Jornal de Angola

Angola está longe de ser o “velho Texas”

- António Félix

Egocentris­mo e modéstia à parte, no início deste ano estive empenhado no ofício forense que também exerço, a tratar da acusação feita a um cidadão que, à força, em rixa, apossou-se da arma do seu vizinho, num bairro do município de Viana.

A arma era de calibre de guerra e só por pouco o meu defendido não foi sancionado, até mesmo livre da condução à cadeia, se tivesse ficado provado que com a mesma praticou outro delito.

Devolveu-a ao vizinho e este, por sua vez, teve a imperativa responsabi­lidade de provar ao Serviço de Investigaç­ão Criminal, onde, como e quando obteve o “artefacto bélico” para a guarda da sua suposta empresa de segurança. Pagou caríssimo pela ilegalidad­e!

Tudo isto tem respaldo no Decreto Legislativ­o nº 37778 , de 29 de Novembro de 1967. Quem fizer tábua rasa a este diploma, arrisca-se, pois, a astronómic­as multas e cassação de licenças. E cadeia, se usada (a arma) para outros crimes.

O desarmamen­to é assim um barómetro, uma luta que deve ser levada à risca, conduzindo-nos à paz social. Sob pena de, havendo cidadãos e empresas a possuílas ilegalment­e, estarem a violar o citado diploma legal.

É por isso que as empresas de segurança, nos termos da legislação actual, , só podem fazer uso e porte de pistolas semiautomá­ticas de calibre não superior a 7,65 milímetros, revólveres de calibre inferior a nove milímetros e espingarda­s semiautomá­ticas de calibre não superior a 7,65.

E mais. As empresas que exercem, por exemplo, a actividade de transporte de bens e valores só podem fazer uso de carabinas de repetição de calibre 38 milímetros, espingarda­s de calibre 12 milímetros, 16 mm ou 20 e pistolas semiautomá­ticas de calibre 38 mm.

Justifica-se a mão de ferro das nossas autoridade­s de defesa e segurança e judiciais, de ano para ano, a “dar luta” a quem age à pala de forada-lei, Um dos antídotos nesta senda tem sido as campanhas de desarmamen­to. Porque os números preocupam. Assustam.

Veja-se, por exemplo, que noutro espaço desta página especial, o comissário Orlando Bernardo, que é director de Operações do Comando-Geral d a Polícia Nacional, “contabiliz­a” que, de 2008 à presente data, foram recolhidas, no país, 111 mil e 889 armas.

Se olharmos para esses números e, comparativ­amente, recuarmos a 31 de Outubro de 2019, a cifra subiu.

Porquê? Porque naquela altura, isto é, há cerca de dez meses, o comissário Aristófane­s dos Santos, revelou publicamen­te à imprensa que 110 mil e 197 armas de fogo de diversos calibres foram recolhidas, no país, de 2008 a 2019.

É verdade, é um facto que este mosaico de armas ilegais pode ser ainda reflexo da história contemporâ­nea da nossa terra, essa Angola que viveu três longas guerras que “esfrangalh­aram” o nosso tecido humano, social e económico.

Mas, aqui à parte qualquer jargão político ou partidário, para e pelo desarmamen­to, a nossa luta colectiva deve continuar. A vitória será certa. Tem de ser assim com a ânsia de sermos cidadãos de um país diferente do velho Texas, lá no “Far Oeste” americano, onde as armas e disparos mortais anda(va)m, aos magotes...

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