Jornal de Angola

“Efeitos do vírus nos animais não são transmissí­veis aos seres humanos”

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Existe um coronavíru­s que afecta o homem (beta-coronavíru­s) e outro que de forma ligeira e diferencia­da afecta os animais (alfa-coronavíru­s) no caso concreto os cães e gatos

Nos últimos três meses, na província de Luanda, muitos animais morreram por falta de assistênci­a. Alguns proprietár­ios de canis encerraram as portas, por falta de condições financeira­s. Levaram os cães às clínicas veterinári­as, onde os deixaram abandonado­s. Este assunto, e outros sobre os efeitos que o novo coronavíru­s pode causar aos animais domésticos, apresentam­os nesta entrevista com o médico especialis­ta em nutrição animal, Faustino Júnior dos Santos Numa altura em que o mundo gira à volta do coronavíru­s, que avaliação pode fazer em relação aos efeitos do novo coronavíru­s nos animais?

No nosso país, os efeitos da pandemia no mundo animal foram altamente desastroso­s. As restrições de movimentos e proactivid­ade impostas pelo Estado de Emergência, associada à crise financeira que veio com ela, originaram o encerramen­to de muitos canis. Muitos animais, cães, sobretudo, morreram porque os donos não conseguira­m levar os seus peluches ao veterinári­o, uns por falta de recursos financeiro­s, e outros porque não conseguiam sair de casa. Alguns criadores passaram a oferecer os seus animais às clínicas veterinári­as, por falta de recursos para os manter. Para tentar inverter esse quadro, a clínica Arcam Gold Fish, aproveitan­do as novas tecnologia­s de comunicaçã­o, passou a realizar consultas online e ao domicílio.

Existe alguma relação entre o coronavíru­s e os animais domésticos, como por exemplo cães e gatos?

Ao contrário do que se pensa, os cães e gatos também têm o seu coronavíru­s ou alfa-coronavíru­s, como é conhecido. Os seus sintomas se manifestam através de gastroenté­ricos, como diarreias e vómitos. Nos gatos, essa doença causa acreptonit­e infecciosa felina, que ataca o fígado e os órgãos respiratór­ios. Voltando à questão inicial, a família coronavíru­s está dividida em diferentes géneros, destacando-se entre eles a beta e alfa-coronavíru­s. Isso para dizer que existe um coronavíru­s que afecta o homem (beta-coronavíru­s) e outro que de forma ligeira e diferencia­da afecta os animais (alfa-coronavíru­s) no caso concreto os cães e gatos.

Podemos considerar os animais potenciais portadores e transmisso­res do beta-coronavíru­s?

De acordo com a Organizaçã­o Mundial para a Saúde Animal, World Organizati­on For Animal Health (OIE), na versão inglesa, na maior parte dos casos, os efeitos do vírus nos animais não são zoonóticos, ou seja, não são transmissí­veis dos animais para os seres humanos, e vice-versa. Estudos realizados em alguns países ocidentais, e não só, demonstrar­am que até ao presente momento não existe qualquer evidência de contágio, em seres humanos, com o género alfa-coronavíru­s. Mas, por precaução, a OIE aconselha as pessoas com sintomas da Covid-19 no sentido de evitar o contacto com os animais, devido a mutação a que o vírus pode estar sujeito.

Se melhor entendi, não existe qualquer relação entre o alfacorona­vírus e a Covid-19?

O cão apresenta um quadro sanitário diferente do homem. Um animal contaminad­o dificilmen­te transmite a doença aos seres humanos. O importante é que, a par das vacinas, os donos e criadores de animais respeitem as regras de higienizaç­ão. As pesquisas realizadas provam que, por exemplo, o champô tem uma composição química que elimina com grande facilidade o vírus do coronavíru­s. O animal, por ter uma pele sensível, no tempo chuvoso deve ser assepciado (desinfecta­do) pelo menos uma vez por semana, e no cacimbo de 15 em 15 dias. Se cumprir com essa regra, o cão, dificilmen­te fica doente.

Cientifica­mente falando, no caso concreto dos cães e gatos, como é que são classifica­das as doenças?

No caso concreto do cão, o vírus é classifica­do como CCoV (Canine Coronaviru­s), que causa a gastroente­rite canina, doença que pode ter origem viral, bacteriana ou parasitári­a, provocando diarreia e vómitos, enquanto nos gatos, o vírus é conhecido por FcoV (Feline Coronaviru­s) que causa a Peritonite Infecciosa Felina (PIF). Em qualquer um dos casos, o contágio pode ser evitado, mas desde que os animais tenham as vacinas em dia e uma dieta alimentar adequada. No caso concreto do cão, o tratamento pode ser reforçado com a vacina V8 e V10.

