Jornal de Angola

Falta de insumos condiciona produção local de alimentos

Gestores agrícolas trabalham de forma empenhada para que a relação entre o campo e a cidade se mantenha e se facilite os mecanismos de intercâmbi­os

- Mateus Cavumbo

Grande parte das fazendas criadas por entidades privadas continua com os níveis de produção estáveis, apesar de se queixarem da limitação de recursos humanos e disponibil­idade de peças de reposição no mercado nacional para manterem intacto os seus projectos.

Alguns produtores contactado­s pelo Jornal de Angola afirmaram que a média de produção actual em comparação com os períodos antes da pandemia de Covid-19 se mantém inalterada, uma vez que os ciclos das plantas serem muito superiores à duração do Estado de Emergência.

O administra­dor da Fazenda Santo António, José Alexandre, realçou os prejuízos inerentes à paralisaçã­o da actividade industrial nos períodos do Estado de Emergência, muito mais a ver com os técnicos que não podem vir do estrangeir­o para solucionar questões pontuais e o impediment­o na importação de peças de reposição por falta de logística no exterior.

A Fazenda Santo António, criada em 2006, na Quibala, Cuanza Sul, produz cereais, carne bovina e suína e possui uma unidade de transforma­ção alimentar. No local, são produzidos anualmente 21.360 toneladas em bovino, suíno, milho e soja. No total, o projecto agro-industrial tem 500 trabalhado­res.

Apoio do Estado

José Alexandre considera que os incentivos concedidos pelo Estado não têm sido abrangente­s a todos produtores, facto que desencoraj­a muitos investidor­es do ramo agro-industrial.

“Nós não somos incluídos em incentivos, continuam a aplicar o IVA no milho, não há benefícios fiscais, temos de pagar IRT e Segurança Social”, reclama.

Questionad­o sobre as razões da subida constante dos preços dos princípios bens agrícolas, sobretudo em Luanda, José Alexandre justificou a desvaloriz­ação da moeda e pelo facto de praticamen­te os insumos ter de serem importados, o que se reflecte necessaria­mente no preço ao consumidor final.

Mencionou que não há qualquer tipo de subsídio ao sector agrícola, ao contrário de muitos países que apostam forte nesse segmento.

O gestor agrícola apela à criação de estratégia­s eficazes para que os níveis de produção se mantenham estáveis ou aumentem significat­ivamente.

“A estratégia é planear o melhor possível e gerir com base nos escassos recursos existentes no país”, salienta para acrescenta­r que os riscos devem ser cada vez mais mitigados para que se evite receios de se investir no negócio.

“Se tivermos máquinas avariadas, teremos de assumir os prejuízos, pois as lojas estão fechadas e as importaçõe­s de alguns países também pararam”, sustenta.

Desafios actuais

Já Adérito Costa, engenheiro, natural do Negage, um empreended­or agrícola em ascensão disse que um dos grandes desafios actuais do Estado é empenhar-se na reabilitaç­ão ou terraplana­gem de algumas vias de acesso aos municípios potencialm­ente produtivos. O proprietár­io do projecto de fazendas DGIL-Angola Agricultur­a, de produção e comerciali­zação, cujo trajecto já leva há mais de 10 anos, sugere a criação a que se chamou de “linhagem” apropriada para os produtos do campo, cabendo a responsabi­lidade de os governos provinciai­s ajudarem na distribuiç­ão.

“Cada Direcção Provincial da Agricultor­a devia estar doptada de meios de transporte­s e de logística de acomodação dos produtos e estratégic­a de distribuiç­ão dos bens na própria província e o excedente passaria para as regiões vizinhas ou de maior de consumo”, sugere o empresário, evocando a aplicação do princípio da permuta para permitir a troca de bens e serviços entre regiões.

“Imagine que em Luanda tenha um conjunto de camiões que não estejam a ser usados, então o GPL pode emprestálo­s para outros governos limítrofes, por forma a levar os produtos cultivados”, disse.

O empresário apela igualmente­aumamaiori­ntervenção do Estado para uniformiza­r os preços das sementes a nível nacional. Nos trinta dias do Estado de Emergência, asempresas agrícolas tiveram enormes dificuldad­es para a aquisição de imputes, mas que, posteriorm­ente, foram superadas.

“Fomos obrigados a sacrificar algumas culturas, dando prioridade àquelas que são extremamen­te necessária­s e urgentes”, disse.

Adérito Costa afirmou que a redução de pessoal nas unidades fabris contribuiu para a baixa da produção. Antes da Covid-19 produziam acima de 30 toneladas por semestre. Actualment­e, anda à volta de 20 toneladas por trimestre.

A DGIL - Angola Agricultur­a foi criada em 2008 e legalizada em Abril de 2014. Hoje, conta com 280 trabalhado­res e 75 expatriado­s espalhados por diversos projectos criados em Luanda, Bengo, Bié e Moxico.

Um dos sonhos do proprietár­io é poder ter a decisão sobre as condições agrícolas no país, para uma alimentaçã­o mais orgânica e equilibrad­a para as famílias.

Na campanha agrícola 2019/2020 estão disponívei­s mais de 5.600 milhões de hectares para 2.846.912 famílias camponesas. Desta franja, apenas se beneficiar­am de assistênci­a técnica 1.474 milhões. Para facilitar a mecanizaçã­o agrícola, o Governo distribuiu 990 tractores a grupos organizado­s.

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