“Nos últimos anos o quadro mudou para melhor”
Director do INAC, Paulo Kalesi diz que mais de nove mil crianças estão acolhidas, actualmente, em vários centros por todo o país
Edivaldo Cristóvão
A propósito do Dia da Criança Africana que se assinala hoje, 16 de Junho, o responsável revelou, por exemplo, que três em cada quatro crianças no país têm necessidades básicas, como a falta de alimentação, água, luz e habitação, segundo dados avançados ontem, em Luanda.
Paulo Kalesi disse que essas dificuldades fazem com que mais de nove mil crianças estejam acolhidas, actualmente, em vários centros por todo o país. Revelou, por isso, que existem cerca de 198 lares de acolhimento no país, que albergam mais de nove mil crianças, na sua maioria, controlados por igrejas, associações, Organizações Não Governamentais e os restantes pelo Estado.
O responsável revelou que o estigma do feitiço em Angola é ainda visível e, por este facto, muitas crianças perdem a vida por serem acusadas de práticas sobrenaturais. Algumas, disse, foram maltratadas e espancadas, mas, acrescentou, nos últimos dez anos o quadro mudou consideravelmente, para melhor.
Apesar de já não serem constantemente vítimas de maus-tratos, esclareceu que muitas crianças têm sido levadas a várias instituições para serem acompanhadas por especialistas. “Inclusive, registamos casos de crianças autistas, que sofrem deste estigma de feitiço, mas procuramos ajudar as famílias a compreender isso”, explicou.
Apoios
O director sublinhou que existem, por outro lado, crianças que se encontram no seio da família, mas apoiadas pelo Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher, através de vários projectos de apoio financeiro. Sobretudo àquelas que fazem parte de famílias em extrema vulnerabilidade social.
O objectivo do Executivo, disse Paulo Kalesi, é tirar cada vez mais crianças que se encontram nessa situação de vulnerabilidade, com realce para aquelas que não conseguem ter uma alimentação e cama para dormir.
“Existem localidades que, pela dimensão do país, alguns serviços como hospitais de referência, escolas, postos de registo, não estão disponíveis. Algumas crianças são mesmo vítimas do alcoolismo e, em função disso, tornam-se vulneráveis”, apontou.
Para o director, existem vários outros motivos que promovem essa vulnerabilidade, nomeadamente a pobreza nas famílias, conflitos e desestruturação familiar, violência doméstica, orfandade e carência de alguns serviços nas localidades em que se encontram.
Paulo Kalesi considera, assim, que as crianças, em Angola, enfrentam muitas dificuldades porque os seus direitos são, em parte violados e sublinhou, neste particular, o direito à educação. “Há crianças fora do sistema de ensino, muitas sem direito ao registo de nascimento e nacionalidade”, disse.
Além de algumas estarem desprotegidas, abandonadas e maltratadas, o director disse:” notamos que não são prioridade. Por isso, fazemos um trabalho de sensibilização, dando informação e apelando para que elas, as crianças, continuem na agenda das prioridades das famílias, associações, escolas, igrejas e ONG, no sentido de termos todos os seus direitos salvaguardados”.