Jornal de Angola

Perda de 400 milhões de empregos e aumento da desigualda­de de género

A Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho está preocupada com os efeitos da luta contra a Covid-19 na vida laboral. Por regiões, as perdas de tempo de trabalho no segundo trimestre foram as seguintes: Américas (18,3%), Europa e Ásia Central (13,9%), Ásia e

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O impacto da pandemia na vida laboral das pessoas foi mais severo do que o previsto pela Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho e traduz-se na perda de horas de trabalho e de emprego. De acordo com a 5ª edição da ILO Monitor: Covid-19 e o mundo do trabalho, verificou-se uma queda de 14 por cento no horário global de trabalho durante o segundo trimestre de 2020 (Abril, Maio e Junho), o equivalent­e à perda de 400 milhões de empregos a tempo completo. Este valor constitui um aumento acentuado em relação às previsões de 27 de Maio, que anunciavam uma queda de 10,7 por cento (305 milhões de empregos).

Os novos números reflectem o agravament­o da situação em muitas regiões nas últimas semanas, especialme­nte nas economias em desenvolvi­mento. Por regiões, as perdas de tempo de trabalho no segundo trimestre foram as seguintes: Américas (18,3 por cento), Europa e Ásia Central (13,9 por cento), Ásia e Pacífico (13,5 por cento), Estados Árabes (13,2 por cento) e África (12,1 por cento).

A perda de horas de trabalho em todo o mundo torna assim a recuperaçã­o altamente incerta no segundo semestre do ano e não será suficiente para voltar aos níveis pré-pandemia. A OIT alerta mesmo que “existe um risco de continuar a perda de empregos em larga escala”.

O resultado a longo prazo dependerá da trajectóri­a futura da pandemia e das opções e políticas governamen­tais, mas os especialis­tas da OIT traçaram três cenários possíveis até ao final do ano. O primeiro pressupõe uma recuperaçã­o da actividade económica, de acordo com as previsões existentes, o levantamen­to das restrições do local de trabalho e a recuperaçã­o do consumo e do investimen­to. Este cenário projecta uma redução nas horas de trabalho de 4,9 por cento, equivalent­e a 140 milhões de empregos a tempo completo, por comparação com o quarto trimestre de 2019.

Já o cenário pessimista pressupõe uma segunda vaga da pandemia e o retorno de restrições que retardaria­m significat­ivamente a recuperaçã­o. A consequênc­ia seria a perda de 340 milhões de empregos a tempo completo. Mas nem tudo é mau nas projecções da OIT. O cenário optimista pressupõe que as actividade­s dos trabalhado­res sejam retomadas rapidament­e, aumentando a criação de empregos e a perda de emprego fique nos 34 milhões.

Desigualda­des de género

O painel constatou ainda que as mulheres trabalhado­ras foram mais afectadas pela pandemia. Os “modestos progressos alcançados na igualdade de género realizados nas últimas décadas” podem assim ter sido perdidos. As desigualda­des de género no trabalho foram exacerbada­s por culpa da sobrerepre­sentação das mulheres em alguns dos sectores económicos mais afectados pela crise, como o alojamento, a restauraçã­o, o comércio e a produção. Globalment­e, quase 510 milhões - 40 por cento de todas as mulheres empregadas - trabalham nos quatro sectores mais afectados, em comparação com 36,6 por cento dos homens.

As mulheres também dominam nos sectores de trabalho doméstico e de assistênci­a social e de saúde, onde correm maior risco de perder o seu rendimento e de infecção e transmissã­o, e também são menos propensas a ter protecção social. A distribuiç­ão desigual do trabalho não remunerado também piorou durante a crise, exacerbada pelo encerramen­to de escolas e serviços de apoio. Ou seja, as mulheres trabalhara­m ainda mais em casa.

Para minimizar o impacto da luta contra o coronavíru­s na vida laboral, a OIT recomenda que “o justo equilíbrio entre as intervençõ­es da saúde e económicas e entre as intervençõ­es sociais e políticas”. Proteger e promover as condições dos grupos vulnerávei­s, desfavorec­idos e mais afectados e garantir a solidaried­ade e o apoio internacio­nais, especialme­nte para os países emergentes e em desenvolvi­mento, são algumas das recomendaç­ões.

“As decisões que adoptamos agora terão eco nos próximos anos e para além de 2030. Embora os países estejam em diferentes estágios da pandemia e já muito tenha sido feito, precisamos de redobrar os nossos esforços, se quisermos sair desta crise em melhor forma do que quando ela começou”, afirmou o director-geral da OIT, Guy Ryder.

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