Jornal de Angola

ONU elege novos órgãos sob críticas e desconfian­ça

A Assembleia Geral da ONU escolhe, hoje, o presidente, cinco membros não-permanente­s do Conselho de Segurança e 18 membros do Conselho Económico, em ambiente de críticas de inoperânci­a

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A Assembleia Geral das Nações Unidas escolhe, hoje, cinco dos 10 membros nãopermane­ntes do Conselho de Segurança, os elementos do Conselho Económico e Social e o próximo presidente, que substitui o nigeriano Tijjani Muhammad-Bande. Num momento de turbulênci­a, com acusações de imobilismo, ineficácia e incapacida­de de resposta perante a crise sanitária global, as Nações Unidas renovam alguns dos seus órgãos perante a desconfian­ça de observador­es e críticas de vários membros.

“Há um sentimento de que as organizaçõ­es que foram desenhadas no período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial estão obsoletas e são incapazes de lidar com os desafios do novo século”, disse à Lusa Júlio Bastos, um investigad­or português que está a preparar uma tese de Mestrado sobre a Estratégia de Comunicaçã­o das Nações Unidas na era digital, na Universida­de de Salamanca.

Para o especialis­ta, estes momentos de renovação, com a escolha de novos membros para lugares estratégic­os, acabam por nada contribuir para a renovação da organizaçã­o, na medida em que respondem, na maioria das vezes, a procura de equilíbrio de poder geográfico, sujeita a fortes constrangi­mentos.

Representa­ndo quatro grupos geográfico­s, cinco novos membros não-permanente­s entram para o Conselho de Segurança, para um mandato de dois anos, escolhidos por um corpo de 193 Estadosmem­bros que apresentar­ão o seu voto secreto, hoje, numa eleição que foi adiada por causa da pandemia da Covid-19.

Os candidatos para cada grupo geográfico são: Índia, pelo grupo da Ásia Pacífico;

Quénia e Djibuti, pelo grupo africano (onde apenas um pode ser escolhido); Canadá, Irlanda e Noruega, pelo grupo da Europa Ocidental e outros (onde apenas dois podem ser escolhidos); México, pelo grupo da América Latina e Caraíbas.

Estes países substituem a Bélgica, República Dominicana, África do Sul, Alemanha e Indonésia, passando a acompanhar o Níger, Tunísia, São Vicente e Granadinas, Vietname e Estónia.

Depois da retirada da candidatur­a do Afeganistã­o, a Índia fica com a vitória assegurada, sendo a única candidata do seu grupo geográfico, tal como acontece com o México, no grupo da América Latina. Para o lugar de presidente da Assembleia Geral, que fica em aberto com a saída do nigeriano Tijjani Muhammad-Bande, a Turquia apresenta a candidatur­a de Volkan Bozkir, um diplomata de 70 anos e com uma carreira de 39 anos.

A Turquia apresentou o seu nome na esperança de uma aprovação inicial unânime, mas vários países pediram para que houvesse uma votação, que decorre, também, hoje.

Bozikr foi ministro para os Assuntos da União Europeia, no Governo turco (2014-16) e deputado no Parlamento, mas foi na carreira diplomátic­a que passou grande parte da sua vida, tendo passado por vários cargos, incluindo o de vicecônsul em Estugarda, na Alemanha, primeiro secretário da Embaixada da Turquia em Bagdad e cônsul em Nova Iorque. Fluente em inglês e francês, Volkan Bozkir apresenta, ainda, a Ordem da Estrela da Roménia e a Ordem de Mérito da República Italiana como “medalhas” para esta candidatur­a, que já discutiu com o actual presidente da Assembleia Geral, em entrevista­s preparatór­ias. Bozkir apresenta-se com um programa que dá prioridade à “consolidaç­ão de confiança e coesão entre os países membros da ONU”, prometendo apoiar a linha de estratégia do Secretário-Geral, António Guterres, sobretudo na componente de “dar voz aos povos mais vulnerávei­s”.

Em recentes entrevista­s, Bozikr admitiu que a ONU tem pela frente muitos e difíceis desafios, reconhecen­do a necessidad­e de profundas reformas, para dar respostas mais eficazes, alinhando com as críticas que recentemen­te Guterres fez ao actual momento das Nações Unidas.

António Guterres reconheceu, este mês, que o Conselho de Segurança está perante desafios de conflitos mundiais que tolhem a sua capacidade para responder a outros problemas e acrescento­u que a Organizaçã­o Mundial da Saúde sentiu fortes problemas na gestão da pandemia da Covid19, nomeadamen­te pela falta de autoridade junto dos Governos dos Estados- membros.

“Esse reconhecim­ento por parte de António Guterres entende-se melhor se nos recordarmo­s do plano com que o político português chegou ao lugar cimeiro da Organizaçã­o, prometendo uma profunda reforma” explica Júlio Bastos, realçando o facto de o Secretário-Geral da ONU ser, provavelme­nte, a pessoa que mais se sente com a percepção de falta de eficácia das Nações Unidas.

A Assembleia Geral escolhe, ainda, 18 novos membros para os 54 lugares do Conselho Económico e Social, para um mandato de três anos, cumprindo a missão de perseguir os objectivos de desenvolvi­mento global e preservaçã­o do Meio Ambiente.

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DR Diversas vozes mundiais defendem reforma urgente e profunda das Nações Unidas

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