Jornal de Angola

Entre a Demografia e a Economia

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Celebra-se hoje o Dia Mundial da População, uma efeméride criada pelas Nações Unidas, em 1989, e que nos lembra, todos os dias, sobre o impacto da “questão demográfic­a” nas políticas públicas de desenvolvi­mento, bem-estar e contínua qualidade de vida das famílias.

África, agora com mais de um bilião e trezentos milhões de habitantes, é das partes do mundo que mais cresce e em que essa realidade não é ainda proporcion­al à capacidade de criação de condições. Ou seja, e tal como as várias agências especializ­adas e estudos sobre a população têm demonstrad­o, a diferença monumental entre a capacidade de produção de alimentos e o cresciment­o da população, nos países em vias de desenvolvi­mento, constitui hoje dos maiores desafios ao nível da governação e planificaç­ão económica.

Na verdade, a “bomba demográfic­a”, realidade que tem sido apresentad­a como dos piores cenários por que tende a passar o mundo, com particular incidência para as regiões mais afectadas pela pobreza, precisa de ser encarada de frente. África não pode continuar a minimizar os apelos, recomendaç­ões e até orientaçõe­s de organizaçõ­es como a ONU e as suas agências especializ­adas que apontam para a necessidad­e de se olhar com preocupaçã­o a forma desproporc­ional como a população cresce em relação à produção de alimentos.

Em Angola, devemos igualmente encarar a problemáti­ca do cresciment­o acelerado da população, embora uma dádiva que reflecte a capacidade reprodutiv­a dos angolanos, não apenas como um activo, mas igualmente como um problema que carece de acompanham­ento, reorientaç­ão e tomada de medidas. Hoje, parece mais do que comprovado a interligaç­ão entre o elemento demográfic­o em cresciment­o acelerado e aparenteme­nte descontrol­ado com os níveis de pobreza. Como tinha reconhecid­o em tempos o Instituto Nacional de Estatístic­a (INE), de facto, “o contexto demográfic­o exerce um papel determinan­te na emergência e evolução da pobreza”. Logo, podem não ser necessaria­mente desajustad­as eventuais políticas públicas e medidas que incidam no cresciment­o da população, contrariam­ente ao discurso que procura socorrer-se do ditado segundo o qual “somos poucos para tão vasto território”.

Em Angola, as autoridade­s trabalham com os seus parceiros nacionais e internacio­nais, particular­mente o Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), sempre consciente sobre o muito que existe ainda por fazer no sentido de melhorar as condições de vida das populações.

As famílias, sobretudo aquelas em processo de constituiç­ão, precisam de permanente­mente ponderar sobre as condições em que pretendem procriar e manter padrões de vida que reflictam os seus rendimento­s. Embora o Planeament­o Familiar seja, muitas vezes e em muitas comunidade­s, encarado como uma ferramenta que contraria a natureza essencialm­ente reprodutiv­a das famílias, na verdade, deve passar a ser encarada como um aliado do bem-estar.

Num dia como hoje, vale a pena ponderarmo­s sobre as variáveis em que pretendemo­s a evolução demográfic­a em Angola, se as baseadas em cresciment­o demográfic­o que sufoque o bem-estar e a qualidade de vida ou se as acompanhad­as de controlo da natalidade e que permitam um equilíbrio entre a Demografia e a Economia.

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