Alerta na RDC para perigos da escalada de violência
A escalada de violência na RDC está no centro das atenções dos Médicos Sem Fronteiras, que voltaram a apelar para o aumento da assistência aos deslocados
A Organização Não-Governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertou, ontem, para a escalada de violência na República Democrática do Congo (RDC) e apelou às organizações para intensificarem a assistência aos deslocados que, numa província, aumentaram em 200 mil, desde Abril.
Num relatório citado pela Associeted Press, a MSF destaca que, desde Abril até agora, 200 mil pessoas foram forçadas a abandonar as casas e vários centros de saúde destruídos pela violência, que aumentou na província de Ituri.
“Nos dois meses que decorreram desde Abril, quase 200 mil pessoas foram deslocadas das casas, na província de Ituri, no Nordeste da RDC”, segundo as equipas da organização médica internacional que trabalham na região, refere a nota.
Os Médicos Sem Fronteiras salientam que a RDC já ocupa o segundo lugar, a seguir à Síria, em número de deslocados no interior das suas fronteiras e apelam “às organizações nacionais e internacionais que intensifiquem a assistência às pessoas deslocadas”.
Segundo a organização, são “milhares as pessoas deslocadas em lugares sobrelotados, onde as condições humanitárias mínimas estão longe de ser alcançadas”. “As equipas dos MSF tentam dar resposta às necessidades mais urgentes, mas é necessário prestar mais ajuda, incluindo cuidados de saúde básicos e fornecimentos essenciais”, sublinham.
Como exemplo da violência na província de Ituri, relatam o que se passou no último ataque, em 17 de Maio, na região de Drodro, com aldeões mortos e casas incendiadas.
Na sequência do ataque, o pessoal dos MSF apoiou os profissionais de saúde que prestavam assistência médica de emergência a mulheres e crianças com ferimentos de bala e de catanas, conta a organização.
Naquele ataque, a vítima mais jovem foi um menino, de 15 meses, que estava amarrado às costas da mãe quando ela foi alvejada. “A bala atravessou as pernas do menino e matou a mãe”, afirma Diop El Haji, líder da equipa médica da MSF. Acrescentou que a criança foi levada, para o hospital geral de Drodro, pelos vizinhos. “O pai da criança também foi morto no ataque, juntamente com as três irmãs e três irmãos.
De toda a família, apenas sobreviveu um irmão do bebé, por ter conseguido fugir para o mato”, relatam os MSF.
Segundo a organização, outro dos aspectos que caracteriza a violência destes ataques é terem, também, como alvo os centros de saúde, o que dificulta, ainda mais, o trabalho dos profissionais no apoio às vítimas e nos cuidados na doença.
“A 2 de Maio, a guerra chegou à zona de Wadda e deixou mais de 200 casas queimadas”, afirmou Alex Wade, chefe da missão dos MSF, em Ituri, acrescentando: “O centro de saúde que estávamos a apoiar foi pilhado. Infelizmente, não foi o primeiro estabelecimento de saúde a ser visado. Só em Maio, pelo menos, outros quatro foram atacados”.
As principais vítimas
Na RDC, as pessoas comuns são as principais vítimas dos combates entre as milícias e o Exército nacional e muitas vivem com medo dos ataques, o que “está a dificultar os esforços dos MSF na prestação de cuidados médicos”, refere a nota.
“As nossas equipas estão a lutar para prestar cuidados de saúde, tanto às populações locais como às deslocadas, porque não temos garantias de acesso seguro a algumas zonas” e o acesso das pessoas aos cuidados de saúde é dificultado, não só pela violência, como pelo medo da violência, diz a mesma nota.
“A violência visa, sistematicamente, aldeias e centros de saúde, a fim de impedir o regresso das pessoas que fugiram”, afirmou Benjamin Courlet, coordenador da MSF no terreno.
“Algumas pessoas estão demasiado aterrorizadas para irem aos centros de saúde que ainda funcionam nas aldeias ou nos campos. Em vez disso, ficam no mato, por isso criámos clínicas móveis para lá chegar”, adiantou.
“Tendo em conta o recente conflito, a prioridade é chegar às pessoas que necessitam de assistência médica imediata e, depois, tentar melhorar, o mais possível, as condições de vida”, disse Courlet.
“Além disso, temos de implementar medidas de prevenção de infecções, especialmente, tendo em conta a ameaça da Covid19. As necessidades das pessoas são enormes e não podemos fazer tudo sozinhos”, concluiu.