Festa em Malanje
Jogar no Girabola configura, de uma certa forma, desde a primeira edição, a projecção do ego, quer para as equipas militantes quer para as populações e províncias que estas representam. De outro modo não podia ser, não fosse ele (o Girabola) a expressão máxima do nosso futebol. Por esta ordem vive-se, nos dias presentes, um ambiente efusivo em Malanje, como manifestação de hurras e vivas pela ascensão da Baixa de Cassanje à próxima edição.
Até aqui, nada a contrariar, sendo de todo legítimo comemorarmos as nossas conquistas, assim como o inverso tem a particularidade de nos remeter a um incómodo, capaz de nos deixar arrasados, petrificados, enfim. O que se tenta perceber é se a união a que se assiste agora, com levantamento combinado de taças para os brindes da praxe, vai existir quando em plena competição se manifestar a necessidade disto ou daquilo.
De resto, é comum os naturais de uma determinada província se manifestarem orgulhosos, quando uma equipa local ascende à Primeira Divisão. Mas na hora de unir esforços para suprir esta ou aqueloutra necessidade, já não há coesão, assacando, regra comum, todas as responsabilidades à direcção do clube, ainda que o procedimento normal seja mesmo este.
É que em tempo de recessão económica os clubes, às vezes, precisam também de um “jeitinho” do Governo ou do empresariado local, numa tentativa em vão, já que nem sempre acabaram bem sucedidos. Por esta situação passaram várias equipas, que se tivermos de enumerá-las esgotamos os caracteres reservados para esta croniqueta.
Aliás, se Malanje regressa ao redil 17 anos depois, perguntem como o seu último representante (Cambondo) deixou a Primeira Divisão. Foi em meio a pedidos de apoio, mal sucedidos, ao tempo de Flávio Fernandes, como governador provincial, que o bom do Laurentino Abel Martins se passou, para indicar à equipa o caminho da extinção.
Oxalá, a direcção do clube não espere só pelo apoio do governador provincial, que, como representante do Governo Central na província, se regozija com o feito. Disse o que disse, mas não prometeu nada. Recomenda sim a necessidade de assentar o trabalho na organização e disciplina, que tornem a equipa vencedora, sempre que se achar na condição de anfitriã.
Portanto, a direcção do clube tem uma responsabilidade ingente, e espera-se que não venha ter a mesma sorte dos Makotas, Construtores, Leões do Planalto e Cambondo, outros emblemas que já trouxeram a província da Palanca Negra gigante à Primeira Divisão. Porque na hora do regabofe falam todos a mesma língua, na hora da verdade, até de português para português pode precisar-se de tradutor...