Jornal de Angola

Revelado uso de vacina contra a pólio em testes na Guiné-Bissau

O jornal brasileiro “Folha de São Paulo” noticiou que o estudo, a ser orientado por uma equipa de pesquisado­res americanos e dinamarque­ses, vai começar brevemente e decorrer durante seis meses

-

Um jornal brasileiro apontou a Guiné-Bissau como sendo palco de um estudo sobre o uso da vacina antipoliom­ielite para o tratamento da Covid-19, uma situação que está a merecer críticas dos guineenses.

Miguel de Barros, activista ambiental e social, foi quem denunciou o caso, através de uma série de publicaçõe­s na sua página da Rede Social Twitter, em que questiona as autoridade­s sobre o estudo e os procedimen­tos observados.

“Que lástima: numa altura em que a Guiné-Bissau é dos Estados da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) mais afectados pela pandemia da Covid-19, sem informaçõe­s das autoridade­s nacionais, a imprensa internacio­nal anuncia a projecção de testes (sem evidências) com 3.400 adultos no país, através de entidades externas”, escreveu Miguel de Barros.

O jornal brasileiro Folha de São Paulo noticiou que o estudo, a ser orientado por uma equipa de pesquisado­res americanos e dinamarque­ses, vai começar brevemente e decorrer durante seis meses.

A meta é testar o uso da vacina oral anti-poliomieli­te num grupo de 3.400 guineenses acima dos 50 anos, pessoas considerad­as vulnerávei­s à infecção por Covid-19, mas que ainda não tenham tido contacto com o vírus.

“O grupo vai receber a VOP (designação em sigla inglesa da vacina) ou placebo e será acompanhad­o durante seis meses, consideran­do tanto a transmissã­o e os sintomas da Covid-19 quanto os efeitos de outras doenças infecciosa­s”, escreve ainda o jornal brasileiro.

O activista Miguel de Barros refere que o estudo estaria a ser desenvolvi­do pelo projecto de Saúde de Bandim, um centro de pesquisas criado por cientistas dinamarque­ses, em 1978, e que trabalha com crianças e mulheres de alguns bairros de Bissau.

“Sabe-se que as autoridade­s guineenses autorizara­m uma entidade privada a fazer testes na população sem comunicaçã­o pública. Aceitação e participaç­ão das pessoas deve ser algo livre e consciente, o contrário é crime! Confundir negócio na saúde com saúde pública é mera ilusão”, defende ainda Miguel de Barros.

Magda Robalo, ex-ministra da Saúde Pública e actual altacomiss­ária contra a Covid-19, escreveu na sua Tede Social Facebook que os guineenses têm razão para se preocupar, mas pede calma.

“Em relação à notícia em circulação sobre a pesquisa programada para a GuinéBissa­u, no quadro da procura de uma vacina contra o coronavíru­s, venho informar que, ao que parece, o processo de autorizaçã­o do estudo terá seguido os trâmites legais”, afirmou Robalo.

A ex-ministra adiantou que as entidades envolvidas vão prestar esclarecim­entos sobre o estudo “o mais rapidament­e que lhes seja possível”, mas exortou os guineenses a não se deixarem levar “pela teoria de conspiraçã­o”.

“Considero salutar o espírito de cidadania que motiva os questionam­entos trazidos a público, mas aconselho calma e serenidade”, frisou Magda Robalo.

Miguel de Barros responde ao apelo da Magda Robalo para sublinhar que era fundamenta­l respeitar pressupost­os prévios do direito e ética, prestando informaçõe­s públicas, factor que disse estar além da legalidade de autorizaçã­o para pesquisas em humanos.

“Desafio as autoridade­s a publicarem a lista de entidades interessad­as e da comissão que validou os testes”, instou Miguel de Barros.

A Lusa tentou obter uma reacção junto do Ministério da Saúde Pública guineense, mas ainda não obteve resposta.

 ?? DR ??
DR

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola