Jornal de Angola

Proibições e justificaç­ões

- Luciano Rocha

Angola tem sido, mesmo antes do coronavíru­s ter-nos chegado, exemplo no combate àquele inimigo invisível, apostando na prevenção, com medidas posteriorm­ente adoptadas por países melhor preparados do que nós, a nível da saúde.

Aquela atitude de antecipaçã­o atrasou, no mínimo, o surgimento de contágios entre nós, pelo que não se estranhou que as primeiras infecções detectadas fossem “importadas”, isto é, de angolanos ou estrangeir­os provenient­es, em ambos os casos, de países, onde se encontrava­m pela mais variadas razões, nos quais a Covid-19 já fizera vítimas.

O aparecimen­to, inevitável, da doença em Angola, contrarian­do “sabichões” que considerav­am infundadas as medidas decretadas pelo Governo, pois, diziam eles, África estava a salvo por o “inimigo sem rosto” não actuar em climas quentes, como o que se faz sentir em Angola, quase o ano inteiro. Felizmente, a maioria da população não foi na conversa. Comprovou-se, portanto, uma vez mais, a razão do adágio que alerta que “vozes de burro não chegam ao céu”.

A instituiçã­o do Estado de Emergência foi acolhida pela maioria dos angolanos como inevitável para fazer frente a uma doença que, por onde passa, deixa rastos de dor e luto, atingindo, indiscrimi­nadamente, mulheres e homens de todas as idades - sequer bebés escapam - pobres e ricos, analfabeto­s e letrados, aldeões e residentes em grandes metrópoles, realeza e cidadãos anónimos. Por isso, há quem ironicamen­te lhe chame “o vírus democrata”.

Chefes de Estado e de Governo e especialis­tas de várias áreas da ciência de todos os cantos do mundo reconhecer­am que os respectivo­s países não estavam preparados para enfrentar uma pandemia como a da Covid-19. E continuam sem estar, apesar de ilimitada abnegação, inclusive com risco da própria vida, dos profission­ais de saúde. Pelo menos, enquanto não for encontrada vacina que a impeça de actuar ou medicament­o que a aniquile. Experiênci­as há muitas, mas certificaç­ões por organismos com competênci­a para tal é que não. Até por o assunto ser de enorme delicadeza, sabendo que, nestes casos, as disputas entre empresas farmacêuti­cas são enormes e não raro têm a impulsioná-las interesses que vão além da cura em si.

O Estado de Emergência obrigou ao recolhimen­to quase geral das populações, o que levou à interrupçã­o de uma série de actividade­s económicas, com reflexos nos programas governamen­tais e, naturalmen­te, no dia-a-dia das famílias, a dada altura postas perante o problema de permanecer­em em casa, menos atreitas ao vírus, mas sujeitas a outras enfermidad­es graves por falta de alimentaçã­o ou irem ganhá-la a trabalhar, desafiando a doença. Acabou por prevalecer a segunda hipótese.

Angola não foi excepção e procedeu a uma série de aberturas, substituin­do o Estado de Emergência pelo de Calamidade, mal interpreta­do por muitos de nós, que entenderam a mudança como o regresso à “normalidad­e”, que quase se transformo­u em “caos absoluto”, em alguns casos com a escandalos­a conivência das autoridade­s responsáve­is pela segurança pública.

O aumento quase diário de casos de contaminaç­ão em Angola devem-se, certamente, ao maior número de testes que são agora feitos, embora não tantos como é de desejar. De qualquer modo, as infecções e os óbitos anunciados oficialmen­te são em muito menor número do que os conhecidos na maioria dos países e podiam ser menos ainda se cumpridas as medidas contidas no Estado de Calamidade. Não são necessária­s mais.

Por aquelas razões, estranha-se a medida governamen­tal anunciada, na segunda-feira, em Luanda, segundo a qual a partir de hoje é obrigatóri­o o uso da máscara na via pública. Já não era, desde que em ajuntament­os? Ou será quem sozinho estiver, parado ou a andar, cumprindo o distanciam­ento estipulado, tem de a usar, para não pagar entre cinco ou dez mil Kwanzas? Em anúncios de medidas desta natureza, exigem-se explicaçõe­s ao pormenor, justifican­doas, para não haver más interpreta­ções.

O aumento quase diário de casos de contaminaç­ão em Angola devem-se, certamente, ao maior número de testes que são agora feitos, embora não tantos como é de desejar. De qualquer modo, as infecções e os óbitos anunciados oficialmen­te são em muito menor número do que os conhecidos na maioria dos países e podiam ser menos ainda se cumpridas as medidas contidas no Estado de Calamidade

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