“A fé é grande, mas deve ser inteligente”
Durante a vigência do Estado de Emergência, por causa da Covid-19, entre os meses de Março e Maio, cerca de dez pastores de algumas igrejas foram surpreendidos a realizar cultos às escondidas, numa clara desobediência ao Decreto Presidencial que vigorava na altura, tendo os infractores sido julgados sumariamente. No entanto, para evitar a propagação da pandemia no país, foi estipulado a obrigatoriedade do uso de máscaras faciais em locais públicos, mercados, meios de transportes colectivos de passageiros, locais de trabalho. Mas muitos cidadãos se recusam a usar esse artefacto de segurança individual, alegando que Deus os vá proteger. Sobre essas duas questões (realização de cultos às escondidas e o refúgio no Criador, para não usar máscara), o Jornal de Angola tentou ouvir líderes de algumas igrejas reconhecidas, mas infelizmente apenas a Igreja Metodista Unida de Angola e o Fórum Cristão Angolano aceitaram falar à reportagem deste diário.
Adilson de Almeida, bispo da Igreja Metodista Unida, assegurou que, desde o primeiro Decreto Presidencial sobre o Estado de Emergência, cumpriram com as normas estabelecidas para prevenção da Covid-19.
“Por esta razão, não houve pastores da Igreja Metodista Unida detidos por incumprimento das medidas adoptadas para evitar a propagação da pandemia da Covid-19”, disse, garantindo que a Igreja Metodista Unida vai continuar a cumprir as orientações das autoridades sanitárias, na medida em que está em causa a vida das pessoas.
“Olhando para a realidade mundial e percebendo os desafios que o país tem ao nível do sistema de saúde, e sabendo que o interesse é preservar o bem vida, mais do que qualquer coisa, devemos cumprir com as medidas de prevenção e continuar a encorajar todos a fazerem o mesmo”, referiu.
Sobre a resistência de alguns fiéis usarem a máscara, alegando que Deus os vai proteger, Adilson de Almeida disse que “a fé é grande”, mas que devia ser inteligente, pois não seria a primeira vez que o povo de Deus, por razões óbvias, era obrigado a ficar em casa para se prevenir de calamidades ou perseguições. “A ideia é voltarmos a ver-nos após ao fim desta crise. E com certeza, Deus não quer perder ninguém por causa da Covid-19. Por isso, não há outro caminho, que não seja a prevenção”, disse.
Citando o texto bíblico de Eclesiastes 3:1-7, o bispo da Igreja Metodista Unida frisou que “há tempo para todo o propósito diante do céu, tempo de abraçar e tempo de deixar de abraçar...”. Por isso, acrescentou, como crentes devem emitar o exemplo de John Wesley, o fundador do metodismo, que apontou a razão, a tradição, a experiência e as escrituras, como os quatro pilares da sabedoria. “Fiquemos em casa. Sejamos criativos, cultos virtuais, cultos domiciliares, usemos as máscaras para sair ou reunir e por fim lembremos Romanos 13:8, que diz que `Toda a autoridade foi instituída por Deus´. Por isso, obedeçamos. Só sairemos a ganhar”, sublinhou.
“Precisamos de entender bem o que a Bíblia ensina”
Reverendo Luís Nguimbi, já serviu o Conselho das Igrejas Cristãs de Angola (CICA), durante l9 anos. Actualmente, preside o Fórum Cristão Angolano (FCA), instituição ecuménica das Igrejas legalmente reconhecidas no país. Lembrou que o Estado de Emergência proíbia a realização de cultos, devido ao risco de contaminação da Covid19. Todavia, acrescentou, não coartava o direito de “orar individualmente ou em família”, desde que se cumprisse que as medidas de prevenção.
“Temos a obrigação bíblica de orar sem cessar em todas as circunstâncias, incluindo com a existência da Covid-19 e em qualquer lugar. Temos feito isto e continuaremos a fazer, enquanto homens de fé”, disse.
Luís Nguimbi frisou que os actos de desobediência praticados por pastores, apanhados a realizar cultos durante o Estado de Emergência, contrariam os ensinamentos da Bíblia, mas, apesar disso, pediu “bom censo” às autoridades judiciais, na medida em que tais comportamentos estão longe de ser uma afronta ou abuso à Lei.
Sobre os fiéis que se recusam a usar máscara, Luís Nguimbi referiu que quem assim age não entende o que a Bíblía diz sobre respeitar as entidades que um dia eles mesmos elegeram. Por isso, recomendou à leitura do livro bíblico de Romanos 13:1-3.
“Deus criou a terra e a confiou ao homem para gerir. Portanto, falha lamentavelmente, quem não fizer a sua parte. Nascemos, antes de tudo, como cidadãos desta terra. Somos obrigados a exercer exemplarmente a cidadania terrena, que também influencia a cidadania celestial, que se carimba com o novo nascimento em Jesus Cristo, o Salvador, Senhor e Mestre. Nada de confusão! Precisamos tão somente de ler atentamente a Bíblia e entender bem o que ela ensina”, disse.