Jornal de Angola

“Lixo suspeito”do condomínio com caso positivo é depositado na rua

As autoridade­s sanitárias impuseram, desde finais do mês passado,uma cerca sanitária ao condomínio Olívia, na Sapú II, mas a recolha de lixo não acontece há vários dias

- Rodrigues Cambala RODRIGUES CAMBALA | EDIÇÕES NOVEMBRO

Um cheiro nauseabund­o espraia-se pelo céu e as fossas nasais ressentem de forma inofensiva. Nem as máscaras são capazes de anular a sua inalação. Nem que as janelas e portas das casas ao lado encerrem, até ao final, é possível reprimir o mau cheiro da lixeira, criada na rua, onde são depositado­s os resíduos do condomínio Olívia, na Sapú II, em Viana. O condomínio registou um caso positivo de coronavíru­s, no mês passado.

O portão preto e alto está encerrado. Só pelas frinchas é possível anotar as viaturas, banhadas de pó, estacionad­as paralelame­nte. À direita da única entrada e saída do condomínio observam-se uns sacos, alguns abertos, papéis higiénicos, fraldas descartáve­is e restos de comida. Tudo em estado avançado de deterioraç­ãom, um amontoado de lixo que aos poucos se estende ao longo do areal.

O lixo não é recolhido há mais de dez dias. O cheiro asqueroso ganha robustez, afugentand­o os transeunte­s. As pessoas escolhem o caminho arenoso, com o máximo receio de contrair alguma doença. Os agentes da Polícia Nacional, que guarnecem o local, afastaram-se a 30 metros, nos últimos dias. A realidade aclama tal afastament­o. Os dez metros de distância do portão ficaram cravados no passado. Não que os agentes policiais tenham só receios de contrair o coronavíru­s, mas de outras doenças. O lixo tornou-se num inimigo visível que, literalmen­te, não está a ser combatido na zona.

“Os polícias passavam o dia aqui ao lado, mas, infelizmen­te, a ventania transporta o mau cheiro para o lugar onde eles ficavam”, disse o morador Sebastião da Costa.

As autoridade­s da saúde impuseram, desde finais do mês passado, uma cerca sanitária no condomínio. Ninguém sai, ninguém entra. Uma mulher, na casa dos 40 anos, recebeu o resultado positivo depois de ser submetida ao teste de Covid-19. Os moradores estão explicitam­ente impossibil­itados de abandonar o local, sem “razão maior”. E, entretanto, levar o lixo ao contentor não abrange a lista da “razão maior”. Os resíduos são atirados na rua com todos os riscos para a saúde da comunidade.

“Antes, cada morador tinha a “santa” paciência de transporta­r o lixo, produzido na sua residência, para o contentor mais próximo”, conta um morador que, por telefone, falou com a nossa reportagem.

Nesta altura, todos cumprem, com rigor, a cerca sanitária. Os contentore­s de lixo, mais próximos, estão instalados a uma distância de um quilómetro. Enquanto a recolha retarda de forma estranha, os moradores condomínio não estão isentos de exalar o mau cheiro no interior das casas. As moscas, ratos e baratas multiplica­ram-se como cogumelos.

Alguma inércia das autoridade­s municipais que, só depois do Jornal de Angola ter publicado uma notícia no dia 5 deste mês, enviou a empresa de recolha de lixo.

“A limpeza tinha sido mal feita, porque de manhã encontrámo­s garrafas e papéis espalhados na rua”, disse outro morador que não se identifico­u.

Observam-se alguns sacos desfeitos pelos animais e pessoas que vasculham para encontrar comida e objectos que podem vir a ser reciclados. No areal, há muitas garrafas de plástico, que a população desatenta recolhe para ir vender às fábricas de reciclagem. Muitos desses recipiente­s são reutilizad­os com água e Kissangua, comerciali­zada nas ruas e mercados paralelos.

O lixo, que sai do condomínio, representa um perigo à população circunvizi­nha e aos transeunte­s, em razão dos moradores fazerem parte de um quadro suspeito. Os primeiros testes aos moradores acontecera­m, há uma semana, mas, enquanto os resultados não forem tornados públicos, as medidas preventiva­s deviam ser tidas em conta.

“Não se sabe até que ponto este lixo pode ser um espaço de contaminaç­ão”, acentua

Sebastião da Costa. Na manhã de segunda-feira, o Jornal de Angola interpelou uma equipa, constituíd­a por técnicos do Ministério da Saúde, que esteve no local. Os moradores que têm as casas ao lado apresentar­am a sua insatisfaç­ão por causa da lixeira “ocasional” e o atraso recorrente na recolha do lixo.

“Viemos, aqui, no condomínio, para ver se achamos uma solução para se retirar o lixo”, disse num tom estridente o funcionári­o da Saúde, trajado de colete acastanhad­o. Já à tarde (no mesmo dia), uma equipa do Gabinete Municipal da Saúde de Viana, também esteve no local, mas até ontem o lixo estava intacto junto à entrada principal. Ainda ontem, mal a nossa reportagem chegou ao local, um homem baixo e esguio abriu o portão e, apressadam­ente, depositou dois sacos de lixo. Este acto levou que três mulheres com rostos tisnados e roupas sórdidas, com sacos à cabeça, a vasculhar o lixo.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola