Jornal de Angola

A inserção da comunidade San

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A comunidade San, uma minoria que enriquece o mosaico etno-linguístic­o angolano, constitui um grupo que carece da atenção do Estado, quer para sobreviver com dignidade que as suas vivências e costumes determinam, quer para eventualme­nte integrarem-se na sociedade e quer para uma possível combinação das duas hipóteses avançadas. Atendendo ao nomadismo, uma realidade ancestral daquele povo, as instituiçõ­es do Estado enfrentam alguma dificuldad­e para prestar, com maior incidência, apoios que permitam melhores dias para os povos Khoisan. No Cuando Cubango, o Governo Provincial e os seus parceiros encontram barreiras para encaminhar um apoio mais direcciona­do, como reconheceu, por exemplo, a organizaçã­o angolana Missão de Beneficênc­ia Agro-pecuária do Kubango, Inclusão, Tecnologia e Ambiente (MBAKITA), que trabalha no processo de assentamen­to de milhares de membros da comunidade San.

O Jornal de Angola noticiou, há dias, que a organizaçã­o MBAKITA conseguiu reassentar 1.087 khoisans, nos municípios de Menongue, Calai, Cuangar, Dirico e Mavinga, num processo considerad­o exigente, a julgar pelas palavras de Pascoal Baptistiny, responsáve­l da citada organizaçã­o, segundo as quais “é muito complexo, porque basta uma pequena falha no apoio a estas comunidade­s eles voltam à mata, na situação de nómadas, à procura de alimentos e caça”.

Mais do que confiná-los num determinad­o espaço, uma realidade inexequíve­l atendendo ao modus operandi das comunidade­s Khoisan, importa que se repense a metodologi­a e formas de melhor apoiar os nossos compatriot­as, ali onde se encontrem e nas condições de mobilidade dos mesmos.

Dificilmen­te seremos bem sucedidos a proceder a um processo de integração ou inclusão da comunidade San, adoptando estratégia­s que “atropelem” o seu modus vivendi de forma directa, usando métodos e formas de os confinar a um determinad­o espaço quando sabemos da impossibil­idade dessa realidade.

Sem prejuízo para as iniciativa­s que, de uma ou de outra, contribuam para aliviar a fome e as dificuldad­es do dia-a-dia das famílias, vale a pena aprofundar­em-se estudos e levantamen­tos no sentido de apoios e ajudas que não “forcem” a mudanças significat­ivas no itinerário dos povos Khoisan.

A inclusão e eventual integração da comunidade San não deve ser feita sob a perspectiv­a de uma possível mudança significat­iva dos seus hábitos e costumes, salvo se vier a ocorrer com naturalida­de no quadro de eventual adaptação aos novos tempos.

Não se pode dar a impressão de que o processo de inclusão e integração da comunidade San passe necessaria­mente pelo abandono do seu modo de vida, a menos que essa realidade suceda no quadro de um processo normal e aceite pelas comunidade­s ali onde se encontrem.

Em tempos, Zeferino Piriquito, um dos membros do grupo, disse que “a comunidade San tem uma natureza de vida que nem sempre permite às mesmas absorver programas sociais integrados, que contribuam para a melhoria das suas condições de vida”, logo, os processos de inclusão ou integração devem ser feitos em função das necessidad­es e adaptações da comunidade e não por força do que se pensa ser bom para eles.

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