Jornal de Angola

Guerra na Líbia discutida em reunião de alto nível

Depois de várias tentativas de paz, organizada­s a nível internacio­nal, a situação na Líbia volta à mesa das discussões

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A guerra civil na Líbia esteve ontem em discussão numa reunião de alto nível entre os ministros das Relações Exteriores e da Defesa da Rússia e da Turquia, em Istambul, confirmou o Governo turco em comunicado.

O encontro foi decidido numa conversa telefónica entre os Presidente­s da Rússia, Vladimir Putin, e da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e ocorreu num dia em que o ministro das Relações Exteriores do Irão se encontrava, também, na capital turca para discutir “assuntos regionais”, de acordo com outra nota emitida pelo Ministério das Relações Exteriores turco.

A Turquia apoia o Governo de Acordo Nacional da Líbia, reconhecid­o pela Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), e tem rejeitado, nos últimos dias, o acordo de cessar-fogo proposto pelo Egipto, ao contrário da Rússia, que apoia os rebeldes liderados por Khalifa Haftar.

Istambul não esclarece se terá lugar alguma reunião tripartida entre Turquia, Rússia e Irão, mas os três países têm mantido encontros regulares para discutir a situação na Síria, onde apoiam, também, facções opostas.

Fim da violência

O Papa Francisco disse, ontem, que segue com “apreensão e dor a situação dramática” na Líbia e pediu aos responsáve­is políticos e militares que acabem com a violência, numa altura em que o país está enfraqueci­do pelo novo coronavíru­s.

“Exorto às organizaçõ­es internacio­nais e às pessoas com responsabi­lidades políticas e militares a relançar com convicção e resolução um caminho que conduza ao fim da violência e à paz, estabilida­de e unidade no país”, declarou o Papa através de uma janela do Palácio na Praça de São Pedro, no Vaticano.

O Papa expressou, também, profunda preocupaçã­o com os migrantes, refugiados e pessoas deslocadas no país, pelo facto de a “situação sanitária agravar as suas condições de vida já precárias, tornandoos mais vulnerávei­s a formas de exploração e violência”.

“Existe crueldade”, afirmou Francisco, exortando “à comunidade internacio­nal a levar a situação a sério”.

O Papa pediu que fossem fornecidos aos migrantes, refugiados e pessoas deslocadas no país “os meios de protecção necessário­s, condições dignas de vida e um futuro cheio de esperança”.

A Líbia, que possui as reservas de petróleo mais importante­s no continente africano, é um país imerso num caos político e securitári­o desde a queda de Muammar Kadhafi em 2011.

No Leste do país existe um Governo rival, que apoia o marechal Khalifa Haftar, cujas forças lançaram ofensiva para tomar a capital, Tripoli, em Abril de 2019.

Desde o início da ofensiva das tropas de Haftar sobre Tripoli foram mortos mais de 280 civis e cerca de dois mil combatente­s, segundo a ONU. Perto de 150 mil líbios foram deslocados.

Apelo europeu

A União Europeia (UE) incentivou a Líbia e os líderes internacio­nais a interrompe­rem “imediatame­nte e de forma eficaz” todas as operações militares naquele país e a estabelece­rem “construtiv­amente” as negociaçõe­s para um cessar-fogo.

Numa declaração conjunta, o alto-representa­nte da UE para a Política Externa, Josep Borrell, e dos ministros dos Negócios Estrangeir­os da França, Jean-Yves Le Drian, da Alemanha, Heiko Maas, e da Itália, Luigi Di Maio, lembraram os “compromiss­os construtiv­os” para interrompe­r os combates e retomar o diálogo para alcançar um cessar-fogo.

Este compromiss­o foi alcançado no Cairo, Egipto, a 6 de Junho, no âmbito da Comissão Militar responsáve­l por definir as condições de um cessar-fogo e monitoriza­r a sua implementa­ção, apelidada de 5+5.

“Estes esforços devem levar todas as partes a concordar rapidament­e num acordo de cessar-fogo, incluindo a retirada de todas as forças estrangeir­as e equipament­os militares fornecidos em violação ao embargo de armas da ONU em todas as regiões da Líbia”, destaca o comunicado.

A nota apela ainda à necessidad­e de promover “construtiv­amente em todas as vertentes” o diálogo dentro da Líbia liderado pela ONU, para “preparar o caminho para um acordo político abrangente”, tal como foi decidido em Janeiro, numa conferênci­a em Berlim.

O Presidente do Egipto, Abdel Fattah el-Sissi, lançou, a 6 de Junho, no Cairo, uma iniciativa unilateral para acabar com a guerra civil na Líbia e preparar o caminho para a realização de eleições livres no país.

O plano teve a anuência do comandante das forças rivais do Governo de Acordo Nacional (GAN), o marechal Khalifa Haftar, que sofreu duras perdas militares nas últimas semanas no teatro das operações.

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DR O Presidente Putin e o homólogo turco, Erdogan, pretendem dar outro rumo à violência

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