Especialistas apelam ao reforço da supervisão
O Banco Nacional de Angola
(BNA) deve ser mais rigoroso e acompanhar o desenrolar dos empréstimos concedidos à luz das medidas económicas de alívio noasseguramento do apoio financeiropara a manutenção mínima dos níveis de actividades das micro, pequenas e médias empresas do sector produtivo. Adicionando-se a isso, é o facto de a taxa do crédito malparado permanecer alta, o que penaliza os próprios bancos comerciais, deixandoos sem liquidez.
Ouvidos pelo Jornal de Angola, os economistas e mestres em Finanças, Feliciano Lucangae RuiMalaquias consideraram que a forma de minimizar o problema, já que o crédito nunca irá desaparecer, é elevar a supervisão à banca, aumentar a gravidade das multas e punições e na medida do possível, garantir a estabilidade económica para que os promotores mantenham a liquidez,a fim de continuar a cumprir com as suas obrigações.
Rui Malaquias, o primeiro a reagir, disse que o crédito malparado, como tem se referido em outros fóruns, na realidade angolana tem responsabilidade partilhada entre o banco, por passar por cima dos requisitos básicos, e dos clientes bancários, por razões alheias ou não à sua vontade.
Questionado se a falta de rigor na concessão de crédito tem a ver com os próprios gestores, Rui Malaquias entende que a fragilidade da gestão bancária é mais relacionada com a qualidade do gestor e com o nível de exigência do ambiente em que se insere, pois “os nossos gestores não trabalham para resultados, nunca houve punição exemplar para esta classe sempre que foi necessário, e sempre foi assim desde a Independência, adicionada a isto, sempre tivemos supervisão míope do BNA. Contudo, o Banco Central há quase três anos para cá, tem vindo a dar passos largos na forma como faz a supervisão, mas ainda entendemos que há muito que caminhar”, disse.
Sobre alguma resistência dos sistemas criados para o exercício pleno da gestão das instituições bancárias angolanas, o também docente universitário afirmou que os sistemas de gestão são dinâmicos e dependem da exigência dos accionistas dos bancos e dos objectivos a que os gestores de submetem, pois sempre que o gestor não alcance os objectivos delineados, em Assembleia Geral, estes tendem a substituídos, o que, às vezes, não acontece.
“O BPC é um caso à parte, não é um bom exemplo, pelo facto de o accionista por razões políticas e de ordem social, intervir na gestão do banco e isto faz com que o banco entre em conflito entre crescer e criar riqueza vs realizar a satisfação social, e isto é o pior que pode acontecer ao gestor e, por outro lado, deixa margem para gestores desonestos em nome do accionista fazer das suas”.
Perguntado se tem notado alguma anormalidade nas publicações de relatórios e contas das instituições bancárias referentes a 2019, o economista diz que o BNA deve exigir que as contas sejam publicadas atempadamente, e o que se pode perceber é que os resultados dos bancos seguiram a tendência recessiva nacional e mundial, na medida em que houve uma retracção da actividade económica.
A publicação das contas dos bancos é essencial para que os clientes bancários saibam com quem podem contar para financiar as suas iniciativas, bem como para o Estado para saber, com que parceiro vai caminhar.
Por outro lado, os bancos vêm nos títulos públicos o investimento mais rentável e mais seguro do mercado. Enquanto for assim, na visão de Rui Malaquias, será difícil para a economia real, porque, na verdade, o que aconteceé que os bancos preferem emprestar ao Estado do que às empresas.
Para se alterar o Estado de coisas, as empresas devem melhorar a relação de confiança com os bancos, no sentido de os créditostenham o mínimo de segurança para os bancos,se superem pelo menos em rentabilidade os títulos públicos, bem como é urgente que o próprio Estado consiga buscar outras alternativas de financiamento, além da emissão de títulos públicos.
Já o especialista bancário e docente universitário, Feliciano Lucanga, para que haja uma boa gestão bancária e financeira, é indispensável ser-se, acima de tudo, excelentes gestores, na qual desempenham um papel fundamental nas economias, como a moeda, os instrumentos financeiros, os mercados financeiros, as instituições financeiras e as autoridades de supervisão, no caso dos bancos centrais e outros reguladores.
“O sistema bancário vem sendo apurado ao longo dos anos e estão cada vez mais fragilizados”, afirma Feliciano Lucanga, para acrescer que as constantes violações às normas económicofinanceirasacontecem porque os bancos procuram lucros sem respeitar o sistema em que estão inseridos.
Em relação ao crédito malparado, não acredita em “paliativos”, mas sim na “profilaxia” comprovada, visto que passados anos, continua-se a injectar dinheiro dos cidadãos para desenvolver mais crédito malparado. E as refundações ou criação de empresas ou bancos sem capital para suportar esses renascimentos também produziram resultados negativos.
A exemplo do economista Rui Malaquias, o especialista com experiência de 27 anos de banca, defende medidas de fortificação dos normativos, regulamentação tornando-os mas robustos e com mais exigência de garantias. Não bastando isso, a entidade supervisora reguladora deve manter o acompanhamento permanente do cumprimento das políticas emanadas para a adopção de créditos.
Rui Malaquias, economista
“É urgente que o próprio Estado consiga buscar outras alternativas de financiamento, além da emissão de títulos públicos”
Feliciano Lucanga, bancário
“Os gestores devem reconhecer que têm de arriscar em financiar a economia, além daqueles a que os levam directamente ao seu maior cliente”