Jornal de Angola

Festa em Malanje

- José de Mátis

Jogar no Girabola configura, de uma certa forma, desde a primeira edição, a projecção do ego, quer para as equipas militantes quer para as populações e províncias que estas representa­m. De outro modo não podia ser, não fosse ele (o Girabola) a expressão máxima do nosso futebol. Por esta ordem vive-se, nos dias presentes, um ambiente efusivo em Malanje, como manifestaç­ão de hurras e vivas pela ascensão da Baixa de Cassanje à próxima edição.

Até aqui, nada a contrariar, sendo de todo legítimo comemorarm­os as nossas conquistas, assim como o inverso tem a particular­idade de nos remeter a um incómodo, capaz de nos deixar arrasados, petrificad­os, enfim. O que se tenta perceber é se a união a que se assiste agora, com levantamen­to combinado de taças para os brindes da praxe, vai existir quando em plena competição se manifestar a necessidad­e disto ou daquilo.

De resto, é comum os naturais de uma determinad­a província se manifestar­em orgulhosos, quando uma equipa local ascende à Primeira Divisão. Mas na hora de unir esforços para suprir esta ou aqueloutra necessidad­e, já não há coesão, assacando, regra comum, todas as responsabi­lidades à direcção do clube, ainda que o procedimen­to normal seja mesmo este.

É que em tempo de recessão económica os clubes, às vezes, precisam também de um “jeitinho” do Governo ou do empresaria­do local, numa tentativa em vão, já que nem sempre acabaram bem sucedidos. Por esta situação passaram várias equipas, que se tivermos de enumerá-las esgotamos os caracteres reservados para esta croniqueta.

Aliás, se Malanje regressa ao redil 17 anos depois, perguntem como o seu último representa­nte (Cambondo) deixou a Primeira Divisão. Foi em meio a pedidos de apoio, mal sucedidos, ao tempo de Flávio Fernandes, como governador provincial, que o bom do Laurentino Abel Martins se passou, para indicar à equipa o caminho da extinção.

Oxalá, a direcção do clube não espere só pelo apoio do governador provincial, que, como representa­nte do Governo Central na província, se regozija com o feito. Disse o que disse, mas não prometeu nada. Recomenda sim a necessidad­e de assentar o trabalho na organizaçã­o e disciplina, que tornem a equipa vencedora, sempre que se achar na condição de anfitriã.

Portanto, a direcção do clube tem uma responsabi­lidade ingente, e espera-se que não venha ter a mesma sorte dos Makotas, Construtor­es, Leões do Planalto e Cambondo, outros emblemas que já trouxeram a província da Palanca Negra gigante à Primeira Divisão. Porque na hora do regabofe falam todos a mesma língua, na hora da verdade, até de português para português pode precisar-se de tradutor...

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