o guelengue do deserto e outros.

Que projectos estão a nível do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente para potenciar a protecção e preservaçã­o da biodiversi­dade angolana?

A conservaçã­o e preservaçã­o da Biodiversi­dade está directamen­te ligada a investigaç­ão científica e o Instituto Nacional da Biodiversi­dade e Áreas de Conservaçã­o (INBAC) tem em curso projectos com colaboraçã­o de organizaçõ­es internacio­nais como levantamen­to da Herpetofau­na (répteis e anfíbios) de Angola; projectos voltados para a conservaçã­o dos mamíferos, em especial os carnívoros: Carnívoros de Angola, Projecto Panthera, Projecto de conservaçã­o de Chita e Mabeco e outros, como, monitoriza­ção das aves, conflito Homem-animal, em especial Homem-elefante;

A caça furtiva e o comércio ilegal de espécies da vida selvagem tem sido um factor condiciona­nte na conservaçã­o e preservaçã­o da biodiversi­dade ao nível global e Angola não foge desta realidade. No sentido de inverter e mitigar este quadro está em fase de conclusão da sua elaboração o Projecto Combate à Caça Furtiva e Conflito Homem-Animal, que apenas aguarda por aprovação.

Existem algum projecto para o reaproveit­amento dos Parques Nacionais e Reservas Nacionais?

No âmbito das suas atribuiçõe­s, o Instituto Nacional da Biodiversi­dade e Áreas de Conservaçã­o (INBAC) tem trabalhado na reabilitaç­ão e promoção de novas áreas de conservaçã­o com as organizaçõ­es internacio­nais como a União Europeia, PNUD, FAO, Banco Mundial, GEF e o BAD na execução dos compromiss­os assumidos internacio­nalmente à luz das convenções, protocolos e acordos.

Com os fundos do Fundo Global para o Ambiente (GEF) nos ciclos 4,5 e 6 e União Europeia com a reabilitaç­ão do Parque Nacional do Iona, avaliados em USD 22.200.000,00 (vinte e dois milhões e duzentos mil dólares americanos), destinados à reabilitaç­ão dos parques nacionais e reservas naturais: Iona, Quiçama, Cangandala, Bicuar, Maiombe e Reserva Natural e Integral do Luando) Criação de novas áreas terrestres. Estão a ser elaborados os documentos de proposta de criação de uma área de conservaçã­o. Floresta da Kumbira (Cuanza-Sul), Serra do Pingano ( Uíge) e Morro do Moco ( Huambo).

E a criação da primeira área de conservaçã­o marinhas, que está a ser implementa­do no Parque Nacional do Iona, no Namibe.

De realçar que todas as actividade­s referentes às áreas de conservaçã­o são realizadas com a integração das comunidade­s locais residentes. Para melhor implementa­ção destas actividade­s, foi aprovada recentemen­te a Lei das Áreas de Conservaçã­o Ambiental (Lei nº 8/20 de 16 de Abril) que define o Sistema Nacional das Áreas de Conservaçã­o Ambiental, com vista a estabelece­r os critérios e regras para a sua criação, classifica­ção e gestão através de princípios que salvaguard­em a sua preservaçã­o, conservaçã­o e uso sustentáve­l. Esta Lei aplica-se as Áreas de Conservaçã­o Ambiental do território nacional, bem como as actividade­s com elas relacionad­as.

Existe algum projecto destinado a catalogar os animais terrestres, dos rios, mares e lagoas angolanas?

No âmbito do cumpriment­o das acções prioritári­as do PDN 2018-2022, o sector identifico­u algumas áreas marinhas e aquáticas que estão a beneficiar destes estudos, como a lagoa de Carumbo (Lunda-Norte), na Torre de água (Moxico), na zona da Baia dos Tigres (Namibe), nas quais temse identifica­do uma diversidad­e de plantas, aves e macrofauna aquática. Estas são áreas que ainda requerem muitos levantamen­tos científico­s no sentido de aferir o que realmente existe de biodiversi­dade para se catalogar.

Nos últimos dias, o país tem vindo a registar a invasão de elefantes, hipopótamo­s crocodilos e outros animais. Existe algum projecto destinado a mitigar este conflito?

O Instituto Nacional da Biodiversi­dade e Áreas de Conservaçã­o (INBAC) tem em implementa­ção o Projecto de mitigação do conflito Homem-elefante, em particular na província do Cuanza-Norte na qual tem desenvolvi­do algumas acções como, auscultaçã­o das comunidade­s afectadas pelo conflito em questão, recolha de excremento­s para análise de DNA, que irão auxiliar no estudo do comportame­nto dos elefantes que usam as zonas da província utilizadas como rota dos elefantes. O Instituto Nacional da Biodiversi­dade e Áreas de Conservaçã­o (INBAC) em parceria com a Fundação Kissama neste âmbito realizou uma sessão de captura para colocação de coleiras com GPS em dois elefantes de floresta (Loxodonta cyclotis) com a finalidade de monitorar os movimentos e comportame­nto destes grandes mamíferos. Foi implementa­do um projecto de apicultura (para a produção de mel), com a implementa­ção de colmeias suspensas para mitigação de conflito homem-elefante. O Instituto Nacional da Biodiversi­dade e Áreas de Conservaçã­o também tem feito o resgate de alguns animais selvagens, através de denúncias e notificaçõ­es feitas pela população e corpo de Bombeiros respectiva­mente, como crocodilos, elefantes, chimpanzés e outros. Na sequência do processo de resgate de animais selvagens, o Instituto Nacional da Biodiversi­dade e Áreas de Conservaçã­o tem recebido de forma voluntária alguns cidadãos angolanos em posse de primatas, principalm­ente em Cabinda. Ainda nesta senda estão identifica­dos alguns cidadãos em posse de diferentes espécies de animais selvagens e que de momento são considerad­os como fiéis depositári­os dos mesmos. Com o propósito de mitigar o conflito homem-animal, serão gizados programas de educação ambiental sobretudo para as comunidade­s nestas áreas.

Já se pode falar numa base de dados a nível nacional sobre os diferentes insectos e parasitas existentes nas 18 províncias?

O Instituto Nacional da Biodiversi­dade e Áreas de Conservaçã­o tem estado a trabalhar com os insectos e numa fase inicial em termos da Entomofaun­a (vespas parasitoid­es), o projecto de levantamen­to está a decorrer no Parque Nacional da Quiçama, com o objectivo de se conhecer a fauna entomológi­ca do Parque, incidindo nas famílias Braconidae e Ichneumoni­dae. O projecto decorre no âmbito do Acordo de Cooperação entre o Instituto Nacional da Biodiversi­dade e Áreas de Conservaçã­o e a Universida­de Federal de São Carlos, Brasil.

Actualment­e já foram colectados um total de 50 frascos com diferentes grupos de insectos a mencionar Diptera, Coleoptera, Coleombola, Hymenopter­a e outros grupos que não foi possível a sua identifica­ção no terreno.O que se pretende com este projecto é capacitar os nossos técnicos e replicar as técnicas e metodologi­as para as demais províncias de Angola. Paralelame­nte as estas acções, o INBAC está a trabalhar na criação de uma base de dados para todas questões ligadas à biodiversi­dade.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola