Covid faz renascer debates teológico-doutrinários
A pandemia da Covid-19 no seio das igrejas e círculos teológicos também está a servir de referência a estudos doutrinários. Por exemplo, muitas religiões defendem a Santa Ceia, um ritual cristão que consiste na partilha de elementos simbólicos (pão e vinho), feita numa taça onde todos bebem e o pão é distribuído pelo sacerdote responsável pela ministração.
Conforme explicou o estudante do curso superior de Teologia, o pastor António Pedro Libra, é bastante discutida a eficácia deste ritual, por representar, para muitos, um atentado às normas de higienização. Nas novas regras de celebração, as igrejas consentem todas em fazer esta tradicional cerimónia de santa comunhão em taças/cálices individuais e retiram do sacerdote a missão de dar o pão à boca do fiel (que passa a fazê-lo por si mesmo) ou de qualquer outro ministro fazer a sua distribuição.
Por outro lado, e conforme se constata em outras igrejas, disse, a entrada no templo sagrado é feita de pés descalços ou protegidos apenas por meias brancas (preferencialmente). Esta posição ortodoxa para uns e em claro desuso para outras confissões religiosas também foi trazida nas novas regras de algumas igrejas. Segundo elas, para evitarem um provável transporte do novo coronavírus pelos sapatos, descalçar à entrada foi a saída encontrada. Há quem apenas introduziu um cobertor embebido em água, lixívia e outros desinfectantes, como tapete de entrada para a limpeza dos pés.
No seio das igrejas, conforme disse-nos o teólogo, docente em cursos médios e básicos, começa-se a valorizar regras determinadas por Deus aos levitas, descritas no livro de Levítico, o terceiro da Bíblia Sagrada, no Antigo Testamento.
Uma clara reconquista é a diminuição de usuários dos altares numa só cerimónia e a não troca de microfones entre usuários. Também a distribuição de folhetos de papéis, uma prática introduzida pela reforma protestante nos cultos, começa a ser recomendado o abandono. Todas estas mudanças resumem a organização de culto em que a igreja saiba a sua liturgia sem precisar de mostrar por papéis e que cada um tenha o seu hinário e a sua Bíblia para acompanhar a pregação, estudo ou canto.