Jornal de Angola

Emocionant­e depoimento de Paulo Gomes sobre Pedro Vidal

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Paulo Gomes, radialista e um dos mais importante­s investigad­ores da história do Carnaval, referiu-se ao Comandante Pedro Vidal, nos seguintes termos: “Conheci o Pedro Vidal nas suas múltiplas facetas. Um homem talhado para ser um bom aglutinado­r de afectos e um bom motivador de talentos para o carnaval e desporto. No nosso Bairro Prenda sempre estivemos mergulhado­s num ambiente cultural de riqueza imensuráve­l. Na sua extensão geográfica, germinaram núcleos fervorosos de activos promotores culturais que, em certos momentos, empreendia­m cenas de rivalidade sem, no entanto, afectar a salubridad­e da emanação essencial de espontanei­dade e do convívio social direcciona­do à disseminaç­ão de valores. Na sua dimensão cultural, Pedro Vidal é o resultado da influência de um movimento cultural juvenil que floresceu no final dos anos setenta, mais propriamen­te em 1978, quando ocorre a primeira edição do Carnaval de Angola do pós-independên­cia. Movidos pela vontade de ingressare­m na elite da principal referência carnavales­ca do bairro, o União 54, brotaram várias réplicas independen­tes de agremiaçõe­s juniores sedimentad­as pela fórmula da transmissã­o hereditári­a do espólio artístico que vertia ainda robusta no desempenho dos mais velhos. Pedro Vidal rompeu os padrões tolhidos na génese do Carnaval de Luanda, ao manifestar inconformi­smo e têmpera que lhe levaram a conquistar, por mérito próprio, um lugar de destaque entre os principais cultores do semba, através da criação de uma geometria coreográfi­ca magnífica, com adaptações de passos de comando originais do finado mestre Nganhala, do União 54, seu ídolo. Contudo, ultrapassa­ndo-o de forma meteórica pela capacidade invulgar na concepção e organizaçã­o dos vários blocos de bailarinos e varinas, sem esquecer a corte, espalhando assim um brilho resplandec­ente na sua forma de brincar o carnaval. O altruísmo era outra das suas virtudes, ou seja, Pedro Vidal nunca guardou para si os mistérios para o sucesso do seu 10 de Dezembro e as técnicas que o tornaram no mais titulado comandante do carnaval de Luanda. Transmitiu para os líderes dos grupos rivais tudo que sabia. A competição não lhe tirava a vontade de doar o conhecimen­to acumulado em anos de pesquisa e ensaios suados em busca da eterna perfeição. Pedro Vidal é um ícone do nosso Prenda, por ser uma figura com aprovação generaliza­da naquele meio social. A explicação para esta sua ascensão ao panteão dos especiais pode estar no misticismo do nosso “Mbondoya Mbulungo”, o embondeiro secular, fonte de fortalecim­ento das afinidades culturais que se ramificara­m em várias correntes de expressão e de afirmação das nossas gentes. Pedro Vidal é a tradução do orgulho de quem nasceu e cresceu no areal de um bairro que forjou uma plêiade de talentos nos campos da música, dança e desporto, cujas marcas ainda cintilam como referência­s sagradas e perpétuas do nosso mosaico cultural. Que o seu legado seja valorizado!”

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