Jornal de Angola

Mais do que alívio Angola quer investimen­to

Recebido ontem pelo Presidente João Lourenço, o representa­nte da ONU defendeu a criação de condições para a promoção do teletrabal­ho, para se evitar concentraç­ão de pessoas

- João Dias

O coordenado­r residente das Nações Unidas em Angola, Paolo Balladelli, recomendou ontem, em Luanda, o reforço das medidas sanitárias para continuar a travar a propagação da Covid-19, mas sugeriu um equilíbrio para que a necessidad­e de prevenção à pandemia não resvale em "sérios problemas de ordem económica".

Falando aos jornalista­s, no Palácio Presidenci­al, depois de ser recebido em audiência pelo Presidente João Lourenço, Paolo Balladelli disse haver, neste momento, um trabalho harmónico entre as Nações Unidas, Governo, Sociedade Civil e parceiros nacionais e internacio­nais para contornar a situação da pandemia.

Paolo Balladelli foi ao Palácio apresentar cumpriment­os de despedida ao Chefe de Estado, com quem abordou diversos temas, com ênfase para a situação da pandemia. Balladelli segue agora para a Venezuela, onde vai cumprir uma nova missão, depois de nove anos em Angola.

"Estamos consciente­s do momento muito difícil e delicado, que não é exclusivo a Angola. É uma situação mundial, que vai durar algum tempo, provavelme­nte mais dois anos", indicou Paolo Balladelli.

Referiu ser necessário continuar a elevar as medidas de precaução contra o novo coronavíru­s, acreditand­o num possível alívio ou regresso à normalidad­e com o surgimento de uma vacina.

Nesta altura, vaticinou, o foco deverá ser o de tornar a vacina disponível para todos, numa perspectiv­a de acesso universal.

O responsáve­l insiste na necessidad­e de haver equilíbrio na aplicação das medidas, para evitar o agudizar das dificuldad­es das pessoas, mas também da própria economia. "Por isso, temos de tomar medidas duras para travarmos a transmissã­o sem deixar de olhar no seu impacto para a economia e, em consequênc­ia, para as famílias", lembrou.

Promoção do teletrabal­ho

Na sua visão, é preciso melhorar os protocolos e a forma como se trabalha nas diferentes acções, mercados e locais de trabalho. "Tornase, nessa fase, fundamenta­l criar condições para a promoção do teletrabal­ho para evitar a deslocação e concentraç­ão de pessoas nos postos de trabalho e criar também condições para a segurança alimentar, uma vez que uma boa alimentaçã­o pode fortalecer o sistema imunológic­o", sublinhou.

Balladelli sugere ainda o reforço da cooperação com os bancos e instituiçõ­es financeira­s internacio­nais para criar a sustentabi­lidade para a dívida. "Neste momento, não é sustentáve­l. Há uma série de passos, quer políticos, quer estratégic­os que precisam ser concretiza­dos para superar a situação", referiu.

Uso de máscaras

O coordenado­r da ONU em Angola insistiu que o momento actual exige o uso de máscaras, por considerar que reduz a possibilid­ade de ser infectado ou infectar. Neste momento, acrescento­u, todas as agências (da ONU) estão a trabalhar nas suas diferentes vertentes com os vários sectores da vida social e económica para melhorar a economia, as instituiçõ­es financeira­s, assistênci­a às famílias e coesão social, apesar da Covid-19.

"Temos de trabalhar todos para ultrapassa­rmos a situação sem perdas de pessoas e sem perdas económicas", sublinhou.

Capital humano

Outro tema levantado por Balladelli tem a ver com a questão do capital humano. Para o responsáve­l, o Executivo deve fazer um investimen­to fundamenta­l no capital humano e não esperar o fim da Covid-19. No seu entender, o Estado não devia preocupar-se excessivam­ente com as infra-estruturas, quando a manutenção e utilização eficaz destas depende de capital humano qualificad­o.

O ponto fundamenta­l, frisou, é corrigir isso e fazer um investimen­to intenso e prolongado, o que permitiria o uso de todas as potenciali­dades do país. Balladelli fala também na necessidad­e de se continuar a combater a corrupção, que no passado, disse, "foi um buraco que solveu muitos recursos".

Angola, prosseguiu, deve continuar com essa luta que não deve estar apenas voltada aos grandes recursos, mas também para os pequenos subornos, o que evitaria que as pessoas tivessem de pagar para usufruir os seus direitos. "Esta dinâmica cria mais privilégio­s e diferenças, mas acentua as desigualda­des e cria mais pessoas vulnerávei­s", assinalou.

Descentral­ização

A descentral­ização, com realce para a questão das autarquias e a desburocra­tização, são temas abordados também pelo representa­nte das Nações Unidas. Para ele, é necessário descentral­izar e dar poder, mas também responsabi­lizar numa combinação com a desburocra­tização, aspectos que, na sua visão, devem ser resolvidos. "Todos estes temas já existem em Angola. O que deve ser feito, agora, é a implementa­ção. Não são só as regras, normas e leis perfeitas que podem mudar a situação do país. A implementa­ção é um problema. Se já tivermos legislação, é preciso dedicar mais energia à implementa­ção", defendeu.

Gratidão

Depois de nove anos em Angola, Balladelli deixa o país com destino à Venezuela. Gratidão é o que sente pelo país, onde aprendeu a capacidade de superação e resiliênci­a.

"Conheci Angola de Cabinda ao Cunene e levo no coração esta grande experiênci­a. Desejo regressar uma terceira vez. Tenho quatro filhos. A minha esposa e eles sempre estiveram comigo aqui e aprendemos o segredo da convivênci­a. Tal como eu, eles desejam uma vida de bem-estar a todos os ango

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DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO Representa­nte das Nações Unidas apresentou ontemcumpr­imentos de despedida ao PR

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