“Lixo suspeito”do condomínio com caso positivo é depositado na rua
As autoridades sanitárias impuseram, desde finais do mês passado,uma cerca sanitária ao condomínio Olívia, na Sapú II, mas a recolha de lixo não acontece há vários dias
Um cheiro nauseabundo espraia-se pelo céu e as fossas nasais ressentem de forma inofensiva. Nem as máscaras são capazes de anular a sua inalação. Nem que as janelas e portas das casas ao lado encerrem, até ao final, é possível reprimir o mau cheiro da lixeira, criada na rua, onde são depositados os resíduos do condomínio Olívia, na Sapú II, em Viana. O condomínio registou um caso positivo de coronavírus, no mês passado.
O portão preto e alto está encerrado. Só pelas frinchas é possível anotar as viaturas, banhadas de pó, estacionadas paralelamente. À direita da única entrada e saída do condomínio observam-se uns sacos, alguns abertos, papéis higiénicos, fraldas descartáveis e restos de comida. Tudo em estado avançado de deterioraçãom, um amontoado de lixo que aos poucos se estende ao longo do areal.
O lixo não é recolhido há mais de dez dias. O cheiro asqueroso ganha robustez, afugentando os transeuntes. As pessoas escolhem o caminho arenoso, com o máximo receio de contrair alguma doença. Os agentes da Polícia Nacional, que guarnecem o local, afastaram-se a 30 metros, nos últimos dias. A realidade aclama tal afastamento. Os dez metros de distância do portão ficaram cravados no passado. Não que os agentes policiais tenham só receios de contrair o coronavírus, mas de outras doenças. O lixo tornou-se num inimigo visível que, literalmente, não está a ser combatido na zona.
“Os polícias passavam o dia aqui ao lado, mas, infelizmente, a ventania transporta o mau cheiro para o lugar onde eles ficavam”, disse o morador Sebastião da Costa.
As autoridades da saúde impuseram, desde finais do mês passado, uma cerca sanitária no condomínio. Ninguém sai, ninguém entra. Uma mulher, na casa dos 40 anos, recebeu o resultado positivo depois de ser submetida ao teste de Covid-19. Os moradores estão explicitamente impossibilitados de abandonar o local, sem “razão maior”. E, entretanto, levar o lixo ao contentor não abrange a lista da “razão maior”. Os resíduos são atirados na rua com todos os riscos para a saúde da comunidade.
“Antes, cada morador tinha a “santa” paciência de transportar o lixo, produzido na sua residência, para o contentor mais próximo”, conta um morador que, por telefone, falou com a nossa reportagem.
Nesta altura, todos cumprem, com rigor, a cerca sanitária. Os contentores de lixo, mais próximos, estão instalados a uma distância de um quilómetro. Enquanto a recolha retarda de forma estranha, os moradores condomínio não estão isentos de exalar o mau cheiro no interior das casas. As moscas, ratos e baratas multiplicaram-se como cogumelos.
Alguma inércia das autoridades municipais que, só depois do Jornal de Angola ter publicado uma notícia no dia 5 deste mês, enviou a empresa de recolha de lixo.
“A limpeza tinha sido mal feita, porque de manhã encontrámos garrafas e papéis espalhados na rua”, disse outro morador que não se identificou.
Observam-se alguns sacos desfeitos pelos animais e pessoas que vasculham para encontrar comida e objectos que podem vir a ser reciclados. No areal, há muitas garrafas de plástico, que a população desatenta recolhe para ir vender às fábricas de reciclagem. Muitos desses recipientes são reutilizados com água e Kissangua, comercializada nas ruas e mercados paralelos.
O lixo, que sai do condomínio, representa um perigo à população circunvizinha e aos transeuntes, em razão dos moradores fazerem parte de um quadro suspeito. Os primeiros testes aos moradores aconteceram, há uma semana, mas, enquanto os resultados não forem tornados públicos, as medidas preventivas deviam ser tidas em conta.
“Não se sabe até que ponto este lixo pode ser um espaço de contaminação”, acentua
Sebastião da Costa. Na manhã de segunda-feira, o Jornal de Angola interpelou uma equipa, constituída por técnicos do Ministério da Saúde, que esteve no local. Os moradores que têm as casas ao lado apresentaram a sua insatisfação por causa da lixeira “ocasional” e o atraso recorrente na recolha do lixo.
“Viemos, aqui, no condomínio, para ver se achamos uma solução para se retirar o lixo”, disse num tom estridente o funcionário da Saúde, trajado de colete acastanhado. Já à tarde (no mesmo dia), uma equipa do Gabinete Municipal da Saúde de Viana, também esteve no local, mas até ontem o lixo estava intacto junto à entrada principal. Ainda ontem, mal a nossa reportagem chegou ao local, um homem baixo e esguio abriu o portão e, apressadamente, depositou dois sacos de lixo. Este acto levou que três mulheres com rostos tisnados e roupas sórdidas, com sacos à cabeça, a vasculhar o lixo.