Jornal de Angola

Depois do morcego e do pangolim, agora a culpa pode ser do vison

Cientistas acreditam que um trabalhado­r possa ter sido infectado por uma marta (ou vison), numa quinta na Holanda. Será o primeiro caso comprovado de transmissã­o do vírus de um animal para um ser humano? O artigo é do Diário de Notícias

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Circunstân­cias excepciona­is estarão na origem da pandemia que atingiu o mundo inteiro e já infectou mais de cinco milhões de pessoas. É muito raro que um vírus de um animal passe a chamada barreira inter-espécie - que salte de um animal para outro e ainda mais raro é infectar depois um ser humano. Mas é precisamen­te essa hipótese que tem sido apontada como a mais provável para explicar a origem do SARS-CoV-2, que terá surgido algures, no final do ano passado, num mercado de animais selvagens, em Wuhan, na China.

Esta “anormalida­de” tem estado na origem de muitas teorias da conspiraçã­o como a de o vírus poder ter sido fabricado num laboratóri­o - e explica a razão pela qual, no que diz respeito à Covid-19, ainda existirem mais perguntas do que respostas.

O caso de um trabalhado­r de uma quinta de criação de visons (martas) na Holanda trouxe ainda mais incógnitas à complicada equação que representa o novo coronavíru­s. Os cientistas acreditam que o trabalhado­r foi infectado por um dos animais, o que tornaria este o primeiro caso identifica­do de transmissã­o directa do vírus de um animal para um ser humano, e não através do consumo do animal pelo Homem.

Os investigad­ores baseiam-se na sequência do genoma do vírus de ambos - homem e marta - que é muito semelhante.

O El País - que avança a história - cita o Ministério da Agricultur­a holandês que, no Congresso, afirmou que o perigo de contágio generaliza­do entre a população é mínimo, porque o vírus não foi detectado no ar, analisado fora das instalaçõe­s da quinta, onde os animais são criados para as suas peles serem usadas na indústria de vestuário.

Furões, mais susceptíve­is ao vírus

Este surto de Covid-19 em quintas de martas holandesas traz ainda outra novidade: é a primeira vez que se detectam casos de infecções nesta espécie. No entanto, não é uma surpresa: os cientistas já usaram furões - que pertencem à mesma família das martas, a dos mustelídeo­s - como cobaias para testarem a susceptibi­lidade destes animais à infecção por Covid-19.

Descobrira­m que os furões, tal como os gatos, sãos mais vulnerávei­s ao contágio do que os cães, galinhas, porcos e patos, uma investigaç­ão que foi publicada na revista Science, em Abril.

O objectivo do estudo foi descobrir quais são os animais mais vulnerávei­s a contrair a doença Covid19, para que possam vir a ser usados como cobaias em vacinas experiment­ais contra a mesma.

Voltando ao trabalhado­r da Holanda, este ficou doente já depois de terem sido detectados casos de infecção entre os animais da quinta. Já está curado e só apresentou sintomas leves da doença.

“Provavelme­nte, neste caso concreto, trata-se do contágio directo de animal para ser humano, porque as sequências do genoma do vírus de ambos são quase idênticas”, diz Wim van der Poel, investigad­or no Centro de Pesquisa Bioveterin­ária da Universida­de de Wageningen (WBVR, na sigla em inglês).

“Para estarmos completame­nte seguros, teríamos que fazer o mesmo, sequenciar o código genético do vírus, com amostras extraídas de todas as pessoas que trabalham e têm relação com a quinta e que ficaram doentes. Mas acho que há poucas possibilid­ades de encontrar outro parecido. Nos outros casos, o contágio mais provável foi de ser humano para o vison (marta)”, assume Van der Poel.

A equipa de Wageningen também constatou a presença do novo coronavíru­s nos gatos que viviam nas quintas de martas e, após análises, confirmou o que o artigo publicado na revista Science já avançara: os porcos não são tão susceptíve­is ao contágio. Nas quintas, os porcos testados não estavam infectados.

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