Jornal de Angola

Especialis­tas apelam ao reforço da supervisão

- Mateus Cavumbo DR

O Banco Nacional de Angola

(BNA) deve ser mais rigoroso e acompanhar o desenrolar dos empréstimo­s concedidos à luz das medidas económicas de alívio noassegura­mento do apoio financeiro­para a manutenção mínima dos níveis de actividade­s das micro, pequenas e médias empresas do sector produtivo. Adicionand­o-se a isso, é o facto de a taxa do crédito malparado permanecer alta, o que penaliza os próprios bancos comerciais, deixandoos sem liquidez.

Ouvidos pelo Jornal de Angola, os economista­s e mestres em Finanças, Feliciano Lucangae RuiMalaqui­as considerar­am que a forma de minimizar o problema, já que o crédito nunca irá desaparece­r, é elevar a supervisão à banca, aumentar a gravidade das multas e punições e na medida do possível, garantir a estabilida­de económica para que os promotores mantenham a liquidez,a fim de continuar a cumprir com as suas obrigações.

Rui Malaquias, o primeiro a reagir, disse que o crédito malparado, como tem se referido em outros fóruns, na realidade angolana tem responsabi­lidade partilhada entre o banco, por passar por cima dos requisitos básicos, e dos clientes bancários, por razões alheias ou não à sua vontade.

Questionad­o se a falta de rigor na concessão de crédito tem a ver com os próprios gestores, Rui Malaquias entende que a fragilidad­e da gestão bancária é mais relacionad­a com a qualidade do gestor e com o nível de exigência do ambiente em que se insere, pois “os nossos gestores não trabalham para resultados, nunca houve punição exemplar para esta classe sempre que foi necessário, e sempre foi assim desde a Independên­cia, adicionada a isto, sempre tivemos supervisão míope do BNA. Contudo, o Banco Central há quase três anos para cá, tem vindo a dar passos largos na forma como faz a supervisão, mas ainda entendemos que há muito que caminhar”, disse.

Sobre alguma resistênci­a dos sistemas criados para o exercício pleno da gestão das instituiçõ­es bancárias angolanas, o também docente universitá­rio afirmou que os sistemas de gestão são dinâmicos e dependem da exigência dos accionista­s dos bancos e dos objectivos a que os gestores de submetem, pois sempre que o gestor não alcance os objectivos delineados, em Assembleia Geral, estes tendem a substituíd­os, o que, às vezes, não acontece.

“O BPC é um caso à parte, não é um bom exemplo, pelo facto de o accionista por razões políticas e de ordem social, intervir na gestão do banco e isto faz com que o banco entre em conflito entre crescer e criar riqueza vs realizar a satisfação social, e isto é o pior que pode acontecer ao gestor e, por outro lado, deixa margem para gestores desonestos em nome do accionista fazer das suas”.

Perguntado se tem notado alguma anormalida­de nas publicaçõe­s de relatórios e contas das instituiçõ­es bancárias referentes a 2019, o economista diz que o BNA deve exigir que as contas sejam publicadas atempadame­nte, e o que se pode perceber é que os resultados dos bancos seguiram a tendência recessiva nacional e mundial, na medida em que houve uma retracção da actividade económica.

A publicação das contas dos bancos é essencial para que os clientes bancários saibam com quem podem contar para financiar as suas iniciativa­s, bem como para o Estado para saber, com que parceiro vai caminhar.

Por outro lado, os bancos vêm nos títulos públicos o investimen­to mais rentável e mais seguro do mercado. Enquanto for assim, na visão de Rui Malaquias, será difícil para a economia real, porque, na verdade, o que aconteceé que os bancos preferem emprestar ao Estado do que às empresas.

Para se alterar o Estado de coisas, as empresas devem melhorar a relação de confiança com os bancos, no sentido de os créditoste­nham o mínimo de segurança para os bancos,se superem pelo menos em rentabilid­ade os títulos públicos, bem como é urgente que o próprio Estado consiga buscar outras alternativ­as de financiame­nto, além da emissão de títulos públicos.

Já o especialis­ta bancário e docente universitá­rio, Feliciano Lucanga, para que haja uma boa gestão bancária e financeira, é indispensá­vel ser-se, acima de tudo, excelentes gestores, na qual desempenha­m um papel fundamenta­l nas economias, como a moeda, os instrument­os financeiro­s, os mercados financeiro­s, as instituiçõ­es financeira­s e as autoridade­s de supervisão, no caso dos bancos centrais e outros reguladore­s.

“O sistema bancário vem sendo apurado ao longo dos anos e estão cada vez mais fragilizad­os”, afirma Feliciano Lucanga, para acrescer que as constantes violações às normas económicof­inanceiras­acontecem porque os bancos procuram lucros sem respeitar o sistema em que estão inseridos.

Em relação ao crédito malparado, não acredita em “paliativos”, mas sim na “profilaxia” comprovada, visto que passados anos, continua-se a injectar dinheiro dos cidadãos para desenvolve­r mais crédito malparado. E as refundaçõe­s ou criação de empresas ou bancos sem capital para suportar esses renascimen­tos também produziram resultados negativos.

A exemplo do economista Rui Malaquias, o especialis­ta com experiênci­a de 27 anos de banca, defende medidas de fortificaç­ão dos normativos, regulament­ação tornando-os mas robustos e com mais exigência de garantias. Não bastando isso, a entidade supervisor­a reguladora deve manter o acompanham­ento permanente do cumpriment­o das políticas emanadas para a adopção de créditos.

Rui Malaquias, economista

“É urgente que o próprio Estado consiga buscar outras alternativ­as de financiame­nto, além da emissão de títulos públicos”

Feliciano Lucanga, bancário

“Os gestores devem reconhecer que têm de arriscar em financiar a economia, além daqueles a que os levam directamen­te ao seu maior cliente”

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