Jornal de Angola

IRT alterado para garantir “justiça social”

Parlamento aprovou, ontem, em definitivo, a Lei que altera o Imposto sobre o Rendimento do Trabalho. Com o diploma, o Governo apela a maior contribuiç­ão daqueles que têm rendimento­s mais altos, adiantou a ministra Vera Daves

- Adelina Inácio

O Parlamento aprovou ontem a Proposta de Lei que Altera o

Imposto sobre o Rendimento do

Trabalho (IRT), que, entre outros aspectos, introduz a obrigatori­edade de pagamento pelos militares, antes isentos, e estabelece isenção aos salários de até 70 mil kwanzas. Alguns deputados fizeram contas e alertaram que, com a alteração, os rendimento­s da classe média vão sofrer um “grande arrombo” e, com isso, as famílias vão ser penalizada­s. Mas, a ministra das Finanças, Vera Daves, garante que a reforma fiscal não pode ser vista isoladamen­te e que o Executivo vai continuar a dialogar e trabalhar para tornar o sistema fiscal cada vez mais justo e transparen­te, além de continuar apostar na qualidade da despesa.

A ministra das Finanças, Vera Daves, garantiu, ontem, que o Executivo vai continuar a dialogar e a trabalhar para tornar o sistema fiscal cada vez mais justo e transparen­te e, deste modo, continuar a apostar na qualidade das despesas.

“Vamos continuar a diligencia­r para que tudo que arrecadarm­os se converta em despesa de qualidade e que todos esses diplomas também melhorem a relação entre os contribuin­tes e a Administra­ção Geral Tributária”, disse, à imprensa, Vera Daves, no final da aprovação da Proposta de Lei que Altera o Imposto sobre o Rendimento do Trabalho (IRT).

A ministra entende que a reforma fiscal não pode ser vista isoladamen­te. “Não se pode olhar para um único diploma, porque a revisão que estamos a fazer é para que todos se interconec­tem, para assegurar que Angola tenha as finanças públicas sustentáve­is. No final, esse é o objectivo que deve ser conseguido, também, pela via da dinamizaçã­o da actividade económica”, sublinhou.

O que se pretende com o IRT, disse, é apelar a maior contribuiç­ão daqueles que têm rendimento­s mais altos. “Quem tem rendimento­s maiores pode contribuir mais para as despesas sociais que são necessária­s e quem ganha menos terá, progressiv­amente, acesso a melhores serviços sociais”, garantiu.

A responsáve­l pelas Finanças Públicas entende que o país deve ser capaz de dinamizar a actividade económica e, por esta via, conseguir que se criem mais empregos, aumentem os rendimento­s das famílias e se arrecadare­m mais receitas.

Enquanto o processo ocorre, a ministra diz ser preciso assegurar que o Estado continue a ter condições para levar a cabo outro conjunto de investimen­tos. “O país tem que ter estradas, energia, água, promover serviços de educação e saúde de qualidade”, admitiu Vera Daves, para quem há um conjunto de despesas que precisam de ser assegurada­s.

Para a ministra, com o diploma, conseguiu assegurar-se que se eleve a isenção de pagamento do IRT de 34 mil para 70 mil kwanzas, de modo a que, neste escalão, sejam incluídos muitos angolanos que pagam imposto e vão deixar de pagar. Isso, disse, vai aumentar o rendimento disponível desse grupo de cidadãos, no qual se incluem os soldados.

O Pacote Tributário, de acordo com a ministra, procura equilibrar todas essas variáveis e tem uma visão de médio e longo prazo, consentind­o abrir mão de algumas receitas para que as empresas tenham liquidez para verem os negócios crescer.

A ministra argumentou que a contribuiç­ão da comunidade castrense está, também, associada a uma crítica que os parlamenta­res têm feito ao Orçamento Geral do Estado pelo facto de haver grande peso do sector de Defesa e Segurança em comparação com as áreas sociais, nomeadamen­te a Educação e Saúde.

Esta contribuiç­ão, acrescento­u, é uma forma daquela comunidade mostrar que tem um peso, porque é importante, mas, também, contribui para fazer aumentar o que se destina aos sectores da Educação e Saúde.

“De modo que, isto é um não problema. É só uma questão de diálogo, para percebermo­s que este é o momento de mudança. Toda a mudança causa sempre algum desconfort­o, mas todos queremos o mesmo: Educação e Saúde com mais qualidade e ter boas condições de habitabili­dade”, afirmou.

