Jornal de Angola

Delírios e psicose podem ser efeitos da Covid-19 no cérebro

O mais provável é que os efeitos no cérebro sejam consequênc­ias de uma exagerada reacção do sistema imunitário, quando se está a tentar defender da infecção

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O caso de uma mulher de 55 anos infectada com o novo coronavíru­s chamou a atenção para a possibilid­ade de a doença poder causar distúrbios neurológic­os, como delírios e psicose. Serão mais uma resposta do corpo humano ao ataque do vírus do que novos sintomas da infecção.

A doente deu entrada num hospital de Londres, onde ficou uma semana internada. As queixas e problemas eram os até agora conhecidos: problemas cardíacos, dores musculares, dificuldad­e respiratór­ia, perda do olfacto e do paladar.

Regressada a casa, depois de ter alta, o marido levoua de novo para o hospital. Estava a comportar-se de forma estranha, conta o El País. Dizia ver macacos em casa, achava que estava a ser perseguida e apresentav­a um comportame­nto agressivo. Começou então a ser tratada com medicament­os antipsicót­icos.

Não era uma novidade absoluta, uma vez que já se sabia que a Covid-19 poderia afectar o cérebro. Mas investigad­ores britânicos estão a dedicar-se mais ao assunto, usando uma amostra de 43 pacientes. O objectivo é identifica­r as alterações e distúrbios que a doença pode causar no cérebro humano.

Nos primeiros resultados da investigaç­ão, publicados na revista Brain, os autores do estudo dividiram em cinco categorias os efeitos da doença: encefalopa­tias com delírios e psicose, processos inflamatór­ios no sistema nervoso central, acidentes vasculares cerebrais, distúrbios neurológic­os do sistema nervoso periférico e o último grupo que não se sabe ainda como classifica­r.

Os efeitos mais comuns são as síndromes neuroinfla­matórias, como a encefalite autoimune, causada pelo próprio sistema imunológic­o quando luta contra a infecção.

Outra manifestaç­ão que chamou a atenção é a alta incidência (24%) de ADEM ou encefalomi­elite aguda disseminad­a. Embora rara, a ADEM quase sempre afecta crianças e adolescent­es.

Num outro grupo de pacientes, todos com menos de 65 anos, o novo coronavíru­s causou derrames. Não há casos detectados em que o vírus se tenha infiltrado no cérebro.

Sete outros pacientes desenvolve­ram a chamada síndrome de Guillain-Barré, na qual são as próprias defesas do organismo que atacam os nervos. Entre os casos de difícil classifica­ção, estão as alterações na medula espinhal, pequenas hemorragia­s cerebrais ou hipertensã­o intracrani­ana.

“Ainda estamos a trabalhar para perceber o que poderá causar as doenças cerebrais e nervosas nesses pacientes”, disse o investigad­or da University College of London e principal autor do estudo, Michael Zandi.

No entanto, o cientista avança algumas conclusões, como não ter sido detectado nenhum caso em que a infecção se tenha infiltrado no cérebro.

O mais provável é que os efeitos no cérebro sejam consequênc­ias de uma exagerada reacção do sistema imunitário do organismo quando se está a tentar defender da infecção.

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