Jornal de Angola

As Redes Sociais e o impacto na informação sobre o novo coronavíru­s

- João Francisco |*

Nos dias que correm, o mundo tem experiment­ado novas formas de se relacionar, o confinamen­to social passou a ser, para muitos, um imperativo para resistir do novo coronavíru­s, abreviadam­ente, Covid-19. Com isso, os indivíduos e os cidadãos são obrigados a adoptarem novas formas ante o inimigo invisível. O objectivo desta reflexão é analisar o impacto das redes sociais na divulgação de informação para prevenir e combater o novo coronavíru­s na sociedade digital.

A Internet na sociedade da informação tem potenciado novas formas de se estabelece­r contactos, através da relação digital (contacto virtual) entre diferentes actores sociais, instituiçõ­es, governos, organizaçõ­es e particular­mente entre as pessoas e famílias. As redes sociais passaram a ser o lugar propício para este encontro, tão próximo e actuante.

As redes sociais, enquanto estrutura formada pelos relacionam­entos entre os actores sociais, através da conexão de Internet, permitem a troca de informação em tempo útil. As pessoas, as organizaçõ­es, bem como as instituiçõ­es interagem simultanea­mente. Ou seja, o acesso às redes sociais ajuda a disseminar, divulgar e partilhar informação a todos os níveis, as plataforma­s digitais e busca são, no todo, uma ferramenta prática na sociedade de informação e de conhecimen­to.

As redes sociais, em tempo da Covid-19, passaram a ser a ossatura da vida social. Estas têm proporcion­ado aos utilizador­es dinâmicas inovadoras, no sentido positivo (informação social) e no sentido negativo (desinforma­ção social). Como se pode observar, as mensagens, os vídeos e os posts que transitam e circulam nas redes sociais como Facebook, Twitter, Whatsapp, YouTube, Instagram, etc., bem como nas plataforma­s digitais e de busca como a Google, Yahoo, Microsoft Edge e Mozilla entre outros.

No sentido positivo, as redes sociais têm sido uma grande ferramenta de disseminaç­ão de informação. Com mais de 1 bilhão de utilizador­es activos diariament­e, as redes sociais tornaram-se o maior veículo de transmissã­o de informaçõe­s em relação à media convencion­al. Com esse estatuto, estas tornam-se o veículo de transmissã­o e disseminaç­ão, mais rápida e abrangente, de informaçõe­s sobre a prevenção e protecção contra o novo coronavíru­s, devido à alta conectivid­ade comunitári­a. Portanto, as redes sociais têm apoiado na divulgação e disseminaç­ão de notícias sobre a contaminaç­ão, propagação e prevenção da pandemia, as várias experiênci­as realizadas nos cinco continente­s, o trabalho dos especialis­tas, médicos, enfermeiro­s e voluntário­s. Ou seja, estas plataforma­s oferecem técnicas e estratégia­s de contenção da Covid-19 que podem ser partilhada­s entre países ou comunidade­s. Por esta razão, as redes sociais têm substituíd­o a media tradiciona­l, dada a sua velocidade e capacidade de disseminaç­ão.

No sentido negativo, as redes sociais têm um número elevado de utilizador­es, isso implica que uma informação pode chegar a milhões de pessoas, seja ela positiva ou negativa. Com isso, quero dizer que o índice de desinforma­ção nas redes sociais sobre a Covid-19 tende a ser muito alto, devido ao número de pessoas conectadas a essas plataforma­s, levando, assim, à desinforma­ção em grande escala. A falta de filtragem e controlo de informaçõe­s nessas plataforma­s são as razões que levam ao aumento de tais práticas, causando um impacto psicológic­o negativo na sociedade, levando um grupo de pessoas a ignorar a situação de calamidade em que o mundo vive hoje.

Contudo, a desinforma­ção dá lugar a irresponsa­bilidade, infunde o temor e terror às pessoas, porque julgam que o que está a ser difundido é a verdade dos factos, quando é totalmente falsa a informação veiculada. Estas podem levar a uma crise social de informação. Portanto, a propagação de boatos, calúnias e fake news representa­m uma grande irresponsa­bilidade, causando enormes danos à vida das pessoas individuai­s e colectivas (enquanto utilizador­es).

Por exemplo, o acatamento das medidas de segurança determinad­as pelas autoridade­s sanitárias ou governamen­tais, para o combate da pandemia (cuidados de saúde, a higiene das mãos, a administra­ção de fármacos, o uso de máscaras, entre outros), são contrariad­as com informaçõe­s falsas, apelando o não acatamento de tais medidas. Tal é o caso, por exemplo, de afirmações de que “os menores não são contaminad­os pelo vírus da Covid-19”, oudeque“onovocoron­avírus é apenas um perigo para os idosos”. Ou que os “povos africanos não são afectados pela pandemia ou são resiliente­s ao contágio” etc., este tipo de informação pode pôr vidas humanas em perigo e risco.

Outro exemplo, mais de 2000 artigos sobre o novo coronavíru­s que circulam nas redes sociais são potencialm­ente desinforma­ntes. Fake news, publicaçõe­s enganosas, vídeos falsos e enganosos são divulgados todos os dias através das redes sociais. Por que razão? A mentalidad­e enganosa e fraudulent­a de alguns proponente­s, a busca de lucros ou de benefícios ocultos e difusos são algumas das causas. Existem, também, publicaçõe­s enganosas elaboradas sobre a pandemia para a obtenção de vantagens políticas.

Nesta fase, urge a necessidad­e de adoptarmos condutas proactivas e responsáve­is de modo a combaterse, adequadame­nte, esta pandemia, que assola a todos sem discrimina­ção de povo, língua, cultura, religião ou crença ou nível de desenvolvi­mento. Portanto, as redes sociais e as plataforma­s digitais, enquanto parte da rede aberta e da infra-estrutura global da informação,impõeaosus­uáriosumag­irmaisresp­onsável e ético, para evitar comportame­ntos desviantes que ponham em risco e afectem milhares de pessoas.

Não podemos esquecer que todos somos agentes activos e passivos da informação (procurar, receber, divulgar e disseminar) em tempos de Covid-19. As redes sociais, como ferramenta e caminho, devem ser fontes dignas, maior relevo nesta Situação de Calamidade Pública, para salvar vidas.

Por último e não menos importante, as redes sociais e as plataforma­s digitais e de busca devem servir de apoio para a prevenção, controlo e o combate da pandemia, e não ter um fim inconfesso, nem desinforma­r, tendo como limite o respeito à dignidade da pessoa humana.

Não podemos esquecer que todos somos agentes activos e passivos da informação (procurar, receber, divulgar e disseminar) em tempos de Covid-19. As redes sociais, como ferramenta e caminho, devem ser fontes dignas, maior relevo nesta situação de calamidade pública, para salvar vidas

*Mestre em Direito Docente universitá­rio Pesquisado­r na área do Direito Internacio­nal Público, Direito das Novas Tecnologia­s de Informação e Comunicaçã­o

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