Jornal de Angola

Orçamento Revisto mantém compromiss­o

Mestre em Finanças Rui Malaquias aponta, como aspectos cruciais do OGE Revisto, a manutenção do conceito de nação solvente e uma dimensão de cresciment­o, apesar do adiamento do processo de consolidaç­ão fiscal e a emergência de um assistenci­alismo público

- Cristóvão Neto

Um dos principais traços da Proposta de Revisão do Orçamento Geral do Estado de 2020 é a manutenção, no documento, da noção de Angola como nação solvente, um conceito que mede a capacidade dos países observarem compromiss­os soberanos como é a dívida.

Isso mesmo foi declarado pelo docente universitá­rio Rui Malaquias que, ao analisar para este jornal as variáveis da proposta de revisão apontou, como prova, o facto de, apesar de haver uma redução de 15,7 por cento face às receitas e despesas do OGE inicial, a alocação da receita para pagamento da dívida pública foi reduzida apenas em 4,7 por cento.

Rui Malaquias nota que, de 60,7 por cento da receita do OGE 2020, o volume alocado ao pagamento da dívida é de 56 por cento na Proposta de Revisão do OGE 2020, um valor que denota uma redução menor do que a do percentual das receitas e “mantém a determinaç­ão do Governo em honrar os compromiss­os com os seus credores”.

De acordo com o economista, a Proposta de Revisão representa, também, “um esforço visível” para projectar o cresciment­o, por elevar as despesas de capital em 9,33 por cento do total, em gastos que se destinam “ao reforço das infra-estruturas para suporte da produção nacional e desenvolvi­mento empresaria­l no território nacional”.

Adverte que não se pode falar, nesta fase, em vitalidade económica, mas num esforço de recuperaçã­o e inversão do quadro económico, pois, em fase de perda de cresciment­o, com poucos sinais de vitalidade, devese falar em subsistênc­ia”. Por isso é que o Estado mantém crescente a intenção de investir em despesas de capital e honrar os compromiss­os com os credores mesmo, neste momento difícil, explicou a fonte.

Adiar a consolidaç­ão fiscal

“Missão impossível”: é assim que, segundo Rui Malaquias, a revisão orçamental trata a questão da cobertura do défice, algo que não se coloca exclusivam­ente em relação a Angola, mas constitui a abordagem dos governos de todo o mundo, onde se espera uma recessão superior a 8,00 por cento este ano.

“As metas de défice nulo e a consolidaç­ão fiscal exemplar são compreensi­velmente entendidas como não alcançávei­s”, declarou.

Na Proposta de Revisão do OGE levada pelo Governo ao Parlamento, adiantou, “a consolidaç­ão fiscal é posta de parte devido ao aumento extraordin­ário da despesa pública, causado pelos esforços de contenção da propagação da pandemia da Covid-19, bem como à redução das receitas fiscais petrolífer­as e não petrolífer­as decorrente da desacelera­ção económica registada”.

Pelo que o excedente fiscal de 1,2 por cento do Produto Interno Bruto esperado no OGE 2020, dá lugar a um défice orçamental de 4,00 por cento no OGE 2020 Revisto, disse, insistindo em que a consolidaç­ão fiscal “deixa de existir, porque a despesa teve de crescer de forma extraordin­ária e a receita reduziu drasticame­nte”.

Assistenci­alismo público

Rui Malaquias prevê, à luz das variáveis propostas pela revisão, a emergência de um assistenci­alismo amparado pelo volume de despesas de 40 por cento do total dedicado pelo Orçamento ao sector social.

“O sector social absorve mais de 40 por cento das despesas totais, vindo largamente à frente de todos outros sectores, apesar de ter uma redução de 5,9 por cento relativame­nte ao OGE inicial, o que significa que, apesar do momento difícil, o Estado teve o cuidado de não deixar de afectar receitas ao Estado social mais do que aos outros sectores”, afirmou o docente universitá­rio ao falar sobre as expectativ­as do impacto da revisão orçamental sobre a economia nacional.

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VIGAS DA PURIFICAÇíO | EDIÇÕES NOVEMBRO Economista Rui Malaquias

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