HRW pede inquérito na guerra da Líbia
A organização Human Rights Watch (HRW) pediu, ontem, uma investigação urgente a possíveis “crimes de guerra” cometidos pelas forças do marechal Khalifa Haftar na Líbia, assinalando “provas aparentes de tortura” e “execuções sumárias”.
“O Exército Nacional Líbio (ENL, de Haftar) deve investigar urgentemente as provas aparentes de tortura, execuções sumárias e profanação de cadáveres cometidos pelos combatentes a ele associados”, indicou a organização de Defesa dos Direitos Humanos num comunicado.
Segundo a organização, vídeos “gravados e partilhados nas redes sociais em Maio deste ano” mostram combatentes, que a HRW identificou como ligados ao marechal Haftar”, envolvidos em tais actos. “A tortura dos detidos e a execução sumária dos combatentes capturados no terreno ou que se renderam são crimes de guerra”, lembra a organização.
Após terem lançado em Abril de 2019 uma ofensiva contra Tripoli, sede do Governo de Acordo Nacional (GAN) reconhecido pela ONU, as tropas do marechal Haftar tiveram de bater em retirada após uma série de reveses nas últimas semanas.
Os combates às portas da capital, num país em caos desde a queda de Muammar Kadhafi em 2011, causaram centenas de mortos, muitos civis, e mais de 200 mil deslocados internos e externos.
Na retirada para o Leste e Sul, os pró-Haftar foram acusados pelo GAN de terem deixado campos minados.
A Missão da ONU na Líbia (MANUL) declarou-se “horrorizada” com informações sobre a descoberta de, pelo menos, oito valas comuns em Tarhouna, último bastião dos pró-Haftar no Oeste líbio, recuperado a 5 de Junho pelas forças pró-GAN.
“Khalifa Haftar deve, com urgência, responsabilizar as suas forças por qualquer crime de guerra cometido”, afirmou Hanan Saleh, investigadora da HRW para a Líbia.
Saleh chamou a atenção dos comandantes do ENL para o facto de “também poderem ser responsabilizados por uma infinidade de crimes de guerra” se não pedirem contas aos responsáveis pelos crimes. A batalha de Tripoli foi marcada por um envolvimento crescente de potências estrangeiras, com a Turquia a apoiar o GAN e os Emirados Árabes Unidos, o Egipto e a Rússia a ajudarem Haftar.
Além dos comandantes das forças pró-Haftar, todas as partes estrangeiras “devem respeitar as leis da guerra”, nota a HRW.
A organização adianta que “para ajudar a encerrar o ciclo de impunidade na Líbia”, o Conselho de Direitos Humanos da ONU deve, na próxima sessão, ainda este mês, “criar uma missão internacional de investigação para documentar violações, identificar os responsáveis preservar provas sempre que possível para futuros processos e informar sobre a situação dos Direitos Humanos” no país.