Jornal de Angola

Habitantes do KM 44 esperam melhores dias

Moradores reclamam da falta de centros de saúde na urbanizaçã­o, o que exige percorrer quilómetro­s para chegar aos hospitais de Catete. Ausência de espaços comerciais, de lazer e de outros serviços torna a vida difícil às mais de 800 famílias que já moram

- Gaspar Micolo

Quem visita a “Centralida­de do Quilómetro 44”, localizada a sudoeste da cidade de Luanda, nota que está quase toda habitada. A urbanizaçã­o foi construída para albergar uma população estimada em 13.448 habitantes e, hoje, os mais de dois mil apartament­os estão ocupados a 70%. As mais de 800 famílias que moram naquela área do Distrito Urbano da Bela Vista, no município do Icolo e Bengo, entretanto, revelam as dificuldad­es no acesso aos cuidados de saúde, transporte­s, telecomuni­cações, entre outros serviços básicos.

Contam-se episódios de moradores na faixa dos 60 anos a percorrer horas para ter acesso aos cuidados médicos nos hospitais de Catete ou Viana.

“Um vizinho teve que esperar até amanhecer, para poder ir ao hospital, por não ter um meio de transporte”, conta Filipe Chaves, de 39 anos, que mora há dois na urbanizaçã­o. “Precisamos de um hospital, com muita urgência, já que Catete fica muito distante para os primeiros socorros”, diz o técnico de compras e logística.

Sem infra-estruturas erguidas para acomodar os serviços sociais, a comissão de moradores revela que já foi solicitado ao então Ministério da Habitação e Urbanismo e ao Governo Provincial a cedência de espaço para acolher um centro médico, exemplific­ando o caso semelhante ao da centralida­de do Capari.

“É urgente que haja aqui um hospital ou centro de saúde de referência”, diz o coordenado­r da Comissão de Moradores, João Fernando Pessoa.

O administra­dor do Distrito Urbano de Bela Vista, no qual se enquadra a Urbanizaçã­o do Quilómetro 44, garante que os serviços de que os moradores reclamam não existem porque não foram construído­s espaços para o efeito.

Orlando Mabanza explica que tem cooperado com a Comissão de Moradores, de modo a encontrar as soluções possíveis.

“Da nossa parte, estamos a envidar esforços, juntos dos parceiros privados, para atraí-los a investir na centralida­de. Dentro de dois meses, vão surgir um banco e uma farmácia, com serviços de diagnóstic­os”, garante.

Contando apenas com uma escola de 18 salas de aulas, para um universo de 800 famílias, a Urbanizaçã­o ainda não garante o Ensino Primário (dos dois Ciclos) às centenas de crianças e adolescent­es que nela habitam.

“A escola não responde às expectativ­as dos moradores. No início do ano, tivemos que recorrer a um colégio nos arredores, por falta de vaga”, diz Dulce Garcia, de 44 anos.

Filipe Chaves também lamenta o facto de só existir uma escola, para uma urbanizaçã­o que prevê acolher mais de 13 mil habitantes. E vai mais longe: “Eu acredito que já é hora de pensarmos em ter universida­des aqui, nos arredores da centralida­de”.

Parceiros e empresário­s

Sem lojas erguidas como em outras centralida­des, constata-se que moradores transforma­m alguns compartime­ntos dos seus apartament­os em cantinas, para dar resposta à procura de produtos básicos.

“A imobiliári­a não construiu propriamen­te infraestru­turas para tal. Está em curso o processo de adaptação do antigo estaleiro da empresa PAN-CHINA. Há necessidad­e de se encontrar parceiros para remodelar o espaço e acolher actividade­s comerciais”, diz o coordenado­r da Comissão de Moradores.

O administra­dor Orlando Mabanza confirma que o estaleiro da empresa construtor­a deve ser adaptado para actividade­s comerciais e revela mesmo já existirem várias propostas que estão a merecer o devido tratamento, com a participaç­ão da Comissão dos Moradores, para que neste espaço se acomodem vários serviços.

João Fernando Pessoa espera que os parceiros e empresário­s possam ajudar a dinamizar actividade comercial na centralida­de, trazendo centros de saúde, espaços de lazer e de serviços de telecomuni­cações.

“Não temos nenhuma operadora de Internet, embora já tenhámos feito chegar a essas empresas as nossas necessidad­es”, diz o coordenado­r, que revela mesmo que só a TVCabo se dignou a responder, prometendo que só abrirá uma loja no próximo ano.

Quanto ao transporte urbano, moradores revelam que a empresa TCUL tem operado na centralida­de, com um percurso que se estende até à vila de Viana e vice-versa.

“A grande dificuldad­e é o tempo de espera, que passa de uma a duas horas”, reclama o administra­dor, corroborad­o pelos moradores, que, na demora, socorrem-se dos táxis colectivos.

“Os autocarros fazem duas a três horas para chegar à centralida­de e isso não facilita o trabalhado­r que pretende chegar cedo ao local de trabalho. Precisamos de mais operadoras de transporte”, diz Filipe Chaves.

Assaltos e roubos

Se há alguns anos não havia queixas de assaltos e roubos, o mesmo já não se pode dizer dos últimos dias. No dia em que falámos com os moradores, contavam-se já cinco casos diários de furtos de placas de automóveis.

“O maior medo é que os praticante­s desses crimes vão além dessas infracções”, diz um morador. Com um posto de Polícia que atende a centralida­de e todo o Distrito Urbano de Bela Vista, que se estima em 45 mil habitantes, moradores lamentam que ocorrência­s escapam ao controlo das autoridade­s e ficam sem respostas.

“Estamos a pensar em sensibiliz­ar os moradores para colocar câmaras de segurança”, diz o coordenado­r da Comissão de Moradores.

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Coordenado­r João Pessoa

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