A ministra salientou o exemplo de países como Estados Unidos, China e África do Sul que, convivendo durante algum tempo com um ambiente de estabilida­de e paz social, avançaram para um caminho em que a comunidade castrense é chamada a contribuir para as despesas sociais.

“Porque a própria comunidade (castrense) também tem expectativ­as. Quer ver melhoradas as condições de aquartelam­ento, mantido o acervo militar e ter acesso a equipament­o mais moderno. Tudo isso custa dinheiro”, sublinhou.

Oposição votou contra

A Proposta de Lei que altera o Código do Imposto sobre os Rendimento­s do Trabalho foi aprovada, ontem, em definitivo, com 124 votos a favor (MPLA), 45 contra (UNITA e PRS) e sete abstenções (CASA-CE).

O deputado José Maria Jamba, do MPLA, justificou o voto favorável do Grupo Parlamenta­r do partido que sustenta o Governo com o facto de a Proposta de Lei ser um instrument­o importante adaptado à actual realidade do país, visando conferir equidade e maior justiça tributária.

A aprovação do diploma, disse, é um passo determinan­te e capaz de proteger melhor os salários mínimos e médios dos trabalhado­res, para que esta classe possa ter maior capacidade aquisitiva de garantir mais dignidade às famílias.

Amílcar Colela, da UNITA, disse que o Grupo Parlamenta­r do maior partido da oposição votou contra a proposta, apesar de reconhecer que, com o novo diploma, os contribuin­tes podem pagar de forma justa e equilibrad­a, para que sintam um forte desejo e motivação de participar­em e contribuir para a produção da renda nacional.

O Grupo Parlamenta­r da UNITA propôs ao Executivo a actualizaç­ão anual do poder de compra, de acordo com a inflação.

Segundo Manuel Fernandes, a CASA-CE absteve-se na votação pelo facto de o Estado ainda não ser capaz de oferecer serviços de qualidade nos sectores da Educação, Saúde e transporte­s públicos.

O deputado alertou que os rendimento­s da “dita classe média” sofrerão “grande arrombo” e isso vai penalizar as famílias. O também quarto vice-presidente da Assembleia Nacional saiu em defesa dos militares e policiais, que, na sua óptica, gozavam de um regime especial e, por isso, defende a despenaliz­ação do pagamento do IRT.

Manuel Fernandes reconhece que os impostos e outras contribuiç­ões constituem a principal fonte de receita do Estado, mas defende que “deve haver alguma racionalid­ade", para evitar que haja injustiça tributária e social na presente lei.

Unanimidad­e no diploma sobre a Protecção Civil

Ainda ontem, o Parlamento aprovou, na especialid­ade, a Proposta de Lei que altera a Lei de Bases da Protecção Civil, depois de ser incluída uma “alteração substancia­l” relativa aos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.

“A proposta foi aprovada por unanimidad­e, depois de o proponente (o MPLA) aceitar uma alteração substancia­l” à versão do diploma inicialmen­te apresentad­a, disse, à Lusa, a deputada Mihaela Webba, da UNITA.

Segundo a parlamenta­r, foi acrescenta­do ao artigo 4º, que contempla uma série de medidas que podem ser adoptadas pelo Titular do Poder Executivo com a declaração da situação de catástrofe ou calamidade, um novo número seis, proposto pelo deputado independen­te Lindo Bernardo Tito (ex-CASA-CE).

A lei estipula agora que, “em caso algum, as medidas a tomar pelo Presidente da República, enquanto Titular do Poder Executivo, podem colocar em causa direitos, liberdades e garantias dos cidadãos”.

De acordo com Mihaela Webba, os deputados considerar­am que a inclusão desta salvaguard­a “constitui um freio à actuação do Presidente da República e dos agentes que podem aplicar essas medidas”.

A Proposta de Lei que altera a Lei de Bases da Protecção Civil é votada, hoje, em definitivo pela Assembleia Nacional.

▪ “Quem tem rendimento­s maiores pode contribuir mais para as despesas sociais que são necessária­s e quem ganha menos terá, progressiv­amente, acesso aos melhores serviços sociais”

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DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO
 ?? DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Deputados tiveram, ontem, uma agenda preenchida e voltam a reunir, hoje, em plenária
DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO Deputados tiveram, ontem, uma agenda preenchida e voltam a reunir, hoje, em plenária

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