Fazer o bem sem olhar a quem
Assinala-se hoje o Dia Mundial da Cooperação, uma celebração anual que visa valorizar a importância e vantagens de congregação de esforços tendo em vista benefícios comuns
Assinala-se hoje o Dia Mundial da Cooperação, uma celebração anual que visa valorizar a importância e vantagens de congregação de esforços tendo em vista benefícios comuns. A actual pandemia da Covid-19 vem reforçar a máxima de que nenhum país no Mundo consegue sobreviver por si só, sem cooperar com outros Estados.
A actual pandemia provocada pelo novo coronavírus vem reforçar a máxima de que nenhum país no Mundo consegue sobreviver por si só. “Precisamos de extrair as lições apropriadas sobre as vulnerabilidades e desigualdades que o vírus revelou e mobilizar investimentos em educação, sistemas de saúde, protecção social e resiliência”, afirmou o secretário-geral da ONU a propósito do 24 de Abril, Dia Internacional do Multilateralismo e da Diplomacia pela Paz, declarações que hoje retomamos porque ajustam-se bem para o Dia Mundial da Cooperação.
António Guterres defendeu que a cooperação internacional se deve adaptar aos novos tempos. “Não basta proclamar as virtudes do multilateralismo; devemos continuar a evidenciar o seu valor acrescentado”, disse, numa mensagem em vídeo especial para a data.
“A pandemia da Covid19 lembra-nos de forma trágica como estamos profundamente conectados. O vírus não conhece fronteiras e é um desafio global por excelência. Para combatêlo, precisamos trabalhar juntos como uma família humana”, ressaltou.
O secretário-geral da ONU acrescentou que é preciso fazer o possível “para salvar vidas e aliviar a devastação económica e social”. Este é o “maior desafio internacional desde a Segunda Guerra Mundial”, disse.
Guterres lembrou que, mesmo antes, “o mundo enfrentava outros perigos transnacionais profundos, as alterações climáticas acima de tudo”. Para ele, o multilateralismo não é apenas uma questão de enfrentar as ameaças compartilhadas pelo mundo: tratase também de aproveitar oportunidades comuns. “Agora temos a oportunidade de recuperar melhor do que no passado, visando economias e sociedades inclusivas e sustentáveis.”
“Precisamos de um multilateralismo em rede, fortalecendo a coordenação entre todas as organizações multilaterais globais, com organizações regionais capazes de fazer as suas contribuições vitais; e um multilateralismo inclusivo, baseado na profunda interação com a sociedade civil, empresas, autoridades locais e regionais e outras partes interessadas, onde a voz da juventude é decisiva para moldar o nosso futuro”, frisou.
Num momento-chave da cooperação internacional, que coincidiu com o 75º aniversário das Nações Unidas, Guterres pediu um “esforço para concretizar a visão dos fundadores de um futuro saudável, equitativo, pacífico e mais sustentável para todos”.
A Oganização das Nações
Unidas foi fundada a 24 de Outubro de 1945, quando se fazia o rescaldo da II Guerra Mundial, que culminou com 60 milhões de mortos. Embora a ONU e os seus organismos estejam muitas vezes envolvidos em polémicas, eles
constituem o expoente máximo da cooperação internacional nos mais variados domínios.
Quando se fala em cooperação, sobressaem, em geral, as questões de defesa e segurança e a economia, esta vista apenas a partir dos cifrões das balanças de pagamento. Sem Paz, o desenvolvimento económico e social é posto de parte.
Mas, cooperar vai muito além. A Paz é a condição sine
qua non para que tudo aconteça, mas ela só pode ser mantida quando todos os outros aspectos estiverem garantidos. Neles incluem-se os Direitos Humanos, o primeiro dos quais é o Direito à Vida.
Os apelos constantes de António Guterres e outros responsáveis e quadros nas Nações Unidas e dos vários organismos internacionais ao redobrar da solidariedade entre países e povos para pôr fim a diferentes situações que afectam a Humanidade fortalecem a ideia de que só com acções conjuntas é possível debelar as crises.
A História revela que actos individuais ou unilaterais, sejam intervenções militares, sejam sanções económicas ou outras, tendem a fracassar e resultam em maior sofrimento para os povos que supostamente se pretende ajudar.
Ainda este ano, por ocasião do Dia Internacional do Parlamentarismo, celebrado a 30 de Junho, o secretário-geral das Nações Unidas afirmou que “Devemos agir juntos para reconstruir um futuro mais igual, resiliente e mais verde para todos”.
A busca de “respostas sustentáveis e inclusivas” deve ser uma batalha de todos e não apenas dos parlamentares. Ainda que tal acarrete conotações políticas, a sociedade tem de olhar para o facto de serem sempre os mais vulneráveis a carregar o maior fardo.
“Desigualdades, estigmas, divisões e fragilidades do nosso mundo se multiplicaram diante de nossos olhos”, afirmou. Tudo isso enquanto se vê aumentarem os discursos de ódio e as atitudes de cariz populista.
O problema maior é que tais mensagens ditas liberais fazem eco nas sociedades em que a pobreza e as dificuldades da vida tornam as pessoas mais vulneráveis a esse tipo de atoardas, que tendem a culpabilizar fantasmas, como as políticas em defesa do ambiente e a imigração.
Cooperar é visto mais como o que “entra” do que o que “sai”. Quando assim é, o princípio cristão de “fazer o bem sem olhar a quem” afigurase uma falácia.