Pequim retalia contra órgãos de comunicação americanos
A China anunciou, ontem, represálias contra quatro órgãos de comunicação norteamericanos que operam no país asiático, depois de medidas semelhantes tomadas pelos Estados Unidos contra a imprensa estatal chinesa.
As agências Associated Press (AP) e United Press International (UPI), a televisão CBS e rádio NPR vão ter que fornecer, dentro de sete dias, a lista dos seus funcionários, imóveis e contabilidade na China, anunciou Zhao Lijian, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China. Trata-se de uma “retaliação muito necessária à repressão irracional (exercida pelo Governo dos EUA) contra a imprensa chinesa”, justificou Lijian.
Em Junho, pela segunda vez, os EUA designaram meios de comunicação chineses como entidades estrangeiras, exigindo que se submetam às regras e regulamentos que cobrem as missões diplomáticas. Em Fevereiro, cinco meios de comunicação, incluindo a agência noticiosa oficial Xinhua e a televisão estatal CGTN, passaram a estar obrigados a cumprir com aqueles regulamentos.
Esses meios de comunicação devem notificar o Departamento de Estado dos EUA da lista do seu pessoal e propriedades. Os Estados Unidos reduziram também o número de jornalistas desses órgãos que podem trabalhar no país.
Em retaliação, o Governo chinês expulsou, em Março, jornalistas do”New York Times”, “Wall Street Journal” e “Washington Post”.
As relações entre a China e os EUA deterioraram-se, nos últimos anos, com Washington a definir Pequim como a “principal ameaça” e a apostar numa estratégia de “contenção das ambições chinesas”, que ameaça, no entender de Washington, bipolarizar o cenário internacional. Os dois países enfrentam também uma guerra comercial e tecnológica e disputam a influência na Ásia. A pandemia do novo coronavírus veio agravar as tensões, com o Presidente norte-americano, Donald Trump, a culpar o Governo chinês por um surto que os Estados Unidos foram incapazes de conter.
Lei de Segurança Nacional
O Governo chinês disse, ontem, que a Lei de Segurança Nacional de Hong Kong, que já entrou em vigor, “fortalece a fórmula “um país, dois sistemas”, além de garantir “prosperidade e estabilidade” na região semiautónoma.
“A legislação é a segunda mais importante depois da Lei Básica da cidade), e é um marco na política do Governo central em relação a Hong Kong”, apontou o vice-director do Gabinete de Ligação de Pequim em Hong Kong, Zhang Xiaoming. Zhang definiu o texto como uma “abordagem firme e flexível da situação na cidade” e considerou “normal que as pessoas em Hong Kong tenham dúvidas” sobre a Lei, mas enfatizou que esta “fortalecerá claramente” o modelo de governação “um país, dois sistemas”, que garante a autonomia da cidade em relação à China continental.
“Ninguém se importa mais em salvaguardar o modelo de “um país, dois sistemas” do que nós”, disse, em resposta a alegações dos EUA e de outros países ocidentais de que a Lei põe fim à autonomia de Hong Kong face à China continental.
O responsável assegurou que a China “vai continuar a promover a tolerância política” na cidade e a coexistência de “visões diferentes”. “Está na hora de acabar com o caos, restaurar a Lei e a ordem e seguir em frente”, defendeu.