“Escamadores” da Mabunda estão alheios à prevenção
A situação de Calamidade Pública, que se cumpre há duas semanas no país, em particular em Luanda, restabeleceu actividades e ofícios que durante o Estado de Emergência foram tidas como não essenciais. É o caso das vendedoras de iguarias e “quitutes” da terra, que estão já a desempenhar as suas actividades e negócios, desde que o façam dentro das recomendações das autoridades sanitárias, no sentido de, assim, se evitar a exposição ao contágio do novo coronavírus.
A reportagem do Jornal de Angola foi até ao mercado da Mabunda, local onde acorre, diariamente, uma mole de gente à compra de peixe e outros produtos do mar.
Salta à vista, nalgumas "secções" do mercado, o incumprimento das medidas de segurança, sobretudo onde é feita a lavagem e escamação do pescado. Estão lá, em maioria, jovens que fazem dessa actividade o ganha pão, mas sem o uso de máscara, meio obrigatório em locais públicos com aglomerado de pessoas.
Os poucos que usam fazemno, ainda assim, de maneira inapropriada. Não cobrem a boca e o nariz. É o caso de Gabriel Alau, de 25 anos, um "escamador" de toda a sorte de peixe que lhe chega às mãos.
Trabalha no mercado da Mabunda há cinco anos. Apesar do seu dinamismo, portava a máscara à volta do pescoço. Questionado se não tinha medo e risco de contrair o coronavírus, mexeu a cabeça - em sinal de negação - acrescentando, depois, no alto da sua ignorância: "não sei se existe a doença, não conheço nenhum doente".
Essa atitude de assustadora ignorância é compreendida pela evidente e clara aparência de iliteracia. Mas Gabriel Alau, que não passou do ensino de base, esbarra, como ele próprio explica, em locais onde lhe é obrigado a usar meios de biossegurança.
"Uso apenas a máscara nos sítios onde não se entra", confessa. Como ele, muitos outros jovens desvalorizam o risco de contágio. É o caso também de Rafael Pires, 39 anos de idade, outro "escamador", que já foi marinheiro e taxista.
Rafael Pires diz ter mais medo da malária e da febre amarela, que ceifaram a vida de membros da sua família em Benguela, do que da Covid-19. "Vi morrer uma filha deumanodeidade,meupaieuma irmã com estas doenças", disse.