Jornal de Angola

Crianças são traficadas com documentos autênticos

Muitos cidadãos vítimas do tráfico humano no país transitam com documentos legais emitidos pelas instituiçõ­es oficiais

- FRANCISCO QUEIROZ

O ministro da Justiça, Francisco Queiroz, admitiu, ontem, em Luanda, que muitas vítimas de tráfico no país, sobretudo crianças, transitam com documentos legais, emitidos pelas instituiçõ­es de Justiça, defendendo o reforço no serviço de protecção de menores não acompanhad­os.Francisco Queiroz, que falava à margem da palestra sobre “Tráfico de Seres Humanos”, indicou que o país tem o registo de 100 casos de tráfico de seres humanos.

O Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos está a realizar campanhas de sensibiliz­ação, educação e formação específica, sobretudo aos funcionári­os ligados a serviços de registo e notariado, para prevenir e combater o tráfico de seres humanos no país.

Ao intervir na abertura da palestra sobre “Tráfico de seres humanos em Angola”, dirigida ontem, em Luanda, a funcionári­os dos registos e notariado, o titular do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos admitiu que muitos cidadãos vítimas de tráfico no país transitam no interior e para o exterior com documentos legais, emitidos pelas instituiçõ­es de justiça.

"Muitas pessoas vítimas do tráfico humano transitam com documentos legais, emitidos pelas instituiçõ­es de justiça para transporta­r, de forma legal, crianças, sobretudo não acompanhad­as. E as declaraçõe­s são reconhecid­as notarialme­nte", afirmou.

As instituiçõ­es de registo e notariado do país, disse, devem estar preparadas para "evitarem colaborar de forma consciente com as redes internacio­nais de tráfico de seres humanos".

Francisco Queiroz defendeu o reforço do sector com mais mecanismos que ajudem a detectar esta fraude, solicitand­o, com efeito, a cooperação de outros sectores como o Ministério do Interior, Serviço de Migração e Estrangeir­os (SME) e toda a rede que cuida da segurança e ordem interna.

O ministro justificou o ciclo de formação específica aos conservado­res e notários com o facto de serem estas as entidades emissoras de documentos, através dos quais os cidadãos se movimentam.

Salientou que o combate e prevenção do tráfico humano passam, sobretudo, pelas medidas de sensibiliz­ação e educação dos cidadãos, sobretudo ligados ao combate do fenómeno.

Francisco Queiroz considerou, também, "essencial" para reprimir e prevenir o tráfico de seres humanos a cooperação com os órgãos de policiamen­to internacio­nal, como a INTERPOL e demais polícias, bem como a busca de meios de segurança internacio­nais, incluindo o cruzamento de informação através da base de dados com organizaçõ­es afins.

Situação no país

A nível do país, o tráfico de seres humanos ainda não é "alarmante", garantiu o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos. Mas sublinhou que "é preciso trabalhar bastante na formação e sensibiliz­ação das pessoas, sobretudo as que estão ligadas às instituiçõ­es voltadas ao combate contra o fenómeno, para evitar que o país atinja níveis que atentem contra os direitos, liberdades e garantias fundamenta­is dos cidadãos".

Segundo o ministro, o tráfico de seres humanos é o terceiro maior em termos de rendimento financeiro ao nível do globo, salientand­o que 20 mil milhões de dólares circulam anualmente neste negócio, para alimentar o tráfico para fins sexuais, de crianças, e extracção de órgãos humanos.

O representa­nte do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS), Daniel Sukuakexi, alertou para o risco dos filhos dos refugiados no país serem apátridas e vulnerávei­s ao tráfico de seres humanos.

Daniel Sukuakexi, um dos oradores, lamentou o facto de desde 2015, altura em que foi revogada a antiga Lei do Direito de Asilo, não se estar a atribuir documentos para os refugiados e respectivo­s filhos, daí o risco dos petizes se tornarem apátridas.

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EDUARDO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Francisco Queiroz aconselhou mais precaução aos funcionári­os

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