Costume vs lei
Desde Março que vivemos uma situação de excepção a todos os níveis, razão pela qual não vai ser exagero dizer que determinados costumes estão a ser severamente “desafiados” por imposições legais da conjuntura. As recomendações para que as famílias observem as leis e regulamentos, quando se trata de grandes ajuntamentos, estão a ser cumpridas, mas com muitas reticências. E justifica-se na medida em que as pessoas nunca estiveram preparadas para viver essa situação, a todos os títulos inédita. Em todo o caso, como cidadãos devemos apenas cumprir com o que as autoridades impõem, dentro dos limites que a lei determina, porque, como se sabe, de outro modo, seria o caos completo, se cada um fizesse o que bem entendesse. Há dias, fui a um funeral num dos cemitérios de Luanda em que assisti a cenas caricatas de familiares que, mesmo sendo impedidos pelo “numerus clausus” imposto pelas autoridades para a assistência de funerais, pretendiam “furar” a cerca policial junto do portão para que e somente os familiares entrassem. Atentos e fazendo um trabalho exemplar, os agentes da Polícia contabilizavam apenas o número previsto pelo Decreto Presidencial e mandavam recuar os excedentários.
Em minha opinião e embora nem sempre seja fácil para muitas famílias, em momentos de óbito, era bom que houvesse organização a partir de casa, especificando o número e que pessoas exactamente deverão acompanhar o cortejo fúnebre até destino final do ente falecido. É verdade que muitos não se importam de chegar apenas até ao cemitério mesmo que não tenham que entrar, simplesmente para acompanhar o cortejo. Mas essas pessoas acabam por se aglomerar junto do portão atrapalhando depois o trabalho dos agentes que enfrentam dificuldades para separar cada grupo de dez pessoas, atendendo ao ajuntamento que se verifica no portão. A partir de casa ou eventualmente no cemitério as famílias deviam organizar-se já no sentido de impedir que o contingente que não faz parte dos “dez permitidos” se aglomere junto do portão. Naquele dia, havia uma enchente considerável de pessoas e funerais, razão pela qual começou-se a verificar confusão junto do portão. Muitos, mesmo sem estarem autorizados, queriam entrar para o interior do cemitério, dando a entender que desconheciam por completo as imposições das medidas excepcionais decretadas pelo Executivo. Para terminar e se me for permitido lanço um apelo às nossas famílias no sentido de respeitarem as leis e as autoridades, independentemente da actual situação menos boa por que passamos todos, sobretudo nos casos de falecimento de ente querido. ANTÓNIO NDAMBA Palanca