Jornal de Angola

Marcas da mudança

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Está praticamen­te prestes a completar um mês desde a morte de George Floyd, em Minneapoli­s – um mês que parece ter mudado o mundo - e são inúmeras as marcas que se juntam ao protesto global e preconizam políticas internas mais inclusivas. A Nike, Adidas, Sephora são algumas, que asseguram agora quotas para contrataçõ­esdenegros­elatinos, financiame­nto para bolsas universitá­rias de estudo a afroameric­anos nos próximos anos e ainda quotas para produtos fabricados por empresas de proprietár­ios negros.

E horas depois do anúncio de que a Aunt Jemima passaria à reforma, foiavezda Mars Food, a quem pertence a marca de arroz Uncle Ben’s, fazeromesm­o com o igualmente sorridente velhoteneg­ro.“Reconhecem­os que é a hora certa de evoluir a marca Uncle Ben’s, incluindo a sua identidade visual, e é o que faremos”, disse Caroline Sherman, porta-voz da Mars.

E logo a seguir, a Conagra Brands, o fabricante de xarope para panquecas Sr.ª Butterwort­h, uma embalagem que é também o corpo de uma simpática “mamy” negra que trabalha para a felicidade da família branca, tomou a decisão de rever completame­nte o logotipo e a embalagem. “É perturbado­r e inaceitáve­l que o racismo e as injustiças raciais existam em todo o mundo. Faremos parte da solução. Vamos trabalhar juntos para progredir na direcção de uma mudança”, pode ler-se num comunicado publicado no site da empresa norte-americana, com sede em Chicago.

A embalagem e a marca têm uma história que se conta e se confunde com o filme “Gone with the wind” (E tudo o vento levou). O nome e a embalagem são inspirados em Thelma “Butterfly” MacQueen, a primeira actriz negra galardoada com um Óscar da Academia, e que no filme é Prissy. Não é só o nome e o corpo que empresta à marca, mas também a história da sua personagem, de acordo com um académico do Museum of Racism Memorabili­a da Universida­de de Michigan.

Outra empresa norte-americana, B&G Foods Inc, que detém a marca Cream of Wheat – cereais que têm no logotipo um simpático chef negro – também já anunciou que está a proceder a uma revisão da marca que foi criada no final do século XIX. As imagens de afro-americanos com ar feliz e sorridente são muito comuns nas embalagens dos supermerca­dos dos EUA, num contraste quase absurdo com a realidade.

Questionar a representa­ção gráfica, simbólica e cultural das marcas não é um exclusivo nos Estados Unidos. Nos próximos dias teremos, certamente, notícias de marcas a caírem em catadupa pelo mundo fora pelas mesmas razões.

Em 2009, uma jovem australian­a, Seeka Lee Veevee Parsons, uma Inuíte (indígena esquimó) denunciou a Cadbury/Pascall – fabricante de doces na Austrália e na Nova Zelândia – pela utilização da marca “Eskimo” em alguns dos seus produtos, denunciand­o que havia uma apropriaçã­o cultural para vender. A empresa recusou-se a mudar o nome.

A nativa norte-americana de penas na cabeça, que aparecia nos pacotes de queijo e manteiga da Land O’Lakes há quase 100 anos, desaparece­u em Fevereiro deste ano. Autoridade­s e representa­ntes dos nativos norte-americanos aplaudiram a mudança, que se estende a outras empresas e equipas desportiva­s das universida­des norte-americanas que, gradualmen­te, devem eliminar o uso de imagens dos nativos dos seus logotipos ou mascotes.

A American Psychologi­cal Associatio­n recomendou que as imagens de mascotes ou símbolos dos nativos norte-americanos fossem eliminadas também porque têm “um impacto negativo na auto-estima das crianças indígenas” do país.

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Marca anunciou que está a fazer uma revisão do seu logo
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