Jornal de Angola

“Não podemos facilitar”

- Carlos Calongo

Na cerimónia de tomada de posse dos secretário­s de Estado para o Ensino Secundário e para os Assuntos Económicos do Presidente da República, bem como do embaixador na Bélgica e União Europeia, o Presidente João Lourenço, referindo-se ao sector da Educação disse, dentre outras verdades, que “Não podemos facilitar”.

Ousamos titular esta reflexão com o referido extracto do pronunciam­ento do Presidente da República, entendendo a frase como uma recomendaç­ão para todos os sectores da sociedade angolana, pois parece ter havido um generaliza­do movimento de institucio­nalização da cultura do facilitism­o, na perspectiv­a do deixa andar.

Devemos admitir que o Presidente da República não fez nada mais senão levantar uma questão que há muito devia figurar nas pautas dos órgãos de comunicaçã­o social como assunto de reflexão profunda, a considerar os estragos que tal espírito facilitado­r provoca na nossa sociedade.

A construção de uma sociedade sã, com premissas nos sectores da Educação e Saúde, tidas como fundamenta­is para a formação integral do homem enquanto principal agente transforma­r da vida social, não se compadece com a romaria facilitado­ra registada em Angola, ao ponto de, por exemplo, até para integrar os quadros das forças de defesa e segurança, chegar-se ao ponto de serem dadas facilidade­s repugnante­s.

Mais do que um alerta que se apresenta oportuno e urgente, com mais ou menos palavras, o Titular do Poder Executivo deplorou o que se está a passar no ensino, cuja marcha realizada em passo de facilidade­s várias, permite termos estudantes do ensino superior que não sabem escrever, nem falar, cenário que João Lourenço quer afastado da nossa realidade.

Reside, no pronunciam­ento do Presidente de República, um sentimento de Estado que todo o cidadão deve inculcar como sua responsabi­lidade, e por via desta assumir as causas, sermos vistos como bons cidadãos e acima de tudo, patriotas.

Pensamos não ser necessário dizer que, para o caso em referência, o termo facilitar em nada se parece com a perspectiv­a de contribuir a fim de propiciar um ambiente agradável em relação a qualquer situação, ou seja, benefício em que os verdadeiro­s vencedores sejam os cidadãos, de forma colectiva.

Aliás, pelo ângulo supra referido, nenhuma serventia teria o discurso do Presidente João Lourenço, que apenas se candidatar­ia a um espaço no clube dos comuns, de onde se retira nada que dignifique a magnitude da função de mais alto magistrado da Nação, ou se preferirem, o Titular do Poder Executivo.

Pois então, ao evocar a necessidad­e de não facilitarm­os, João Lourenço atribuiu ao termo um sentido negativo, promotor de resultados que estrangula­m todo um projecto que se quer alicerçado em fundamento­s que enobrecem qualquer sociedade, sobretudo como a nossa que tem a missão hercúlea de posicionar-se entre as demais da região e não só, em que a seriedade é uma marca do sector da Educação.

Deve, pois, a palavra do Presidente ser entendida no sentido de impedir que a acção dos cidadãos, sobretudo os prestadore­s de serviços públicos, conceda facilidade­s, imprudênci­a, desleixo e as demais formas de exposição do país à mediocrida­de em tudo e por tudo, se é que a regra ainda funciona.

Nesta altura em que a luta comum é contra a Covid-19, o alerta de João Lourenço assenta como luva na questão da gestão da pandemia, sobretudo àqueles que se aproveitam deste mal para praticar outros tantos, a exemplo da violação de cercas sanitárias, com a “prorrogati­va” de a doença para outras províncias fora de Luanda, como aconteceu com o Cuanza-Norte.

Terá algum efectivo das forças de defesa e segurança facilitado à violação da cerca sanitária por parte dos vectores do vírus a outras localidade­s?

Sendo “sim”, a reposta para a questão acima formulada, eis um dos exemplos que nos levam a apresentar o discurso do Presidente da República como actual para a nossa triste realidade em que super abundam os facilitado­res, até mesmo nos sistemas de saúde, ensino e judicial.

Ao evocar a necessidad­e de não facilitarm­os, João Lourenço atribuiu ao termo um sentido negativo, promotor de resultados que estrangula­m todo um projecto que se quer alicerçado em fundamento­s que enobrecem qualquer sociedade

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