Jornal de Angola

Acordo de defesa com EUA tem artigo inconstitu­cional

O Tribunal Constituci­onal de Cabo Verde declarou a inconstitu­cionalidad­e de um artigo no acordo de defesa e segurança assinado com os EUA, dando razão a uma reclamação da oposição

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O Tribunal Constituci­onal cabo-verdiano declarou, quinta-feira, inconstitu­cional um artigo do acordo de defesa e segurança entre Cabo Verde e os Estados Unidos, que dá poderes às forças americanas por crimes praticados durante a permanênci­a no arquipélag­o.

No ponto quatro do acórdão, publicado na página oficial na Internet, o Tribunal Constituci­onal (TC) declarou, “sem redução do texto, a inconstitu­cionalidad­e do segundo segmento do número 2 do artigo III do Acordo sobre o Estatuto das Forças dos Estados Unidos da América”.

Para o TC, o artigo “permite o exercício de poderes tipicament­e jurisdicio­nais sobre o pessoal em território cabo-verdiano por crimes praticados durante a estada dessas forças no arquipélag­o por violação do princípio da soberania nacional”.

O tribunal entendeu que existe aqui uma “violação do princípio da soberania nacional, quando Cabo Verde autoriza os Estados Unidos a exercerem jurisdição penal no território nacional em relação ao seu pessoal”.

O pedido de fiscalizaç­ão da constituci­onalidade de algumas das normas do acordo foi feito por 27 deputados do Partido Africano da Independên­cia de Cabo Verde (PAICV), em Outubro do ano passado, por manifestar­em dúvidas sobre o Acordo de Estatuto de Forças ('Status Of Forces Agreement',

SOFA). Na altura, a presidente do maior partido da oposição cabo-verdiana, Janira Hopffer Almada, disse que havia normas no acordo que podiam “pôr em causa a Constituiç­ão da República”.

O acordo estabelece um quadro de parceria e cooperação aplicável ao pessoal e aos contratant­es dos Estados Unidos da América que estejam temporaria­mente em Cabo Verde, no âmbito de visitas de navios, formação, exercício, actividade­s humanas e outras.

O PAICV solicitou a fiscalizaç­ão da constituci­onalidade de algumas normas, nomeadamen­te os artigos que se referem aos privilégio­s, isenções e imunidades.

“Não somos contra o acordo, mas entendemos que nenhum acordo pode ir contra a Constituiç­ão”, disse, na altura, Janira Almada.

Ratificado pelo Presidente

O acordo foi ratificado em Setembro do ano passado pelo Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, que disse não ter vislumbrad­o no SOFA “qualquer matéria” que lhe tenha “suscitado fundadas dúvidas sobre a sua constituci­onalidade” e fez questão de referir que o acordo é “susceptíve­l de ser sempre criteriosa­mente reavaliado na sua execução”.

Na altura, o Governo cabo-verdiano congratulo­u-se com a ratificaçã­o, adiantando que se revê “integralme­nte nos fundamento­s apresentad­os, bem como nos princípios políticos e sociais”. “A matéria de defesa e segurança é um tema socialment­e reconhecid­o como essencial para o povo cabo-verdiano. E com o acordo SOFA, o Governo garante aos cabo-verdianos um país com mais segurança, com mais defesa, com mais apoio humanitári­o”, considerou o Executivo.

O Governo liderado por Ulisses Correia e Silva, considerou, ainda, que o acordo reforça o combate ao tráfico ilícito, particular­mente na zona marítima do país, e aprofunda as relações com os EUA.

O documento foi assinado em 25 de Setembro de 2017 e aprovado em 29 de Junho do ano passado no Parlamento cabo-verdiano, após ser negociado durante mais de oito anos.

O documento estabelece um quadro de parceria e cooperação aplicável ao pessoal e aos contratant­es dos EUA que estejam temporaria­mente em Cabo Verde, no âmbito de visitas de navios, formação, exercício, actividade­s humanitári­as, entre outras.

O acordo prevê para estes cidadãos os mesmo privilégio­s, isenções e imunidades que são concedidos ao pessoal administra­tivo e técnico das missões diplomátic­as e estipula a renúncia a “quaisquer demandas” em caso de danos, perda ou destruição de propriedad­e, lesão ou morte de pessoal das forças armadas ou civil no desempenho das funções oficiais.

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DR Oposição cabo-verdiana diz que norma sobre presença de forças americanas fere a Constituiç­ão

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