“Curva achatada” às pequenas empresas
Proprietários dizem que medidas tomadas pelo Executivo não satisfazem e as incertezas põem em risco os empregos
Apesar do Executivoter tomado medidas imediatas que visam mitigar os riscos das Micro-Pequenas e Médias Empresas, soam vozes discordantes sobre a eficácia dos incentivos aprovados avaliados em 488 mil milhões de kwanzas a ser canalizados para as empresas produtoras.
Numa ronda efectuada, o Jornal de Angola ouviu os que sentem na pele as dificuldades financeiras para manter os negócios intactos, já que as taxas aplicadas para o crédito, não cobrem as necessidades de tesouraria e nem incentivam a fazer recurso a elas.
Os empresários defendem também o alargamento dos períodos das isenções fiscais devido à incerteza da Covid19, que virou de “cabeça para baixo” o quadro que se esperava para o mercado de trabalho em Angola.
Com a declaração da situação de calamidade, não obstante à retoma parcial das actividades económicas e dos serviços públicos e para fazer face ao impacto negativo da pandemia à economia, o número de reclamações de pessoas desempregadas persiste.
Estabelecimentos comerciais aumentaram a sua força de trabalho e se estendeu ainda mais o seu horário de atendimento, o mesmo se passa a restauração, aberta até às 15 horas, numa primeira fase, bares, shoppings e parques de diversão, manterse-ão fechados.
Testemunho
A reportagem do Jornal de Angola conversou com o assistente de um parque de diversão. Ambrósio Jacinto confessou que nunca pensou que a doença fosse chegar a Angola e que pudesse comprometer o emprego precário de muita gente.
“Eu ainda recebi o salário do mês de Março.Não fui despedido, mas a única coisa que o meu chefe nos pede é calma”, disse.
Ele contou que na mesma situação estão mais de 100 trabalhadores que operam no referido parque “e pelo que parece e o que resta agora é rezar para que isso acabe logo, porque não sei como vou sobreviver”.
O salário de 60 mil kwanzas, que ainda aufere, é fundamental para assegurar a sua casa em que ele vive com mulher, quatro filhos e dois netos.
Na mesma situação está a ajudante de bar Maria Engrácia, que também se viu desempregada por causa da crise causada pelo novo coronavírus.
Ela, que até entendeu a situação do seu empregador, reconheceu que os salários advinham do trabalho realizado durante o mês, mas lamenta, pois, não saber como vai ser a vida sem o salário no fim do mês.
“De momento ainda tenho o salário do meu marido, mas não é suficiente para cobrir as despesas, o que torna tudo muito complicado”, afirma.
“Nós sempre pagamos a Segurança Social, além do mais a empresa teve sempre lucros. Eu acho que algo deve ser feito pelo trabalho que temos vindo a fazer”, confessou.
O Jornal de Angola constatou que a Cobeje, uma empresa de bebidas ligadas ao Grupo Castel, ameaça a pagar somente 50 por cento dos salários aos trabalhadores caso a situação de instabilidade da doença se mantiver.
Alguns deles adiantaram que foram cortados os prémios (incentivos) semanais ou mês que têm tido direito, o que a entidade empregadora viola o acordo mantido entre o sindicato de trabalhadores e o patronato. Além disso, a direcção da empresa decidiu antecipar as férias dos trabalhadores.
Empresas
Nesta nova situação a da calamidade, o país entrou para a fase do desconfinamento, com o alívio de algumas medidas para permitir a retoma paulatina da actividade económica.
Dimitrov Paulo é presidente do grupo Ditrov Comercial. A empresa é vocacionada à gestão de parques, limpeza e prestação de serviços.
Com um volume de negócios no ano passado que rondava os 50 milhões de kwanzas e com mais de 200 trabalhadores, ele teve praticamente todo o negócio parado.
“Está a ser muito complicado. A vantagem é que procurei sempre diversificar os meus serviços e neste momento tenho algumas áreas abertas e trabalho com cerca de 30 por cento da minha equipa”, informou.
O empresário conta que neste momento tem um parque de diversão fechado com cerca de 100 trabalhadores dispensados que não recebem salários e até que normalize a situação, não terá como sustentar o compromisso.
“Neste momento, é opto pelo diálogo. Até com as pessoas que estão a trabalhar, estou a ser forçado a diminuir os salários, porque os rendimentos reduziram bastante”, afirmou.
Para o presidente do Conselho de Administração da Sistec, Rui Santos, desde segunda-feira da semana passada que a empresa está aberta ao público, mas lamenta a fraca afluência dos clientes nas lojas. “Posso afirmar que as vendas caíram à volta de 80 por cento e os prejuízos são incalculáveis”, disse.