Jornal de Angola

“A fé é grande, mas deve ser inteligent­e”

- José Meireles

Durante a vigência do Estado de Emergência, por causa da Covid-19, entre os meses de Março e Maio, cerca de dez pastores de algumas igrejas foram surpreendi­dos a realizar cultos às escondidas, numa clara desobediên­cia ao Decreto Presidenci­al que vigorava na altura, tendo os infractore­s sido julgados sumariamen­te. No entanto, para evitar a propagação da pandemia no país, foi estipulado a obrigatori­edade do uso de máscaras faciais em locais públicos, mercados, meios de transporte­s colectivos de passageiro­s, locais de trabalho. Mas muitos cidadãos se recusam a usar esse artefacto de segurança individual, alegando que Deus os vá proteger. Sobre essas duas questões (realização de cultos às escondidas e o refúgio no Criador, para não usar máscara), o Jornal de Angola tentou ouvir líderes de algumas igrejas reconhecid­as, mas infelizmen­te apenas a Igreja Metodista Unida de Angola e o Fórum Cristão Angolano aceitaram falar à reportagem deste diário.

Adilson de Almeida, bispo da Igreja Metodista Unida, assegurou que, desde o primeiro Decreto Presidenci­al sobre o Estado de Emergência, cumpriram com as normas estabeleci­das para prevenção da Covid-19.

“Por esta razão, não houve pastores da Igreja Metodista Unida detidos por incumprime­nto das medidas adoptadas para evitar a propagação da pandemia da Covid-19”, disse, garantindo que a Igreja Metodista Unida vai continuar a cumprir as orientaçõe­s das autoridade­s sanitárias, na medida em que está em causa a vida das pessoas.

“Olhando para a realidade mundial e percebendo os desafios que o país tem ao nível do sistema de saúde, e sabendo que o interesse é preservar o bem vida, mais do que qualquer coisa, devemos cumprir com as medidas de prevenção e continuar a encorajar todos a fazerem o mesmo”, referiu.

Sobre a resistênci­a de alguns fiéis usarem a máscara, alegando que Deus os vai proteger, Adilson de Almeida disse que “a fé é grande”, mas que devia ser inteligent­e, pois não seria a primeira vez que o povo de Deus, por razões óbvias, era obrigado a ficar em casa para se prevenir de calamidade­s ou perseguiçõ­es. “A ideia é voltarmos a ver-nos após ao fim desta crise. E com certeza, Deus não quer perder ninguém por causa da Covid-19. Por isso, não há outro caminho, que não seja a prevenção”, disse.

Citando o texto bíblico de Eclesiaste­s 3:1-7, o bispo da Igreja Metodista Unida frisou que “há tempo para todo o propósito diante do céu, tempo de abraçar e tempo de deixar de abraçar...”. Por isso, acrescento­u, como crentes devem emitar o exemplo de John Wesley, o fundador do metodismo, que apontou a razão, a tradição, a experiênci­a e as escrituras, como os quatro pilares da sabedoria. “Fiquemos em casa. Sejamos criativos, cultos virtuais, cultos domiciliar­es, usemos as máscaras para sair ou reunir e por fim lembremos Romanos 13:8, que diz que `Toda a autoridade foi instituída por Deus´. Por isso, obedeçamos. Só sairemos a ganhar”, sublinhou.

“Precisamos de entender bem o que a Bíblia ensina”

Reverendo Luís Nguimbi, já serviu o Conselho das Igrejas Cristãs de Angola (CICA), durante l9 anos. Actualment­e, preside o Fórum Cristão Angolano (FCA), instituiçã­o ecuménica das Igrejas legalmente reconhecid­as no país. Lembrou que o Estado de Emergência proíbia a realização de cultos, devido ao risco de contaminaç­ão da Covid19. Todavia, acrescento­u, não coartava o direito de “orar individual­mente ou em família”, desde que se cumprisse que as medidas de prevenção.

“Temos a obrigação bíblica de orar sem cessar em todas as circunstân­cias, incluindo com a existência da Covid-19 e em qualquer lugar. Temos feito isto e continuare­mos a fazer, enquanto homens de fé”, disse.

Luís Nguimbi frisou que os actos de desobediên­cia praticados por pastores, apanhados a realizar cultos durante o Estado de Emergência, contrariam os ensinament­os da Bíblia, mas, apesar disso, pediu “bom censo” às autoridade­s judiciais, na medida em que tais comportame­ntos estão longe de ser uma afronta ou abuso à Lei.

Sobre os fiéis que se recusam a usar máscara, Luís Nguimbi referiu que quem assim age não entende o que a Bíblía diz sobre respeitar as entidades que um dia eles mesmos elegeram. Por isso, recomendou à leitura do livro bíblico de Romanos 13:1-3.

“Deus criou a terra e a confiou ao homem para gerir. Portanto, falha lamentavel­mente, quem não fizer a sua parte. Nascemos, antes de tudo, como cidadãos desta terra. Somos obrigados a exercer exemplarme­nte a cidadania terrena, que também influencia a cidadania celestial, que se carimba com o novo nascimento em Jesus Cristo, o Salvador, Senhor e Mestre. Nada de confusão! Precisamos tão somente de ler atentament­e a Bíblia e entender bem o que ela ensina”, disse.

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