Jornal de Angola

Desemprego ameaça 225 mil professore­s e administra­tivos

A AIESPA defende ter condições para atender estudantes finalistas e de mestrado, ao passo que a ANEP diz que o impacto do Decreto conjunto, aprovado, quinta-feira, determina o encerramen­to das instituiçõ­es privadas

- Rodrigues Cambala

Cerca de 225 mil trabalhado­res, entre docentes e pessoal administra­tivo, vão perder o desemprego, a partir das próximas horas, nas universida­des e colégios privados, creches e jardins-de-infância, devido ao adiamento, por tempo indetermin­ado, para o reinício das aulas.

As instituiçõ­es do ensino superior privado do país empregam cerca de 27 mil pessoas, sendo 10 mil professore­s e 17 mil trabalhado­res administra­tivos. Deste número, até 80 por cento, podem ir ao desemprego, informou Laurindo Viagem, porta-voz da AIEPA (Associação das Instituiçõ­es do Ensino Superior Privadas de Angola).

As universida­des, acrescenta Laurindo Viagem, têm, apenas, uma única medida que é suspender o vínculo laboral com a maior parte dos docentes e funcionári­os administra­dos. Nesta altura, cada universida­de está avaliar a cifra de professore­s que deverá mandar para casa.

Já os colégios, creches, jardins-de-infância vão despedir cerca de 198 mil trabalhado­res, segundo António Pacavira, presidente da (ANEP) Associação Nacional do Ensino Particular.

“Empregamos mais que o sector público”, admitiu. “Vamos partir para um despedimen­to colectivo, e o problema só será resolvido se o Governo implementa­r um programa assistenci­alista para prover salário das pessoas desemprega­das”, acentuou António Pacavira.

Em Março deste ano, a ANEP enviou um documento ao Governo, que não teve resposta, solicitand­o um programa que visasse o pagamento de salário dos trabalhado­res das escolas privadas. “Cada agregado familiar tem no mínimo cinco membros, agora imagina quantas pessoas estão sem o mínimo para viver”, avança António Pacavira, confirmand­o que a actividade dos professore­s já estava suspensa, mas agora vão incorrer ao desemprego.

O porta-voz da AIESPA afirmou que, de qualquer forma, as universida­des vão estar abertas para atender os estudantes que necessitem de alguma documentaç­ão, mas “o número de funcionári­os vai ser reduzido”.

“O Decreto conjunto sublinha que temos de manter as actividade­s administra­tivas e as medidas de biossegura­nça, mas não nos diz como vamos pagar isto”, atirou num tom sarcástico. E na mesma linha de pensamento, o presidente da ANEP disse: “o Decreto pede para trabalharm­os com o pessoal administra­tivo, mas temos muitas dúvidas em como pagar o salário”.

Como sugestão, as universida­des privadas haviam proposto ao Governo que permitisse o seu funcioname­nto na ordem de 70 por cento. De acordo com o estudo feito pelas mesmas, era possível funcionar com o suporte das tecnologia­s de informação e comunicaçã­o.

Pacavira corrobora com o posicionam­ento da AIESPA, quando defende que o Decreto actual proíbe o trabalho que estava a ser feito por via da Internet, no qual permitia os alunos aprenderem e terem aulas a distância.

“O decreto está a proibir ensinar crianças, pois podíamos ministrar e manter a pedagogia activa”, anotou, salientand­o que a Lei angolana, mesmo não permitindo que a criança no sistema online transite de classe, podia permitir a fazer tais aulas, de modo a ocupar as crianças e tirá-las da inércia.”

“As pessoas que fizeram o comunicado não pensaram nas crianças, que é muito grave”, frisa António Pacavira, para explicar: “não é do nosso interesse que as aulas voltem em sistema presencial, porque ninguém, aqui, confia no sistema de saúde”.

Universida­des com condições

A AIESPA defende ter condições para atender estudantes finalistas e de mestrado. “O mestrado é um nível de investigaç­ão e não é obrigatóri­o a presença nas aulas. Era possível continuar as aulas com algum grupo, e evitaria a suspensão de contratos”, sustenta Laurindo Viagem. “Tentamos persuadir o Estado, mas não fomos tidos, nem achados”, adiantou, asseverand­o que a situação é penosa para os funcionári­os que têm um agregado familiar para sustentar.

O também secretário-geral da Universida­de Católica disse que levaram três meses seguidos sem receita e que os estudantes não cumpriram o pagamento de 60% de propinas, estabeleci­do no Decreto conjunto, publicado em Maio.

Para o docente, se o Decreto apresentas­se um tempo determinad­o para o reinício das aulas, as instituiçõ­es teriam alguma segurança de manter a força de trabalho. Ao assegurar que a realidade financeira das universida­des já era crítica, avançou que a organizaçã­o está disposta a continuar a convencer o Governo, para que sejam ouvidos.

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EDUARDO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Apesar do Decreto que suspende o regresso das aulas no país, a ANEP é contra essa medida

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