EI e al-Qaeda de costas viradas na região do Sahel
Os grupos extremistas Estado Islâmico e al-Qaeda estão de costas voltadas, atacando-se mutuamente pela liderança do jihadismo na região do Sahel, sobretudo no Mali
O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) afirmou que, durante as últimas semanas, matou 200 combatentes do ramo da al-Qaeda no Mali, em vários confrontos no Sahel e na África Subsahariana.
De acordo com o semanário “Al Nabae”, citado, ontem, pela agência Efe, o Estado Islâmico refere que a maioria das mortes foi registada em Bila, região de Sikasso, no Sul do Mali, num atentado com um carro armadilhado.
O documento não especifica a data dos acontecimentos, mas aponta que os combatentes do ramo local da al-Qaeda, Nustrat al Islam ual Muslimin, estavam a preparar uma ofensiva contra as posições do grupo Estado Islâmico na mesma região.
Da mesma forma, o EI refere que foram mortos outros sete membros da alQaeda na fronteira entre o Burkina Faso e o Ghana.
A mesma nota diz que alguns dos combates tiveram lugar em várias partes do Burkina Faso, país para onde a al-Qaeda enviou um reforço dos combatentes tuaregues para apoiar as suas forças.
Na revista, o EI acusou a al-Qaeda de ter “alianças suspeitas” com Governos da região de modo a mobilizar um número maior de combatentes. A 29 de Abril, a Efe acedeu a uma mensagem de áudio do número dois do EI no Mali, Abdelhakim al Sahraui, enviada a Amadou Koufa, um dos líderes do Nusrat al Islam ual Muslimin.
Na mensagem, Al Sahraui pediu a Koufa uma compensação financeira pela morte de dois militantes do Estado Islâmico às mãos da al-Qaeda em Mopti, Centro do Mali, assim como a libertação dos membros capturados.
“O confronto entre nós levará à morte de centenas de combatentes e irá tornar-se num conflito tribal dentro do grupo étnico Fula. Tenham medo de Alá e evitem esta guerra”, disse Al-Sahraui na mensagem citada pela Efe.
O conflito entre os dois grupos assenta em razões ideológico-religiosas: O Estado Islâmico tem uma interpretação radical dos textos religiosos, considerando que os membros da al-Qaeda representam um grupo de revisionistas ou mesmo apóstatas.
Ataque mata Capacetes Azuis
Um comboio com equipamento logístico da Missão das Nações Unidas no Mali (Minusma, que fazia a ligação entre Tessalit e Gao, no Norte, foi atacado, ontem, por “homens armados” que “mataram dois soldados da paz”, disse a ONU, num comunicado divulgado, sem especificar a nacionalidade dos soldados mortos e ao qual a AFP teve acesso.
O comboio da missão das Nações Unidas foi atacado quando chegava à cidade de Tarkint, no Nordeste de Gao, tendo ocorrido um confronto que provocou a morte dos dois Capacetes Azuis. “As forças de paz da Minusma reagiram com firmeza e conseguiram colocar os agressores em fuga”, disse a ONU, no comunicado.
Mahamat Saleh Annadif, líder da Missão, exprimiu “indignação” e “profunda tristeza” pela morte dos Capacetes Azuis e condenou os “actos que visam paralisar as operações da Missão internacional no terreno. “Teremos de congregar todos os esforços para identificar e prender os responsáveis por esses actos terroristas, para que possam responder pelos seus crimes perante o sistema judicial”, disse o responsável da Minusma aos jornalistas.
A Missão das Nações Unidas no Mali envolve cerca de 13 mil soldados, e tem como principal risco e desafio o incremento recente de ataques jihadistas na região central do país, que tem sido palco de actos de violência desde 2015, sobretudo após o surgimento de um grupo liderado pelo pregador Peul Amadou Koufa, com ligações à rede al-Qaeda.
Num outro ataque, pelo menos, 24 soldados morreram na região central do Mali, segundo informou o Exército em comunicado.
As autoridades militares disseram à Agência France Press que dos 64 soldados que estavam no comboio composto por uma dezena de veículos, apenas 20 tinham sido localizados. Os outros ou tinham falecido ou estavam desaparecidos nos combates.