Militares de volta à política
Jair Bolsonaro, sem quadros e sem partido, fez das Forças Armadas, que integrou como oficial intermédio (capitão), um pilar fundamental do seu poder: nove dos seus 25 ministros são militares. Agora pede-lhe mais, pedelhe um golpe, quer que o ajudem a fechar o Congresso e o Supremo Tribunal. Os militares já disseram que não participarão em aventuras que atentem contra a Constituição brasileira. Ainda assim, a posição das Forças Armadas é ambígua e pouco previsível
O 6.º maior país do mundo, com mais de 200 milhões de habitantes, que é (ainda) a 10.ª maior economia do mundo, será, e de acordo com os epidemiologistas, o recordista em mortes por Covid-19, mesmo com o Governo brasileiro a optar por contabilidade própria, que deixa de fora 44 por cento das mortes. À pandemia acrescenta-se o caos, a ciência dá as respostas possíveis e na política perfila-se o chamado “salvacionismo militar”, uma característica do Brasil desde a implantação da República, em Novembro de 1889, liderada pelo general de cinco estrelas Deodoro da Fonseca. De lá para cá, “as quarteladas”sempre fizeram parte da história do país, com especial incidência nos anos 20, 30 e 50 do século XX, culminando com o golpe militar que impôs a ditadura em 1964. A partir de 1985, com a chegada de José Sarney ao poder, os militares foram gradualmente deixando a política para se voltar a dedicar à sua actividade essencial: a defesa e a guerra.
Itamar Franco, Fernandes Henrique Cardoso e mesmo Lula da Silva conseguiram criar uma boa relação com os militares, entretanto confinados aos quartéis. De forma gradual, as Forças Armadas davam espaço interno aos civis enquanto investiam em formação. O oficialato brasileiro é tido como extremamente bem preparado.
Com o Governo de Dilma Rousseff este percurso começa a inverter-se.Os militares voltam-se, e querem voltar, para o Palácio do Planalto, por quatro razões essenciais. De acordo com professor brasileiro de Ciência Política, Octávio Amorim Neto, que estuda a relação das Forças Armadas com o poder, “não foram apenas a crise económica, os escândalos de corrupção, a violência civil que grassou no Brasil na era do PT (Partido dos Trabalhadores), mas também a Comissão da Verdade, que começou a trazer de volta os militares para a arena política”, disse em entrevista que nos enviou.