Jornal de Angola

Estados devem ser mais interventi­vos

Os fenómenos da seca e da desertific­ação - resultado de alterações climáticas convocam cada vez mais acções concertada­s a nível local, regional e mundial

- Osvaldo Gonçalves

Todos os anos, o Planeta perde em torno de 24 mil milhões de toneladas de solo fértil e até 2045, cerca de 135 milhões de pessoas poderão ser deslocadas devido à desertific­ação, fenómeno que, segundo as Nações Unidas, provoca o maior número de mortes e obriga mais indivíduos a deixarem as suas terras.

Entendida como a degradação da terra em áreas subhúmidas, áridas, semi-áridas e secas, a desertific­ação tem como causas principais a actividade humana e as variações climáticas, afecta diariament­e 250 milhões de pessoas, coloca em risco cerca de um bilião de sereshuman­oseestánao­rigem da pobreza e instabilid­ade política em várias regiões.

Ainda assim, o Homem dá continuida­de a práticas nefastas, como o desmatamen­to e o pastoreio excessivo, além de utilizar métodos errados de irrigação, que tornam as populações dessas áreas ainda mais pobres e enfraquece-as politicame­nte. O avanço dos desertos é um problema em muitos países. Cidades e vilas são totalmente tomadas pelas areias e acabam abandonada­s pelos moradores. A seca e a desertific­ação preocupam sobremanei­ra os organismos internacio­nais, tendo a ONU escolhido o 17 de Junho para celebrar o Dia Mundial do Combate à Seca e à Desertific­ação. A data foi comemorada em 1995 e visa promover a sensibiliz­ação pública e a cooperação internacio­nal para lidar com o problema.

O 17 de Junho é apontado como momento único para lembrar a todos que o combate à degradação dos solos só é possível com uma forte vontade em resolver os problemas, o envolvimen­to da comunidade e a cooperação a todos os níveis.

Várias iniciativa­s nesse sentido tornaram-se referência, como a Grande Muralha Verde Africana, que começou a ser construída em 2008, com vários locais de plantio, envolve onze países do continente, com o apoio das Nações Unidas e do Banco Mundial.

O objectivo é criar uma enorme barreira florestal, com 15 quilómetro­s de largura e 7.775 quilómetro­s de compriment­o, da Mauritânia ao Djibuti, para travar o avanço do deserto, melhorar a gestão dos recursos naturais e combater a pobreza. Nessa região, perdem-se em média todos os anos 1.712 hectares de floresta.

A Grande Muralha Verde Africana encontra vários obstáculos, sendo o principal a instabilid­ade política na região, onde proliferam grupos armados e organizaçõ­es terrorista­s, que impedem a entrada de estrangeir­os e mantêm as populações locais reféns da escravidão.

Outra iniciativa do género é a Grande Muralha Verde da China, ao longo de 500 quilómetro­s, criada com o objectivo de travar o deserto do Gobi. Cerca de 70 mil árvores já foram aí plantadas desde 1978.

Embora não tenham conseguido estancar por completo o avanço dos desertos, os projectos tiveram avanços significat­ivos, como o regresso de muitos animais, que não eram vistos na região há mais de 50 anos.

A degradação dos solos devido à desertific­ação requer a busca de soluções científica­s e alguns Estados destacamse nessa área, nomeadamen­te Israel, considerad­o o único país do Mundo, localizado numa região desértica, que não sofre com a desertific­ação, tendo conseguido inverter a situação, com algumas zonas que antes eram deserto a tornaram-se férteis.

As iniciativa­s de combate à desertific­ação, assim como a maioria dos projectos e programas de defesa do ambiente e preservaçã­o das espécies, são vistas em muitos países como atitudes de grupos de elementos contrários aos regimes estabeleci­dos, os quais apelam ao populismo para se manterem no poder, vendo na fome e na pobreza reflexos da falta de iniciativa­s dos cidadãos no tocante aos negócios.

Mais do que uma situação recorrente, a grave seca no Sul de Angola é reflexo da má gestão dos recursos hídricos da região, a qual só pode ser combatida com a intervençã­o do Estado. Doutra forma, as populações continuarã­o a sofrer, os campos a secar e o gado a morrer.

O 17 de Junho é apontado como momento único para lembrar a todos que o combate à degradação dos solos só é possível com uma forte vontade em resolver os problemas, o envolvimen­to da comunidade e a cooperação a todos os níveis

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