Possível “segunda vaga” não tem data marcada
A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou que a pandemia da Covid-19 não vai dar descanso mesmo nos países onde o contágio foi contido e que uma possível “segunda vaga” de contágio não tem data marcada.
Segunda-feira, na habitual conferência de imprensa de acompanhamento da pandemia, o director-executivo do programa de Emergências Sanitárias da organização, Michael Ryan, afirmou que é preciso “estar ciente de que a doença pode disparar a qualquer altura”.
“Não podemos supor (que os números de novas infecções) vão continuar a descer e que teremos alguns meses para nos preparar para uma segunda vaga. Pode acontecer um segundo pico na actual, como aconteceu em outras pandemias, como da gripe pneumónica”, afirmou.
A principal responsável técnica no combate à covid19, Maria Van Kerkhove, salientou que os estudos de seroprevalência já efectuados são poucos - só dois publicados e cerca de 20 em prépublicação mostram que “uma grande parte da população continua susceptível” ao novo coronavírus.
“Se encontrar uma oportunidade, este vírus provocará surtos. Uma característica única deste coronavírus é a capacidade de se amplificar em certos ambientes fechados, com uma super-propagação, como temos visto em lares de idosos ou hospitais”, acrescentou.
O que se ganhou entretanto foram “as ferramentas para suprimir o contágio”, referiu, indicando que, para já, não é claro que um ressurgimento de casos em países que conseguiram reduzir o número de novas infecções esteja dependente do clima ou da temperatura.
Michael Ryan salientou que “seria preocupante crer que (a contenção do contágio) ocorreu naturalmente” e indicou que foram as medidas de contenção aplicadas pelos governos que o conseguiram, restringindo movimentos de populações, impondo confinamentos e aconselhando medidas de distanciamento físico entre as pessoas.
Em África
No dia em que se celebrou o 53.º aniversário da criação da Organização para a Unidade Africana - hoje União Africana -, o director-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, assinalou que o continente tem o menor número de casos e de mortes em relação ao resto do mundo - com 1,5 % dos casos globais e 0,1 % das mortes globais -. mas ressalvou que a capacidade de testagem ainda não está ao nível do resto do mundo e os números “não dão o retrato completo” da pandemia na região.
O director do Centro de Vacinação do Mali, Samba Sow, foi mais longe e afirmou que “a falta de testes pode estar a esconder uma epidemia silenciosa”, assinalando que os sistemas de saúde nos países africanos são “fracos e podem ser assoberbados”.