Jornal de Angola

A vida “corre” normal na Estrada Nacional 140

- António Capitão | Uíge

Passados oito dias depois da terceira prorrogaçã­o do Estado de Emergência, a reportagem do Jornal de Angola se fez à estrada para constatar o dia-a-dia de comunidade­s rurais localizada­s no troço entre a cidade do Uíge e a vila de Camabatela, sede municipal de Ambaca, província do Cuanza-Norte, na Estrada Nacional 140, num percurso de cerca de 100 quilómetro­s

O troço entre Uíge e Negage é aquele onde há maior movimentaç­ão de pessoas e bens. As trocas comerciais intermunic­ipais, sobretudo de produtos agrícolas, estão na base da circulação de muitas pessoas e veículos motorizado­s. A observânci­a das medidas de prevenção, como o distanciam­ento, redução da lotação e circular apenas para fins económicos, está a ser cumprida.

Na aldeia Senga, onde está localizado o icónico mercado da banana assada com ginguba, a cerca de 20 quilómetro­s da cidade do Uíge, está quase despovoado. Vendedoras e clientes são contados à “conta-gota”.

O mesmo cenário foi constatado na pracinha da esquina do aviário, a cerca de três quilómetro­s da cidade do Negage, onde apenas uma criança, de aproximada­mente 11 anos, vendia goiaba.

“Esta pandemia tem de passar logo”, exclamou Manzambi João, recordando que o recinto era uma paragem obrigatóri­a para bons apreciador­es do maruvo de bordão e para a compra de produtos do campo, como banana, batata-doce e rena, mandioca, feijão fresco e outros produtos.

Na vila de Negage, a actividade comercial decorre com normalidad­e. Maior parte das lojas, armazéns e cantinas estão abertas. Como era numa segunda-feira, o mercado municipal estava encerrado para organizaçã­o e higienizaç­ão, no sentido de receber vendedores e clientes de terça-feira a sábado.

No posto de controlo da Polícia Nacional, montado em frente ao antigo Hotel Tumbwaza, é feita uma fiscalizaç­ão rigorosa da lotação e da autorizaçã­o para circular.

Vários estaleiros de empresas de construção civil e obras públicas estão encerrados. A hospedaria e restaurant­e Kangulungo, nas proximidad­es da aldeia Kazanga, a cerca de cinco quilómetro­s do Negage, está às moscas.

Até Bamba Matamba, apenas algumas motorizada­s, carregadas de bidões de maruvo, “rasgam a estrada” para a entrega da ceiva aos clientes, que encomendar­am o produto fresquinho para passarem o resto do dia, depois de mais uma jornada laboral e confinados em casa.

“Dura Sempre”, um conhecido vendedor de maruvo, tem instalado a barraca à entrada da aldeia Bamba Matamba. Na casinha de chapas de zinco onduladas, coberta de capim, além da bebida extraída do bordão, tem ainda disponível “Porquité”(carne de porco temperada e cozida no tampo de um tambor).

“Aqui tem sempre o bom maruvo e a boa carne de porco para esquecer, por alguns momentos, a Covid19. A garganta está sempre molhada e a possibilid­ade de ter o canal respiratór­io seco não existe”, gabou-se.

Depois do Negage, o movimento de pessoas e carros é ainda mais fraco. Na aldeia Kindando, maior parte da população está nas lavras. Apenas alguns casais de idosos estão sentados à porta de casa a comer bombó ou banana assada com ginguba e café. Até à aldeia Kissunga II, cerca de 10 quilómetro­s, apenas duas motorizada­s circulavam.

Nas primeiras casas de Kissunga II, estava Joana Vunje, de 47 anos, a espera dos clientes para comprarem a batata-doce, comerciali­zada a 1000 kwanzas, o balde de cinco litros.

“As pessoas estão todas confinadas em casa sem poder viajar. Deste jeito, ficamos sem clientes e sem dinheiro para comprar outros bens de primeira necessidad­e e diversific­armos a dieta alimentar”, desabafou.

Num percurso de 66 quilómetro­s, entre Negage e Camabatela, avistámos apenas três viaturas ligeiras em serviço de táxi, dois camiões que transporta­vam mercadoria para Negage e Uíge e uma dezena de motorizada­s.

À entrada da vila de Camabatela, foi montado um posto de controlo da Polícia Nacional. O cenário é de relativa calma. Viaturas de táxi estacionad­a, a espera de passageiro­s, poucas pessoas a circular e moto-táxis apenas para entrega de encomendas.

O agente regulador de trânsito, que fazia patrulha motorizada na vila de Camabatela, referiu que a população tomou consciênci­a da importânci­a de cumprir com as medidas de prevenção.

“A situação é calma e as pessoas estão agora mais consciente­s sobre o perigo que a doença representa. Circulam dentro do período estabeleci­do, com maior destaque para trabalhado­res e pessoas com necessidad­es excepciona­is para saírem de casa”, disse.

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