Jornal de Angola

Dia Mundial da População em tempos de afastament­o

- Osvaldo Gonçalves|

A população mundial vive um momento sem precedente­s. Embora tenha havido antes outras pandemias, a Covid-19 acontece numa altura em que os 7,7 mil milhões de habitantes da Terra gozam de um nível de desenvolvi­mento tal, que lhes permite compartilh­ar a dor alheia de forma muito próxima, ao mesmo tempo que o afastament­o abre caminho a outras patologias, nomeadamen­te as de fórum psicológic­o.

O momento que vivemos deve servir como uma espécie de laboratóri­o para todos os cientistas sociais, em geral, observarem o lado negativo de todas as ideologias que apelam ao separatism­o e divisionis­mo entre os povos, por meio de políticas e discursos racistas, xenófobos, tribalista­s ou outros.

Criado em 1989, inspirado no Dia dos Cinco Biliões, celebrado em 1987, o Dia Mundial da População, hoje assinalado, tem como objectivo alertar para as questões do planeament­o e desenvolvi­mento populacion­al, numa altura em que se acentuam as diferenças no acesso a recursos e serviços básicos, como saúde, educação, saneamento e alimentaçã­o entre outros.

A população mundial cresce a cada dia, ao mesmo tempo que se agudizam as desigualda­des entre as regiões, os países e dentro deles. Por estarem relacionad­os com as tendências demográfic­as, como o cresciment­o populacion­al, o envelhecim­ento, a migração e a urbanizaçã­o, os desafios estabeleci­dos em procotolos e convenções internacio­nais encontram fortes obstáculos para a sua materializ­ação.

Enquanto documentos importante­s para o desenvolvi­mento sustentáve­l chamam atenção para a sua vulnerabil­idade às alterações climáticas, estimativa­s como a que, até 2050, 68 por cento da poulação mundial viva em áreas urbanas parecem soar como violinos aos ouvidos de determinad­as elites, mais interessad­as em cavar o fosso que separa os ricos dos pobres.

Em varíos países, a existência de comunidade­s pobres é benéfica para as elites, ainda que tal aconteça à porta dos seus bairros, condomínio­s e mansões de luxo. Esse apartheid urbano agrada-lhes, sobretudo, nos momentos de eleição, em que o voto do pobre conta.

Volta e meia ouvem-se comentário­s sarcástico­s de pessoas pertencent­es às classes e países ditos ricos sobre as elevadas taxas de natalidade nos países e comunidade­s pobres, em particular em África, sem que se faça alusão à ausência de outros serviços básicos, como a saúde e a educação, os quais serviriam para combater o cresciment­o populacion­al descoorden­ado.

Até 2050, a população africana deverá passar de 1,3 mil milhões para 2,5 mil milhões de pessoas, ainda que a mortalidad­e infantil permaneça alta, muito devido à taxa de natalidade (4,7 crianças por mulher).

Ao contrário do que alguns tentem fazer crer, a existência de uma grande população jovem nem sempre é sinónimo de dias melhores, por que faltam educação e emprego condignos. Sem estes dois aliados importante­s, os menores tornam-se presas fáceis dos grupos criminosos. É um ciclo que tende a agravar-se e só se tornam piores com as guerras e as políticas discrimina­tórias.

Neste momento, em que estamos todos voltados para os noticiário­s sobre a evolução da Covid-19, em que damos mais atenção aos problemas por ela gerados, como o desemprego e a violência doméstica, deixamos de pensar em questões aparenteme­nte mais fúteis, como o amor ao próximo.

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ARTE GRÁFICA | EDIÇÕES NOVEMBRO
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DR População mundial é constituíd­a por 7.7 biliões de pessoas

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