PIIM sem Desporto!
Parece-me estar a cair no esquecimento o muito badalado slogan “a vida faz-se nos municípios”. A realidade mostra que o município é o espaço territorial de realização de anseios da população, direccionados para vários sectores da vida como a educação, saúde, energia e águas, vias de comunicação, segurança e ordem pública. Actividade física e, também, DESPORTO!
O nosso país vive dias de expectativas em relação ao impacto que o Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), julgo ser este o responsável pelo amornar daquele slogan, vai ter. Hoje, há notícias de obras do PIIM em todo o lado. Daqui a pouco tempo, vamos assistir ao cortejo de inaugurações de diversas obras e, seguramente, a vida nos municípios pode ser impactada para0 melhor. Mais água, mais energia, mais escolas, estradas, saneamento básico, indústrias e hospitais.
Tomara que o PIIM inscreva a construção de bastantes unidades de saúde para receber a população obesa que vai surgir da elevação dos níveis de vida nos municípios. Talvez seja por desconhecimento de minha parte, mas noto, com preocupação, que o desporto tem sido a carruagem de trás na locomotiva do PIIM. A par da prática de actividade física, ele é um seguimento cujos benefícios para a saúde são, cada vez mais, inquestionáveis. Retarda o envelhecimento e previne o desenvolvimento de diversas doenças crónicas degenerativas que, no fim do dia, são dos maiores problemas ao nível da saúde pública.
A prática desportiva exerce um impacto positivo na cognição e na saúde dos adolescentes, nomeadamente, no rendimento académico e no bem-estar psicológico.
Recentemente, o Presidente da República, João Manuel Gonçalves Lourenço, levantou uma reflexão sobre a qualidade de ensino no país e, em adenda, pode-se também olhar para a qualidade daqueles a quem se ensina. É, pois, preocupante que os nossos governantes não tenham incluído as infra-estruturas desportivas no âmbito do PIIM. Se estão incluídas, não é menos preocupante o atraso no início das suas obras.
A transversalidade do desporto anula algumas ideias que fizeram morada na nossa consciência social, como aquela de “desportista emprestado à política”. Não precisa ser desportista! Não há aqui empréstimos nenhuns! Basta ser governante para engendrar e materializar uma política desportiva, com o mesmo empenho que se olha para a saúde e a educação. O desporto é, também, um segmento que não escapou à sensibilidade da Constituição da República.
O desporto é factor de unidade. Coloca dentro da quadra de jogos, na mesma bancada ou diante de telas televisivas, os mais diversificados estratos sociais. O rico e o pobre experimentam, na mesma medida, as emoções proporcionadas pelo desporto. Aliás, nesta fase de confinamento, temos visto como os espaços públicos são assaltados por milhares de jovens que, sem poder praticar, sem poderem ir aos campos assistir aos jogos, contentam-se com a prática de exercícios físicos. Os municípios nem conseguem oferecer espaços condignos para a prática da actividade física. As enchentes que vemos nas escadarias das pedonais, passeios e outros lugares são, na verdade, manifestações silenciosas. São cartazes, greves de fome, queima de pneus e vigílias por instalações desportivas. O governante só precisa de abrir os olhos e a mente para as poder interpretar.