Cada uma com a sua história
ouve alguém chamar. Não se preocupa em saber quem é, está concentrada a brincar com a bebé, enquanto aguarda pelo curativo. Toca-lhe, então, no ombro, a autora do chamado. Levanta a cabeça e depara-se com a mãe de Inês. “Mulata estás boa? Como é que ela se queimou? O pai dela é branco? Vives mesmo aqui no Zango?”, enche-lhe de perguntas, que responde, pacientemente, sob o olhar atento de outras mulheres. Era mais um dia de curativos. As demais senhoras ouvem, atentamente, e inseremse na conversa. Cada uma explica as circunstâncias da queimadura.
“A botija rebentou. Até o meu marido queimou-se um pouco. Os mosaicos da cozinha caíram. Foi horrível”, conta a primeira, encorajando, uma a uma, a partilhar a sua experiência.
“Eu chamei uns moços para desentupir o fogão. Há anos que eu não usava o forno. Eles mexeram na boca do forno e deixaram ligada. Quando acendi o fogão, passaram uns minutos, aquilo explodiu e atirou-me contra a parede. O gás tem muita força. Te deixa imobilizada, minhas irmãs. Mas Deus é bom, já estou bem melhor”, explica outra, que chegou a ficar internada por duas semanas.
“Eu vi a minha filha a vir, de madrugada, cheia de chamas. Nem ela consegue explicar o que aconteceu, de facto. O frasco de álcool gel rebentou e desapareceu até hoje. Nem a tampa encontramos. Acho que pus mau olhado na minha filha; eu estava sempre a elogiar que ela já cozinha muito bem, trata muito bem da casa, é bonita e bem calma. Mas Deus não deixou o pior acontecer”, confidenciou a mãe de uma linda adolescente.
Além da área de queimaduras, o Hospital do Zango atende pacientes em Clínica Geral, Pediatria, Dermatologia e Obstetrícia.
“Podíamos fazer um trabalho melhor, mas estamos num espaço considerado pelo Ministério da Saúde como uma espécie de Posto Médico. Então não recebemos muitos meios para o tratamento dos doentes”, ouve-se numa conversa entre um enfermeiro e uma conhecida deste.