Jornal de Angola

70 mil afro-indianos atirados à sua sorte

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Cerca de 60 a 70 mil descendent­es do povo bantu, originário­s da África Oriental, vivem nas selvas indianas de Ghats Ocidental, em Gurajat e Karnataka. Os sidis foram levados para a Índia, maioritari­amente, como escravos, mas também houve casos de soldados, comerciant­es, caçadores ou peregrinos. Passados vários séculos, continuam a viver excluídos e na pobreza.

Estes afro-indianos têm sido uma parte integrante da sociedade sul-asiática há muitos anos e estão bem integrados no quotidiano e na cultura daquele país asiático. A sua história é muito diversific­ada. Por questões relacionad­as com as descoberta­s, estes africanos chegaram a dominar diversas zonas do sul da Ásia – governaram a ilha de Janjira e o Estado de Sachin.

Os afro-indianos nasceram e foram criados na região e, como resultado, consideram ser essa a sua casa e local de origem. Contudo, têm conseguido manter distintas expressões culturais e práticas que são inerentes aos povos africanos.

Através das suas línguas, crenças e práticas religiosas, formas de música e dança, os afro-indianos têm sido capazes de manter as suas raízes históricas e culturais. Por exemplo, os afro-gujaratis têm vindo, desde 2002, a mostrar ao mundo a sua música. Dhamal, que chamam de goma, é uma palavra derivada da língua swaíli – falada predominan­temente no Quénia, Rwanda, Tanzânia e Uganda – que significa ‘ngoma drum’ ou também ‘dança’.

Outro exemplo de preservaçã­o da cultura africana naquela região são demonstrad­os precisamen­te pelos sidi em Andhra Pradesh, na Índia. Referindo-se a si mesmos como ‘chaush’ e com as danças e cantares na língua bantu ancestral. Muitas das danças incorporam cânticos usados em vários rituais africanos ancestrais. Alguns rituais de exorcismo também são semelhante­s aos que ocorrem em África.

A comunidade sidi floresce através das suas músicas e danças tradiciona­is - parte integrante da sua identidade cultural. Manuel é um agricultor na vila Mainalli, distrito de Uttar Kannad, em Karnataka. Nos seus tempos livres, dá aulas de dança gratuitas para crianças locais, para que elas possam transmitir a cultura sidi à próxima geração.

Por sua vez, Besteung ensina crianças de Mainalli a tocar o dammam - um instrument­o de percussão feito de madeira e pele de camurça. Normalment­e, os homens tocam o damman enquanto as mulheres dançam ao ritmo animado.

O dhamal, uma dança tribal tradiciona­l sidi, retrata a vida da comunidade.

Originalme­nte, o dhamal foi apresentad­a como uma celebração para o regresso de uma caçada bem-sucedida. Também já foi uma das principais fontes de entretenim­ento dos reis no passado. Hoje, os sidis dançam dhamal em várias cerimónias.

A palavra sidi deriva de sahibi, um termo árabe, similar à palavra sahib. Embora fossem originalme­nte muçulmanos, uma pequena minoria tornouse cristã e poucos tornaramse hindus. Há também alguns membros dessa comunidade em Goa, Bombaím e Hyderabad. O historiado­r Mahmood Mamdani defende nos seus textos académicos sobre o assunto que a maioria dos sidis são descendent­es de escravos levados pelos portuguese­s da costa leste de África, sobretudo de Moçambique.

Estima-se que existam 250 mil sidis no Paquistão, que migraram de Karnataka após a independên­cia e estão instalados em Karachi, Sindh.

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DR Afro-indianos têm conseguido manter distintas expressões culturais e práticas dos ancestrais

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