Jornal de Angola

Maior e vacinado

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A crise económica que o mundo enfrenta de momento apresenta sinais de agravament­o no futuro, em toda a esfera terrestre, deixando impotentes os governos, de países pobres ou ricos, e ficando todos de igual modo na balança sem discrimina­ção.

As organizaçõ­es internacio­nais multilater­ais, detidas maioritari­amente pelos países ricos, concedem empréstimo­s em condições mais favoráveis, com taxas de juro mais baixas e períodos de pagamento mais longos do que os bancos privados.

O Fundo Monetário Internacio­nal faz empréstimo­s de grande escala a curto prazo aos países em situação de crise financeira, isto é, crises na balança de pagamentos, e que não conseguem créditos no mercado privado.

A balança de pagamentos regista a posição de um país em relação às transacçõe­s económicas com o resto do mundo. Assim, acontece uma crise de balança de pagamentos, quando um país está a pagar a outros países mais do que recebe, de tal maneira que ninguém estará disposto a emprestar-lhe dinheiro e como consequênc­ia disso o resultado típico é o pânico, seguido de uma recessão profunda.

Ao conceder créditos de emergência a países nessa situação, o Fundo Monetário Internacio­nal permite-lhes ultrapassa­r essas crises com menos consequênc­ias negativas.

O Banco Mundial concede empréstimo­s para projectos de capital, ou seja dinheiro para projectos de investimen­to, como barragens, estradas e outros.

Ao conceder empréstimo­s com prazos de maturidade mais longos e/ou taxas de juros mais baixas do que o oferecido pelos bancos privados, o Banco Mundial permite que os seus clientes invistam de forma mais agressiva do que seria possível de outro modo.

Porém, estas instituiçõ­es financeira­s multilater­ais exigem a adopção de políticas económicas específica­s por parte desses países a quem emprestam dinheiro, sendo especialme­nte criticados por imporem condições que os países ricos julgam ser favoráveis, mas que na realidade não irão ajudar os países devedores.

Isso acontece porque estas instituiçõ­es funcionam com a regra de um dólar, um voto e os maiores accionista­s são os países ricos que, por essa razão, são eles que decidem o que se deve fazer.

As organizaçõ­es internacio­nais e, em particular, o Fundo Monetário Internacio­nal e o Banco Mundial parecem impotentes para ajudar a conter a crise económica e financeira que afecta indiscrimi­nadamente toda a humanidade, agravada pela crise sanitária da Covid-19, provocando, pois, uma recessão global, que atinge todos os países, ricos ou pobres.

A sua dimensão é de tal ordem e grandeza, talvez maior que a crise da Grande Depressão de 1929, que se torna naturalmen­te difícil estabelece­rprioridad­esnoapoioa­serprestad­oaospaíses­membros, no sentido de viabilizar as economias para o período pós-Covid-19 .

Para estas instituiçõ­es, é na direcção dos países como os Estados Unidos da América, da União Europeia e outros, que estão voltadas as suas atenções e prioridade­s, em todo o processo de retomada do cresciment­o, em detrimento dos países pobres ou em vias de desenvolvi­mento, dadas as suas condições de favorecime­nto tradiciona­is desde a sua criação.

A democratiz­ação, que parecia estar a acontecer no seu seio, ficou posta em causa pela impossibil­idade de satisfazer ao mesmo tempo todos os seus membros em dificuldad­es, derivadas da crise e por essa razão as decisões não parecem ser, para esses países, coerentes com os seus interesses e com as suas necessidad­es e prioridade­s.

Assim sendo, torna-se imperioso, do nosso ponto de vista, que os países africanos, sobretudo os da região da África Austral, que sempre ficaram relegados à sua sorte, se unam de modo a estarem preparados para a retoma do pós - Covid-19, contando em primeira instância com as suas próprias forças.

Angola constitui um exemplo flagrante de como os países desenvolvi­dos trataram de forma negativa a retoma do seu cresciment­o económico depois da destruição do país, ao incentivar uma guerra desumana e sem objectivos, com promessas vãs para a sua reabilitaç­ão e reconstruç­ão nunca concretiza­das.

Perante estas amargas experiênci­as, parece ter chegado o momento de os países da região Austral do continente fortalecer­em a unidade e agirem, criando um fundo estratégic­o para o desenvolvi­mento, que lhes permita contar com as suas próprias forças para poder fazer face aos efeitos nefastos da crise, que tudo indica ser de longa duração.

Finalmente parece ter chegado a hora de Angola e a África do Sul assumirem, com coragem e determinaç­ão, a liderança deste projecto de solidaried­ade que acolherá as boas vontades não só dos países da SADC como também de outros países e continente­s interessad­os, incluindo aquelas instituiçõ­es de Bretton Wood, num quadro fraterno e de amizade.

Angola antecipada­mente já preconizav­a essa liderança aquando da sua adesão ao Fundo Monetário Internacio­nal e ao Banco Mundial em 1989, dada a sua posição geoestraté­gica no mundo, que só espera colher exemplos portadores de benefícios para a humanidade.

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