“Não podemos facilitar”
Na cerimónia de tomada de posse dos secretários de Estado para o Ensino Secundário e para os Assuntos Económicos do Presidente da República, bem como do embaixador na Bélgica e União Europeia, o Presidente João Lourenço, referindo-se ao sector da Educação disse, dentre outras verdades, que “Não podemos facilitar”.
Ousamos titular esta reflexão com o referido extracto do pronunciamento do Presidente da República, entendendo a frase como uma recomendação para todos os sectores da sociedade angolana, pois parece ter havido um generalizado movimento de institucionalização da cultura do facilitismo, na perspectiva do deixa andar.
Devemos admitir que o Presidente da República não fez nada mais senão levantar uma questão que há muito devia figurar nas pautas dos órgãos de comunicação social como assunto de reflexão profunda, a considerar os estragos que tal espírito facilitador provoca na nossa sociedade.
A construção de uma sociedade sã, com premissas nos sectores da Educação e Saúde, tidas como fundamentais para a formação integral do homem enquanto principal agente transformar da vida social, não se compadece com a romaria facilitadora registada em Angola, ao ponto de, por exemplo, até para integrar os quadros das forças de defesa e segurança, chegar-se ao ponto de serem dadas facilidades repugnantes.
Mais do que um alerta que se apresenta oportuno e urgente, com mais ou menos palavras, o Titular do Poder Executivo deplorou o que se está a passar no ensino, cuja marcha realizada em passo de facilidades várias, permite termos estudantes do ensino superior que não sabem escrever, nem falar, cenário que João Lourenço quer afastado da nossa realidade.
Reside, no pronunciamento do Presidente de República, um sentimento de Estado que todo o cidadão deve inculcar como sua responsabilidade, e por via desta assumir as causas, sermos vistos como bons cidadãos e acima de tudo, patriotas.
Pensamos não ser necessário dizer que, para o caso em referência, o termo facilitar em nada se parece com a perspectiva de contribuir a fim de propiciar um ambiente agradável em relação a qualquer situação, ou seja, benefício em que os verdadeiros vencedores sejam os cidadãos, de forma colectiva.
Aliás, pelo ângulo supra referido, nenhuma serventia teria o discurso do Presidente João Lourenço, que apenas se candidataria a um espaço no clube dos comuns, de onde se retira nada que dignifique a magnitude da função de mais alto magistrado da Nação, ou se preferirem, o Titular do Poder Executivo.
Pois então, ao evocar a necessidade de não facilitarmos, João Lourenço atribuiu ao termo um sentido negativo, promotor de resultados que estrangulam todo um projecto que se quer alicerçado em fundamentos que enobrecem qualquer sociedade, sobretudo como a nossa que tem a missão hercúlea de posicionar-se entre as demais da região e não só, em que a seriedade é uma marca do sector da Educação.
Deve, pois, a palavra do Presidente ser entendida no sentido de impedir que a acção dos cidadãos, sobretudo os prestadores de serviços públicos, conceda facilidades, imprudência, desleixo e as demais formas de exposição do país à mediocridade em tudo e por tudo, se é que a regra ainda funciona.
Nesta altura em que a luta comum é contra a Covid-19, o alerta de João Lourenço assenta como luva na questão da gestão da pandemia, sobretudo àqueles que se aproveitam deste mal para praticar outros tantos, a exemplo da violação de cercas sanitárias, com a “prorrogativa” de a doença para outras províncias fora de Luanda, como aconteceu com o Cuanza-Norte.
Terá algum efectivo das forças de defesa e segurança facilitado à violação da cerca sanitária por parte dos vectores do vírus a outras localidades?
Sendo “sim”, a reposta para a questão acima formulada, eis um dos exemplos que nos levam a apresentar o discurso do Presidente da República como actual para a nossa triste realidade em que super abundam os facilitadores, até mesmo nos sistemas de saúde, ensino e judicial.
Ao evocar a necessidade de não facilitarmos, João Lourenço atribuiu ao termo um sentido negativo, promotor de resultados que estrangulam todo um projecto que se quer alicerçado em fundamentos que enobrecem qualquer sociedade