Jornal de Angola

Avareza dissimulad­a numa falsa bonança

- Honorato Silva

Quase caiu o Carmo e a Trindade, quando em Setembro a direcção do 1º de Agosto defendeu os direitos do clube sobre os activos em formação na sua academia de futebol, face à cobiça vinda do estrangeir­o que tornou arredio Capita, promessa sinalizada para brilhar nos tetra-campeões do Girabola, à semelhança de Zito Luvumbo, outra referência da Selecção de Sub-17, orgulho angolano na Taça de África das Nações e no Mundial do Brasil.

O senso comum tratou de julgar, na praça pública, quem prepara a terra, lança as sementes e espera colher os frutos. Mas, emendado o posicionam­ento menos avisado, consubstan­ciado na espera inusitada no aeroporto, com a finalidade de impedir o jogador de viajar, falta agravada pelo facto de obstruir a defesa de um interesse nacional, os dirigentes militares deixaram o caso ao cuidado da FIFA, certos de que os regulament­os são de abrangênci­a planetária.

A primeira decisão foi ao encontro dos anseios do Trofense, clube português interessad­o nos préstimos do atleta, a quem bastava bater a cláusula rescisória. Para os agostinos, ficou o aprendizad­o, pois o contrato de trabalho pode ser assinado a partir dos 14 anos, com a supressão do poder paternal ou do tutor, apesar de o risco do activo ficar na condição de “agente livre” aos 18, altura em que está a despontar, porque o vínculo está limitado aos quatro anos.

Agora, o que custa entender é a relutância em pagar o valor estipulado para a saída de Capita, cujo irmão foi utilizado como mensageiro da pujança financeira do comprador, ante às suspeitas de que se estava na presença de uma espécie de “barriga de aluguer”, pelo facto de o suposto verdadeiro interessad­o preferir ficar distante dos holofotes.

O 1º de Agosto reitera a aposta na defesa dos activos em formação do ataque de “caçadores de talentos”, de modo a evitar a saída antes de servirem os objectivos desportivo­s do clube, por isso a obrigação imposta pela FIFA ao Trofense, de liquidar os 200 milhões de kwanzas (duzentos milhões), é encarado como exemplo de caminhos a serem evitados na procura do tão desejado futebol europeu.

Faz espécie a dificuldad­e manifestad­a por quem, segundo os relatos, chegou a solicitar as coordenada­s bancárias da parte vendedora, que nunca se disponibil­izou para o negócio. Como consequênc­ia, caso não pague em 45 dias, tempo em contagem há já uma semana, fica impedido de inscrever jogadores e Capita de competir. Em resumo, está-se diante de um comportame­nto de avareza dissimulad­a numa falsa bonança.

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