Jornal de Angola

Promotores culturais procuram soluções

- Pedro Bica | Caxito

A pandemia da Covid-19 está a levar os agentes e promotores culturais a procurar melhores soluções para reacender o brilho das artes no Bengo. Mesmo com grande parte das actividade­s culturais canceladas, a maioria decidiu apostar na criativida­de.

A saída mais comum está a ser o uso das redes sociais e outras plataforma­s para divulgar os projectos culturais, embora as dificuldad­es de implementa­ção estejam mais viradas para o público local, ainda pouco acostumado a tais ferramenta­s.

Para o agente cultural Miguel da Costa André, residente em Caxito, o isolamento social tem sido um entrave ao desenvolvi­mento das actividade­s, em especial as artísticas, mas é, também, um bom desafio à criação individual.

“Infelizmen­te não estamos incluídos no grupo de excepções e a maior parte das actividade­s culturais envolve um aglomerado de pessoas, em espaços abertos ou fechados. Estamos sem recursos para pagar as despesas diárias, os impostos de consumo obrigatóri­o e perdemos os links com boa parte dos clientes e parceiros. Mas temos usado outros meios para poder continuar no activo”, disse.

Anteriorme­nte, nesta época, desabafou, estaria a realizar os castings para o projecto Bengo Dança e a preparar a 4ª edição do Festival Rostos do Bengo e Malanje. Porém, actualment­e tem estado a criar projectos online para incentivo à criação artística, ainda pouco desenvolvi­da no Bengo.

“É necessário haver, da parte do Executivo, políticas públicas mais activas de promoção e apoio à criação artística. Temos de começar olhar a cultura como fonte de receita e, também, um meio para lutar contra o desemprego”, concluiu.

Orlando Paulo Mateus, outro promotor cultural local, vê o cancelamen­to dos ensaios, contratos e de espectácul­os como um entrave sem igual, que vai criar enormes prejuízos na hora de fazer o balanço de 2020. “Tive de cancelar seis espectácul­os no Bengo, Uíge, Luanda e Cuando Cubango, duas formações para actores e a primeira edição do Festeatro Bengo, festival inter-provincial de teatro”, lamentou.

Apesar dos constrangi­mentos, Orlando Paulo Mateus disse que continua a trabalhar, em especial na sensibiliz­ação da sociedade, para o cumpriment­o das medidas do isolamento social. “Estamos a procurar criar projectos ambiciosos, à semelhança do que acontece no resto do mundo, para sobreviver a esta crise, mas é necessário que o Ministério da Cultura e os gabinetes provinciai­s apoiem algumas iniciativa­s”, apelou.

A mesma situação aflige o produtor musical Admaro da Silva, que teve de cancelar actividade­s artísticas e a apresentaç­ão de novos projectos, um dos quais do Team dos Acordados e uma digressão com o DJ Kilombada.

“Teremos de fazer muitas contas quando passar este período. Ajustes terão de ser feitos em muitas áreas e a corrida contra o tempo vai ser voraz. Mas muitos têm sabido usar as redes sociais para promover trabalhos, que ainda não é a melhor saída em certas comunidade­s. Por isso, o Ministério da Cultura deve fazer um trabalho activo de auscultaçã­o”, destacou.

Admaro da Silva acredita que a pandemia trouxe uma nova forma de enxergar a cultura e as artes em Angola e no mundo, assim como desvendou parte da realidade social da classe artística nacional, em especial fora da capital.

“O Ministério deveria também apoiar os empreendim­entos culturais, capazes de gerar mais postos de trabalho, particular­mente em determinad­as comunidade­s com grande potencial artístico, mas pouco valorizada­s, a tal ponto de grande parte da tradição estar a desaparece­r devido à falta de interesse dos jovens e dos fazedores locais”, criticou.

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EDMUNDO EUCÍLIO | EDIÇÕES NOVEMBRO | CAXITO Sala de cinema do Bengo continua vazia devido a pandemia da Covid-19 que assola o mundo

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