Falta um artigo na Constituição americana
O continente africano tem sido o palco do mundo ocidental para a prática de todos os crimes inimagináveis no pior dos apocalipses e tudo em nome de Deus, da civilização, da fé e da salvação das almas depois da morte colectiva, de Angola foi a maior movimentação humana colectiva de milhões de seres, algemados mares afora, morrendo pelo caminho nos porões a abarrotar para o esclavagismo como sistema com estruturas desde as artes de navegação à estrutura ideológica da inquisição com as queimas de caciques aborígenes que se recusaram a entregar seu povo às plantações de tabaco oucana-de-açúcar ou ao trabalho mais penoso das minas, construção civil, tudo do império que foi o Brasil, até as obras de arte tem suor de negros e o grande Zumbi, descendente de angolanos, do Quilombo dos Palmares, a primeira República multirracial como ele lhe chamava, só foi destruído quando os fazendeiros e a tropa se juntaram, sofreram perdas para escalar a serra que chegava ao Quilombo até o destruírem com canhões não deixando pedra sobre pedra e colocando a cabeça de zumbi espetada num pau para que no Recife as pessoas perdessem o medo do mito Zumbi.
A história das invasões a Angola e outras terras, a que chamaram, primeiro achamentos e depois descobrimentos são as mentiras verdadeiras que só, ultimamente, os modernos historiadores e antropólogos têm vindo a despir de suas propositadas fantasias.
No Brasil os africanos encontraram um habitat semelhante ao do nosso continente, era a outra parte quando se separaram e deram dois continentes, com flora semelhante, clima, o que favoreceu a multiplicação das pessoas, a reinvenção existencial depois do epistemicídio que custou a perda da língua e a reinvenção de novos contextos como os orixás, o candomblé e as comidas com dendém, para além dos instrumentos trazidos e que ainda hoje enchem as rodas de capoeira.
O Brasil é um país de maioria negra e o segundo depois da Nigéria. No entanto, quem abrir canais de televisão brasileiros pode demorar bastante tempo para ver negros apresentadores ou artistas de telenovela. É o país mais racista do mundo mas com o cinismo de um falso lusotropicalismo à maneira de Casa Grande e Senzala. Mesmo com as quotas instituídas por Lula para lugares nas universidades destinados a negros…nem assim o Brasil de Pelé e Mané Garrincha, deixou de ser como ficou depois de uma lei da abolição mal feita, os proprietários largaram seus escravos que foram abandonados aos serviços mais vexatórios como carregar as fezes que eram despejadas em tambores, uma corda, um pau e um negro em cada ponta do pau. Os esclavagistas protegiam os escravos sua propriedade, agora, sem tal protecção foram abandonados à construção de favelas que prolongaram, aumentaram até aos nossos dias sem que aconteça a segunda abolição…
A luta na América foi diferente. O habitat hostil. O frio. E a minoria. Que trabalhou nas plantações e minas com açoites e enforcamentos. Mesmo assim, assaltaram os instrumentos do outro, fizeram da melhor música do mundo, o jazz, homens como Armstrong e os sons que deixou à humanidade, vozes como de Ella Fitzgerald, grandes orquestras com maestros…mas tudo começa com a guerra da secessão para pôr fim à escravatura (o Norte contra o Sul a favor da escravatura). Depois faltavam os direitos cívicos. Os africanos e os que foram de África para o outro lado do marsão o símbolo de como os ofendidos e oprimidos sabem perdoar aos ofensores e opressores. Nelson Mandela é admirado pelo seu próprio carcereiro. Luter King foi assassinado por lutar pacificamente pela liberdade.
E criou-se o estigma. Basta uma gota de sangue negro para manchar. É óbvio que os ocidentais só se passaram a chamar brancos quando viram os negros. Afinal havia gente com uma cor definida. Daí passaram-se a chamar brancos, que nenhum é da cor da folha de A-4. Então, a família Trump é de origem alemã, escocesa, tcheca e eslovaca. Trump é neto de um alemão, filho de uma senhora do norte da Escócia que chegou à América com 50 dólares. Os brancos são todos americanos, não se intitulam euro-americanos…só os negros é que não são americanos mas afro-americanos… como os brasileiros chamam afro-brasileiros e…o filho de um emigrante recém-chegado é brasileiro. Viu-se a guerra racista de Trump contra Obama que nasceu da barriga de uma branca americana!
Trump deixou a discussão sobre o clima. Com a Coreia do Norte meteu a viola no saco. Abandonou a OMS. Toma cloroquina sem explicar o porquê.
Os últimos tempos ficam para sempre marcados pelo crime sórdido contra um negro americano.
Nos meus tempos de jurista costumava dizer que lá onde as constituições dizem que os cidadãos são iguais, etc, é porque não são. Se fossem não era preciso como não é preciso escrever que temos o direito a olhar as estrelas. Agora não, afinal enganei-me nervosamente emocionado. Um polícia branco, com o joelho no pescoço da vítima asfixia o negro George Floyd a dizer que não conseguia respirar. As imagens correram o mundo. Os polícias foram apenas suspensos. Parece que já prenderam o assassino. As manifestações espalharam-se por dezenas de cidades com violência, incêndios, mortos e feridos. Trump foi remetido para um subterrâneo. O governador do estado pediu desculpa. Temos todos que estar com a memória de George. Vamos fazer camisolas com o rosto dele. Vamos escrever e cantar blues com o nome dele. E não vamos perdoar mais. E agora? Afinal falta um artigo na constituição americana:
Fica estabelecido que todo e qualquer cidadão americano ou residente nos Estados Unidos da América tem direito a respirar.
Trump deixou a discussão sobre o clima. Com a Coreia do Norte meteu a viola no saco. Abandonou a OMS. Toma cloroquina sem explicar o porquê. Os últimos tempos ficam para sempre marcados pelo crime sórdido contra um negro americano