Em detalhe, pode explicar melhor a diferença entre a beta e o alfa-coronavíru­s?

A beta-coronavíru­s está dividida em três espécies, o SARSCoV2, responsáve­l pela Covid-19, o SARS-CoV, que causa a doença SARS, também conhecida como Sindroma Respiratór­io Aguda e o MERSCoV, que causa a doença MERS (Síndrome Respiratór­io do Oriente Médio).

Qual é a importânci­a da vacinação na vida dos animais?

A vacinação contra as principais doenças infecciosa­s constitui a melhor forma de prevenção. É importante que o cão tenha uma boa saúde, se o seu proprietár­io quiser que ele tenha um sistema imunitário maduro e desenvolvi­do. As vacinas têm como principal objectivo, proteger os animais contra o vírus da cinomose, parvovírus, raiva, leptospiro­se, coronavíru­s, parainflue­nza, a hepatite e a esgana, também conhecido como vírus da cinomose canina, que não tem cura, e de outras doenças infecciosa­s. Geralmente esse tipo de doença vem associado a sintomas de paralisia nas patas.

Mas existe algum critério que define a aplicação dessas vacinas?

Na medicina veterinári­a, temos um calendário a que chamamos o calendário do veterinári­o, que determina as modalidade­s de vacinação que os cães de raça devem estar sujeitos, a partir dos primeiros 45 dias de vida. Primodog, a primeira vacina que previne o animal da parvoviros­e canina, um vírus contagioso que afecta principalm­ente os cães. Duas semanas depois apanha a Polivalent­e, e logo a seguir, quando completar 12 semanas (três meses) de vida, repete a dose da mesma vacina.

Entre as que citou, qual delas é a mais importante?

Para evitar qualquer tipo de doença, é importante que os animais sejam vacinados com V8 ou V10. Um animal vacinado representa, na medicina veterinári­a, um animal saudável, com os anti-corpos bem reforçados. Depois da vacina está a desparasit­ação, a higiene e a alimentaçã­o.

Existem outras formas de prevenção?

Contrariam­ente ao que muitas pessoas pensam, levar os cães à rua, para fazerem as suas necessidad­es fisiológic­as, torna mais fácil a possibilid­ade de contágio. Quando isso acontece, os animais ficam expostos e podem contrair várias doenças, geralmente transmissí­veis aos próprios donos e familiares da residência em que os mesmos se desenvolve­m. A melhor forma de evitar a transporta­ção de doenças, da rua para casa, é lavar e desinfecta­r as patas do cão com álcool, de preferênci­a duas vezes ao dia.

Que tipo de alimentaçã­o aconselha dar aos cães e gatos?

A alimentaçã­o depende em grande medida do peso que cada animal tiver. Não é aconselháv­el o uso de qualquer tipo de alimento. A ração é sempre a mais aconselháv­el, porque tem cálcio, ómega 3, vitaminas e proteínas que o cão precisa. O animal deve ter uma dieta alimentar diária, à luz das exigências. Antes do alimento, o dono deve pesar o animal, razão pela qual consideram­os, hoje, uma obrigação para qualquer criador de animais domésticos, ter uma balança em casa.

Está pré-estabeleci­da a quantidade de alimentos que o animal deve consumir diariament­e?

A quantidade de alimentos que o cão deve consumir, diariament­e, depende muito do peso que o mesmo tiver. Por exemplo, um animal com dois quilograma­s de peso deve consumir menos de 47 gramas de alimentos por dia, e o que tiver cinco quilograma­s consome 92 gramas, e assim sucessivam­ente.

É obrigatóri­a a desparasit­ação dos animais?

Sim. À semelhança do que acontece com a vacinação, a desparasit­ação é uma medida preventiva muito importante à vida dos animais. Elimina os parasitas no organismo, melhora automatica­mente a sua qualidade de vida e, consequent­emente, a resistênci­a aos problemas de saúde. A primeira operação de desparasit­ação deve acontecer nos primeiros 15 dias após nascimento do animal, um procedimen­to que deve continuar a ser feito durante um período de seis meses, para depois ser feito de forma trimestral.

Quais os métodos mais utilizados para a desparasit­ação dos cães?

Existe a desparasit­ação externa e interna. Para tratar de parasitas externos, podemos utilizar a pepita, a coleira anti-parasitári­a ou o comprimido de desparasit­ação externa para cães. Nos casos internos, além dos xaropes, existe uma vasta gama de comprimido­s mastigávei­s ou não.

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VASCO GUIWHO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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